“Faz muito mal gritar e ninguém ouvir”

 

Paulo André Leitão*

“Ela disse” é uma sinfonia de mulheres: direção, roteiro, protagonistas, temática. O filme baseia-se no livro das repórteres Megan Twohey e Jodi Kantor, do The New York Times, sobre as denúncias de violência sexual contra o produtor Harvey Weinstein, de Hollywood, que viraram reportagem da dupla, levaram o criminoso à prisão e estimularam o crescimento do #MeToo.

É tudo verdade, infelizmente.

Megan (Carey Mulligan, ótima) e Jodi (Zoe Kazan, comovente) sofrem ataques de hackers, ameaças e perseguições, mas, apoiadas pela retaguarda editorial do jornal (dois homens e uma mulher), não perdem o prumo e terminam por fazer claro relato dos fatos.

O filme tem o ritmo do trabalho das duas e, mesmo sem uma única cena explícita de violência sexual, traduz a sordidez e a brutalidade dos atos de Weinstein. A sequência com a imagem dos corredores do hotel e a voz em off de uma vítima é de doer, tão eloquente é.

Para quem, como eu, gosta de jornalismo e especialmente da velha e boa reportagem, “Ela disse” já seria suficiente pra me levar ao escurinho do cinema. O filme oferece muito mais: uma história em que a força e a tenacidade de mulheres, tanto as vítimas quanto as jornalistas, ao enfrentarem e derrotar um homem poderoso, amplificam e fazem ecoar a voz de milhões de outras no mundo. Ela (uma das personagens) disse: “Faz muito mal gritar e ninguém ouvir”.

*Paulo André Leitão é jornalista.

Texto colaboração /Blogdellas.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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