Atacado nas entrelinhas, Bolsonaro foi sujeito oculto no ato de 8 de janeiro em Brasília

 

No dia 8 de janeiro de 2023, quando radicais de direita invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, o ex- presidente Jair Bolsonaro estava a milhares de quilômetros, gozando férias na Flórida, nos Estados Unidos. Mesmo assim até hoje é acusado de ter criado o clima para a tentativa de golpe de estado que acabou abortada pela falta de adesão dos quartéis. Esta segunda-feira, um ano depois, o ex-presidente não foi citado nominalmente pelos oradores do ato em defesa da democracia realizado em Brasília mas, desde o presidente do STF, Luís Roberto Barroso ao presidente Lula, passando pelo ministro Alexandre de Moraes, os principais oradores o responsabilizaram indiretamente pelo que houve e se comprometeram em punir os culpados, entre os quais ele pode vir a ser enquadrado.

O que isto simboliza? Analistas e jornalistas que se pronunciaram ontem sobre o evento brasiliense concluíram, em sua maioria, que, apesar de ter sido importante marcar a data com um evento institucional, os ataques ao ex-presidente, a ausência dos governadores do Sudeste – Romeu Zema chegou a ser citado mas não apareceu no local – e do presidente da Câmara, Arthur Lira, demonstram que a polarização da política nacional continua a balizar a vida do país, apesar da torcida para que o radicalismo dos dois lados se dissipe e normalidade se imponha, como é desejável no regime democrático, tão citado ontem.

Uma pergunta, porém, se impõe: será que o presidente teria chamado Bolsonaro– mesmo sem citar seu nome – de “ex-presidente golpista” e o presidente do STF soltaria um “não há mais espaço para quartelada”, caso os governadores bolsonaristas tivessem ido a Brasília? A pergunta vai ficar sem resposta mas só demonstra que, se a direita não compareceu pode ter sido muito mais por receio de agressões verbais, do que por desprezo pela democracia, como, também nas entrelinhas, se tentou passar para a população. Agora é esperar que o tempo se encarregue disso.

Povo na sua

De uma forma ou de outra e, ao arrepio dos radicais dos dois lados, o povo permaneceu como estava: trabalhando. Os atos convocados nos estados ou não foram realizados ou tiveram comparecimento pífio. Em Brasília, na imensidão da Praça dos Três Poderes, só se viu alguns gatos pingados, muito mais curiosos do que militantes, pois não estavam vestidos a caráter, como acontece nessas ocasiões, onde as pessoas costumam usar camisetas e carregar bandeiras. O povo não deu bolas, não porque seja contra a democracia – uma pesquisa divulgada no domingo demonstrou que 89% dos brasileiros reprovaram a depredação de um ano atrás – mas porque entre lutar pelo pão do dia-a-dia e ouvir discursos políticos preferiu ficar na sua.

Pronunciamento de Raquel

Embora não tenha falado no ato – a representante dos governadores foi a petista Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte – a governadora Raquel Lyra esteve presente, como estava previsto, e foi uma das mais requisitadas pelos jornalistas. “Fazemos parte de um Estado Democrático de Direito. Os valores democráticos são essenciais na nossa Constituição Federal. Estivemos presentes no ato de 9 de janeiro do ano passado em solidariedade, em respeito às instituições e reafirmando o nosso compromisso com a democracia. E hoje, mais uma vez, estamos nos colocando pois, quando a democracia falta, ela não falta só para um partido político, falta para o nosso povo”- disse ela em entrevista.

Por que Lyra faltou

A ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira, explicada como questão pessoal a ser resolvida em sua família – seu pai está muito doente – não colou. Nos bastidores brasilienses a interpretação era outra. O deputado temeria que indo ao ato, no momento em que os bolsonaristas não apareceram, poderia perder o controle da Câmara, onde é grande o número de deputados do agronegócio e da direita. Segundo a CNN, ele teria ligado para o presidente Lula no dia anterior e os dois devem ter analisado o assunto, levando o alagoano a permanecer em Maceió. Lula precisa de Lira para conseguir aprovar os muitos projetos pendentes no Congresso.

Lula foi o grande beneficiado dos atos deste 8 de janeiro ou perdeu oportunidade de fazer discurso de estadista e ganhar o apoio da Nação?

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