Financiar a saúde é investir no futuro do Brasil – Por Ludhmila Hajjar*

 

Chegamos em 2023 e temos 203 milhões de brasileiros que têm direito à saúde integral e de qualidade. Temos financiamento adequado? A resposta é não. Infelizmente, apesar de ser uma prioridade de uma nação, a saúde do Brasil vem sendo maltratada há muitos anos.

Hoje, nossa expectativa de vida é, em média, 77 anos e as doenças crônicas como as cardiovasculares e o câncer são as mais prevalentes e as principais causas de mortalidade, e isso resulta em um custo muito maior do que o de 10 anos atrás.

Aproximadamente 150 milhões de pessoas hoje dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), e em torno de 50 milhões de brasileiros têm acesso à saúde suplementar. Do Produto Interno Brasileiro (PIB), 9,6% são investidos em saúde, mas chama a atenção que, do total, apenas 3,8% são referentes ao SUS, o que é insuficiente, e abaixo da média mundial. Nos últimos anos, desde a PEC do teto dos gastos, anualmente, o orçamento para a saúde publica girou em torno de R$ 150 bilhões por ano, sem levar em consideração a evolução da medicina e a transição epidemiológica e demográfica que modificaram as prioridades em saúde e elevaram seus custos.

Esperamos ansiosos pelo fim do teto dos gastos, com a expectativa de aumentar o orçamento para a saúde em pelo menos R$ 50 bilhões por ano. Mas, infelizmente, já se adiantam discussões em torno de manter o valor como está adicionando pequenas fatias complementares na medida da disponibilidade. Que país é este? Se não conseguirmos mudar esse cenário, vamos continuar sendo ineficientes, e incapazes de entregar um tratamento digno à nossa população, e a iniquidade continuará imperando, com tratamentos distintos a pessoas que deveriam ser consideradas iguais. Devemos buscar, pelo menos, um orçamento anual de R$ 230 bilhões para a saúde.

Um financiamento adequado significa investir no futuro. Ele permite melhor acesso a tratamentos, medicamentos e tecnologias médicas, o que pode resultar em uma melhor qualidade de vida para a população. Também, campanhas de prevenção, programas de vacinação e iniciativas de promoção da saúde podem ser implementadas com mais eficácia, reduzindo a incidência de muitas doenças. Uma população saudável é mais produtiva. Quando as pessoas estão saudáveis, faltam menos ao trabalho, são mais eficientes e contribuem mais para a economia.

Investir em prevenção e promoção da saúde pode levar a uma redução nos gastos futuros. Por exemplo, campanhas de vacinação podem evitar surtos de doenças que seriam muito mais caros para tratar posteriormente. Países com sistemas de saúde estruturado estão em melhor posição para responder a crises de saúde, como pandemias ou desastres naturais. Um sistema de saúde bem financiado pode oferecer salários e condições de trabalho competitivas, atraindo e retendo profissionais de saúde qualificados. Em resumo, um financiamento adequado para a saúde é um investimento no bem-estar da população, na economia e no futuro de um país.

Financiar a saúde não é simplesmente alocar recursos, é construir o alicerce de uma nação mais forte e resiliente. Em um mundo onde os desafios à saúde pública se intensificam, negligenciar os investimentos nessa área não é apenas um descuido, mas uma decisão que pode custar o futuro de uma sociedade. Cada centavo direcionado à saúde reflete não apenas em uma população mais saudável, mas também em economias mais produtivas, comunidades mais unidas e na garantia de um desenvolvimento sustentável e equitativo para todos.

*Ludhmila Hajjar é médica cardiologista brasileira. Texto compartilhado de O Globo. Foto: Divulgação

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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