Frente internacional pela democracia – Por Ricardo Leitão

 

Até hoje, dia 9 de junho, 379 milhões de eleitores da União Europeia escolherão os novos 720 integrantes do Parlamento Europeu, que por sua vez vão eleger a nova Comissão Europeia, braço executivo do bloco.

As pesquisas indicam que os conservadores passarão a controlar o Parlamento e a Comissão Executiva, replicando o controle da direita nos governos da Itália, Polônia, Hungria e Holanda. Dos governos da Finlândia, Suécia e Grécia a direita também  participa e se acerca do poder em Portugal, na Espanha, na Alemanha e, fora da Europa, no Canadá e na Nova Zelândia.
   
Na Argentina, um presidente que se diz “El Loco” promove uma crise econômica e social sem precedentes, que repercute na região. Nos Estados Unidos, é real a possibilidade da vitória de Donald Trump na eleição presidencial, em novembro, passando a assumir a liderança internacional da direita.
  
A direita bolsonarista avança com o mesmo ímpeto no Brasil? Nas últimas semanas, aliada aos conservadores do Centrão, ela impôs uma sucessão de derrotas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Congresso. Foram derrubados quatro vetos presidenciais a projetos de lei de deputados federais e senadores, além de o governo ter sido forçado a fechar alianças que, de princípio, contrariavam suas políticas.

Em média, as orientações do governo foram apoiadas por 100 deputados federais e 20 senadores e rejeitadas por quase 300 deputados e 50 senadores, para alegria dos bolsonaristas. O desastre foi ainda maior porque votaram contra o presidente Lula parlamentares do União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos, partidos que, juntos, controlam onze ministérios. Ou seja, a chamada “base ampliada” de Lula no Congresso se fraturou.

As vitórias da direita, aliada aos conservadores e aos bolsonaristas, levaram o Palácio do Planalto a reagir, embora tardiamente. Mais uma vez, Lula afirmou que participaria pessoalmente dos entendimentos com os parlamentares. Tal função caberia ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, totalmente desconsiderado pelas lideranças do Congresso, a ponto de ser tratado como “desafeto incompetente” por Artur Lira, o poderoso presidente da Câmara dos Deputados.

A situação é um bom termômetro da gravidade com que evolui a crise política. Ambíguo, Lira é uma ameaça permanente na trincheira da direita. Estão em suas mãos, por exemplo, as decisões de acelerar a tramitação de dois projetos de lei com potencial exclusivo, apoiados pelo bolsonarismo. O primeiro concede anistia aos golpistas do 8 de janeiro e o segundo pode levar à anulação de delações premiadas, quando o delator estiver preso. Com base nesse projeto, poderia ser anulada a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, cuja delação é essencial nos processos criminais contra o ex-presidente.

Derramado o leite até a última gota, agora é correr contra o calendário. As eleições municipais de outubro – etapa preparatória para a presidencial de 2026 – estão a menos de seis meses. Candidatos a prefeito e deputados e senadores que os apoiam tendem a se afastar de candidatos à Presidência da República que não demonstrem efetiva chance de vitória. Não é o caso, por enquanto, de Lula, que mantém nas pesquisas uma intenção de votos de 40%, se candidato à reeleição. No entanto, as mesmas pesquisas registram que o candidato presidencial apoiado por Bolsonaro, enfrentando Lula, teria na largada os mesmos 40% de votos.

Por decorrência de sentença judicial, Bolsonaro está inelegível até 2030; Lula, por sua vez, ainda não decidiu se buscará o quarto mandato. Contudo, os dois, candidatos ou não, serão ferrenhos adversários em 2026, representando cada um forças antagônicas no Brasil e no mundo. O ex-presidente, à frente de um polo de direita, cada vez mais radicalizado, e Lula encabeçando um polo de esquerda, momentaneamente enfraquecido como resultado  dos novos contextos internacionais.
 
A eleição de Javier Milei, na Argentina, foi uma inequívoca vitória da direita. Outros 56 países tiveram ou terão pleitos eleitorais neste ano. Estão na mira dos extremistas da direita, que não cessam de se articular: no fim de abril passado, se reuniram na Hungria (Milei estava lá), para o que chamaram de “alinhamento estratégico”. Uma maioria conservadora no Parlamento Europeu lhes abrirá novos caminhos. A resposta da esquerda terá de ser rápida e pode se apresentar na formação de uma frente internacional, em defesa da democracia ameaçada.

Lula tem história e peso político para ser um de seus líderes e articuladores. Mas antes é preciso despolarizar o Brasil, aprofundar os compromissos sociais com os mais pobres e vencer as eleições de outubro. Impossível? Tudo se torna possível quando a História e o povo ensinam como fazer. É dever de todo democrata tentar. Resistimos e vencemos a ditadura. Vencer pela segunda vez o bolsonarismo, pela força das urnas, é a gigantesca luta de agora.

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