Figueira que acolhe – Por Silvio Amorim*

 

O Professor Fernando Figueira, fundador do Instituto de Medicina Infantil de Pernambuco – IMIP, em 1960, não tem seu sobrenome por acaso. Sua árvore protege e seu fruto alimenta. Recifense de 1919, formou-se médico, dedicando-se à criança, à gestante e à área médico-social voltada à assistência aos mais carentes. Catedrático em Pediatria na Universidade Federal de Pernambuco e pesquisador, efetivamente ensinou, fez pesquisa e praticou a extensão universitária de forma ousada, fazendo assistência médico-social.

O resultado do seu dedicado trabalho no IMIP é sentido hoje, seja na diminuição da mortalidade infantil, na permanente recomendação do aleitamento materno, nas campanhas de vacinação ou em milhões de ações médicas que salvaram vidas, recuperaram e corrigiram deficiências físicas, diminuíram dores do corpo e aliviaram almas.

De boa semente se fez o Antônio, que regou a “figueira” do IMIP, uma das instituições de saúde mais importantes do Brasil, agora denominado Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira. Ampliando sua “copa”, Antônio Figueira fez renascer o Hospital D. Pedro II, agonizante há anos, uma ferida aberta que, além da falta que fazia, nos deixava cabisbaixos, menores. Quando estava na Câmara do Recife, sugeri que ali fosse feito um hospital de passagem, ou seja, um hospital para pacientes em fase de recuperação, não exigindo equipamentos sofisticados. Mas foi feito melhor.

Foi recuperado em uma histórica e exemplar mobilização de todos os setores da sociedade pernambucana. O Hospital Pedro II foi reinaugurado nas comemorações dos seus 150 anos de fundação na presença do Príncipe Dom João de Orléans e Bragança, tetraneto do Imperador Pedro II, que o inaugurara, e deu nome ao Hospital.

A imortalidade não se faz no bronze, neste há, no máximo, um registro. Antonio Figueira partiu recentemente e a sua imortalidade acontece com ações humanas que transcendem o tempo, e que se perpetuam quando se multiplicam. Que sirvam de exemplo, no serviço público, aos médicos e dentistas que chegam, os idealistas, espécie em extinção: além dos Figueiras, Enio Cantarelli, Amaury de Medeiros, Ullyses Pernambucano, Valdemar de Oliveira, Octavio de Freitas, Djair Brindeiro, Gumercindo Amorim, Júlio Oliveira, Francisco Montenegro, José Nivaldo, Bertoldo Kruse, Domingos Cruz, Antonio Pereira, Fernando Moraes, Genildo Lira, Reinaldo de Oliveira e os dentistas Edrizio Pinto, João Mesquita e Adolfo Cabral, entre outros exemplares profissionais.

Fui levado, certa vez, pelas mãos da querida amiga Myriam Yasbeck Asfóra, um anjo na Terra, agora no Céu, uma das melhores figuras humanas que conheci, para ouvir do Dr. Fernando Figueira, em permanente pregação a favor da causa da criança, motivo maior da sua vida, de forma incisiva : “Enquanto houver, em minha terra, uma criança ameaçada de perder o que ela tem de mais sagrado – a sua própria vida -, haveis de encontrar em mim um homem torturado”. Disse ainda: “Uma certeza em minha vida tão cheia de dúvidas e inquietações: a de que a força do mundo está nas crianças”.
Quer um mundo melhor? Simples: Cuide bem das crianças.

*Silvio Amorim é advogado, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano-IAHGP

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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