Cem dias de Raquel: bem para fora, difícil para dentro

 

A eleição de 2022 trouxe, em Pernambuco, ao lado de grandes outras surpresas, como a surpreendente performance das mulheres, o fato da governadora Raquel Lyra ter conseguido manter a neutralidade política, em um país extremamente dividido. Na terra de Lula, onde ele é quase rei, ela deu uma de rainha. Sem brigar com a esquerda, que poderia tirar-lhe a coroa na carona do presidente que teve 66,93% dos votos no estado, e conservando uma distância calculada da direita radical, ela acabou com 58,70% dos votos contra os 41,30% da lulista Marília Arraes.

Com boa presença nas redes sociais, surpreendente “namoro” com algumas lideranças do PT, recebendo manifestantes na porta do Palácio como aconteceu dia 08 de março e com uma força surpreendente ao enfrentar as vaias, na presença de Lula, no Geraldão, ganhando, em compensação, uma defesa inesperada do grande líder do PT, a governadora chega aos 100 dias de mandato com a mesma avaliação positiva que Lula tem no Recife. Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, 63,2% dos recifenses aprovam sua administração. Lula tem 62,6%. Essa Raquel para fora do Palácio termina muito bem sua estréia no executivo.

Já a Raquel para dentro do aparelho de estado, dos relacionamentos com o Poder Legislativo e das necessárias respostas que os eleitores querem ter ainda precisa andar muito e rápido para não perder o protagonismo esperado. A demissão da noite para o dia de todos os cargos comissionados, um secretariado – com honrosas exceções – sem traquejo com a máquina pública estadual e a falta de uma base política sólida criaram problemas onde eles não precisavam existir. A Assembléia ficou independente e o Palácio ainda bate cabeça sobre que modelo adotar na mudança de relacionamento. Enquanto isso vão ficando para trás promessas que vão dar uma grande visibilidade ao Governo como o programa Mães de Pernambuco e outros mais. Ainda é cedo para avaliar mas as cobranças não vão demorar a chegar.

Sinal de fogo

Quando decidiu não colocar políticos em seu secretariado – a exceção é Daniel Coelho – a governadora Raquel Lyra, avaliam deputados estaduais de oposição e situação, perdeu uma grande oportunidade de ter na sua equipe o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho. Esse é apontado na Alepe como o maior erro que ela teria cometido nesse início de Governo. E a decisão esta semana do atual prefeito de Petrolina, Simão Durando, de ameaçar colocar a Compesa na Justiça e de Miguel postar no instagran uma mensagem perguntando qual pernambucano está satisfeito com a estatal, seriam um sinal de alerta.

STF com as mulheres

A decisão do STF de manter as punições a políticos eleitos com base em fraude nas cotas de gênero, com candidaturas laranjas de mulheres, significa que todos os vereadores já cassados pelo TRE de Pernambuco – são dezenas – não têm chance de reaver o mandato. Daqui para a frente vai ficar cada vez mais séria a situação de partidos que não cuidam de preparar mulheres para ingressar na política e nem dão sustentação financeira às mesmas. Dos maiores partidos só o PSDB destina 30% do Fundo partidário para a ala feminina.

Iza com Lula

A deputada federal pernambucana Iza Arruda (MDB) está na comitiva do presidente Lula na viagem à China. Em pouco mais de dois meses de mandato, Iza está de tal forma incluída na bancada feminina da Câmara Federal que não só tem conquistado preciosos momentos de fala no plenário – coisa que os novatos em geral não conseguem – como tem sido lembrada pela direção nacional do partido em missões especiais. Uma delas a de manter um bom relacionamento com as embaixadas.

Carrera com mandato garantido

O ministro Ricardo Lewandowski, às vésperas da aposentadoria, já deu seu parecer de relator sobre a tomada de posição da PGR favorável a mudanças no cálculo para preenchimento das vagas no Legislativo, com base nas sobras de votos. O ministro posicionou-se favorável à mudança mas remeteu sua aplicação para a eleição de 2024 quando a PGR defendia a aplicação imediata. Chegou-se a aventar nacionalmente a possibilidade do deputado federal Felipes Carreras perder o mandato por conta disso, cedendo sua vaga para o ex-deputado Ricardo Teobaldo. A posição do relator deve ser acompanhada pela corte.

Pergunta que não quer calar: ainda há chance de Raquel e Miguel reatarem a aliança que fizeram no segundo turno da eleição de governador?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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