Casos recentes mostram que mulheres em pontos-chave fazem avançar a pauta feminina

 

O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco tornou-se destaque, inclusive a nível nacional, na cassação de vereadores eleitos através de fraude na cota de gênero. Tradicionalmente formado por homens, muitos deles sensíveis às pautas femininas mas não com o mesmo arrojo das mulheres, os processos só avançaram mesmo quando duas desembargadoras substitutas, Mariana Vargas e Iasmina Rocha, assumiram seus postos durante dois anos e fizeram questão de abraçar a causa. Bancadas inteiras de partidos em municípios interioranas foram cassadas, dando lugar aos suplentes. Na Região Metropolitana as fraudes foram menores, por causa da fiscalização mais presente, mas, mesmo assim, quase todas as câmaras de vereadores sofreram baixas nesse período.

Recentemente outro caso que ganhou destaque no estado e ainda está em andamento, expressou o arrojo das mulheres na elucidação dos fatos. Trata-se dos crimes de importunação sexual de que é acusado o padre Airton Freire, de Arcoverde, considerado por muita gente como “um santo”. A delegada especial Andreza Gregório(foto) assumiu o caso e há mais de cinco meses ouve testemunhas e o sacerdote acusado, tendo chegado a nada menos que cinco vítimas e 50 testemunhas. Além da postura exemplar na guarda do sigilo do inquérito, não se intimidou diante dos adeptos do sacerdote, irritados com a investigação. Preso preventivamente o padre disse em uma conversa com a delegada, ouvida por pessoas presentes – “eu confio de Deus”- e ela respondeu :“E eu Just” (justiça). Recentemente, Andreza recebeu o reforço de quatro delegadas pois, devido ao número de vítimas, os inquéritos foram multiplicados e agora são cinco.

Líder do Comitê de combate à Violência à Mulher, do Grupo Mulheres do Brasil- Pe, a delegada Cláudia Molina diz que não duvida da possibilidade de que um delegado homem pudesse ter êxito igual ao de Andreza mas destaca que “poucas pessoas teriam a sensibilidade que ela teve ao tocar um caso tão emblemático. A primeira vítima, Silvia Tavares, foi desdenhada por muita gente que tentou descredenciá-la, argumentando que ela só denunciou depois quando não havia como contar com a perícia sexológica. Dizia-se que poderia estar mentindo. As coisas poderiam ter ficado por aí. Andreza, porém, mesmo com essas dificuldades, deu o benefício da dúvida à vítima e foi à luta em busca de provas. A intuição feminina da delegada foi essencial e salvou vidas” – afirma Cláudia.

Professores recuam

Embora enfrentando a possibilidade de uma greve dos professores no primeiro ano de Governo, a governadora Raquel Lyra não se deu por vencida. Em primeiro lugar, conseguiu contornar uma rebeldia da Assembleia que, acossada pelas galerias, ameaçava fazer uma emenda ao projeto do Poder Executivo, concedendo aumento geral aos professores que ela seria obrigada a vetar, por falta de recursos, desgastando-se mais ainda. E, em segundo lugar, obteve êxito ao solicitar ao TJ uma antecipação de tutela que obrigou o Sindicato da classe a recuar e desistir da greve.

Caso Marielle anda

“Não existe crime perfeito, existe crime mal apurado, mal investigado ou propositadamente investigado para dar em nada, o que era claramente o caso do assassinato de Marielle” – disse esta segunda-feira a jornalista Eliane Cantanhede, da Globonews, saudando o avanço das investigações sobre o caso no atual Governo com a delação premiada de um dos envolvidos. Não deixou, porém, de ser inusitado o problema estar sendo resolvido pelo instrumento da delação que o PT condenou tanto no tempo da Lava Jato.

Pergunta que não quer calar: quando Bolsonaro e Lula vão parar com as agressões mútuas que os favorecem mas prejudicam o país?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

Compartilhar