Opinião

Entenda o que é alienação eleitoral e por que seus efeitos são imprevisíveis nas pesquisas de opinião

Apesar de mais de 90% dos entrevistados em levantamentos dizerem que vão votar, soma de nulos, brancos e abstenções mostra realidade diferente e com efeitos diretos nos resultados –

Por Antônio Lavareda

Pesquisa eleitoral capta atitudes e intenções de voto. Só as de “boca de urna”, por definição, medem comportamento. Entre uma coisa e outra vários fatores se fazem presentes, com maior ou menor intensidade dependendo da natureza da eleição. Levando, não raras vezes, a que mesmo os levantamentos das vésperas do pleito se distanciem dos números oficiais. Por isso, prognósticos de resultados, como fazem FiveThirtyEight, Politico, e no Brasil o Oddspointer, são uma atividade diferente daquela dos institutos de pesquisa.

A abstenção não é antecipada pelas pesquisas por um motivo simples: o voto no Brasil é obrigatório. Ou seja, além de socialmente reprovada, ela confronta a lei. Resultado, mais de 90% dos entrevistados dizem que irão comparecer, e na questão estimulada dos levantamentos os que pretendiam não votar em nenhum candidato, ou optar pelo branco ou nulo, na última medição somaram apenas 7% no Datafolha, e 5% no IPESPE. O que existe aqui, como em qualquer país, porém, tem expressão reduzida. Incapaz de explicar os 30 milhões de ausentes.

A abstenção não é antecipada pelas pesquisas por um motivo simples: o voto no Brasil é obrigatório. Ou seja, além de socialmente reprovada, ela confronta a lei. Resultado, mais de 90% dos entrevistados dizem que irão comparecer, e na questão estimulada dos levantamentos os que pretendiam não votar em nenhum candidato, ou optar pelo branco ou nulo, na última medição somaram apenas 7% no Datafolha, e 5% no IPESPE.

Captação difícil

Qual é a chance de termos em outubro 93% ou 95% de votos válidos sobre o total do eleitorado? Nenhuma. Um significativo percentual de eleitores declara na questão estimulada “intenções de voto” que não se materializarão. Há quem diga que a alienação não faz muita diferença porque se abateria por igual sobre todas as classes e todos os candidatos. Errado. A abstenção costuma ser maior na base da pirâmide social, conforme apontam estudos acadêmicos e como é fácil constatar nas tabulações do recall do voto passado. Então, ela afeta diferenciadamente candidatos cujo apoio esteja mais concentrado nos segmentos de menor renda e escolaridade.

Nas eleições municipais da pandemia, em 2020, com o salto de sete pontos da abstenção, a alienação foi recorde (31%). Agora, numa disputa polarizada, a tendência é que ela aumente ou diminua? Pelo grau de interesse elevado, captado por todas as pesquisas, é mais provável que diminua. Mas em circunstâncias semelhantes os movimentos não foram unívocos em outros contextos. Na última eleição norte-americana o comparecimento aumentou cinco pontos. Na França diminuiu três. Na Colômbia cresceu cinco. E no Chile avançou seis. O certo é que, qualquer que seja o número que tenhamos entre nós este ano, as pesquisas dificilmente conseguirão captá-lo.

Redação, com texto publicado em o Jornal O Globo (07.07.2022)-Foto: Jornal o Globo

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