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Enem 2023: Inscritos cresce após baixa nos últimos dois anos

Após uma série de polêmicas ao longo do governo Bolsonaro, o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior no país, tem sua primeira edição sob a nova gestão Lula, cercado de expectativas. Com baixa nas inscrições nos últimos dois anos, o exame foi divulgado nas redes sociais pelo presidente e pela primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, que se envolveram na campanha para que a prova tivesse adesão. Ainda assim, o aumento de meio milhão de inscritos ante 2022 não foi suficiente para fazer a edição chegar ao patamar de antes da pandemia.


Se em 2016 o exame registrou 8,6 milhões de jovens e adultos, este índice foi caindo e, em 2021, ano de Covid-19 em alta, o número já foi 64% menor. Com 3,1 milhões ao todo, a participação foi a pior desde 2005 — ano em que a edição teve pouco mais de 3 milhões de inscritos. Em 2023, o cenário mudou, mas pouco: com 3,9 milhões de concorrentes a uma vaga no banco da universidade, o desinteresse dos estudantes no Enem permanece um desafio.

Para o ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, a dificuldade em recuperar as antigas taxas de adesão evidencia que o país ainda não se desvencilhou do impacto da Covid-19 na educação brasileira. Paralelamente, Costa acredita que o desânimo dos jovens passapelas chances reduzidas do mercado e pelo desestímulo ao ensino superior.— É necessário resgatar a motivação do jovem de que tem direito, independentemente da classe social, de garantir uma vaga no ensino superior.

“Resgatar a motivação”

Segundo o ex-presidente do Inep, o desinteresse tem como pano de fundo a introdução precoce no mercado de trabalho informal, que acontece com jovens em situações de vulnerabilidade. Expert em direito educacional, José Roberto Covac lembra ainda que o novo governo tem pela frente outra grande questão que é reformular um programa de financiamento para os estudantes de baixa renda ingressarem no ensino superior. O modelo do atual Fies vive alta taxa de inadimplência. Esta semana, Lula anunciou um refinanciamento que abate a dívida e promete até 100% de desconto em juros acumulados. Pela regra, os estudos de estudantes pobres são financiados pelo governo em universidades particulares e só depois da formatura, quando começam a trabalhar, eles iniciam o pagamento da dívida. Porém, os empregos são escassos e esta lógica fica prejudicada. Segundo o governo federal, um contingente de 1,2 milhão de pessoas está inadimplente com o Fies deve R$ 54 bilhões .

Um quadro perverso que se agrava com a queda no financiamento na outra ponta. Dados do Inep mostram que o Fies fechou 2022 com 73 mil financiamentos . O número foi o terceiro pior desde 2010 e ficou atrás somente de 2020, com 53 mil contratos, e 2021, que teve 45 mil. Em 2014, no auge, o programa chegou a conceder 732 mil financiamentos.

Pelo Enem, os alunos que não pontuam para entrar em uma universidade pública podem ser beneficiados pelas bolsas do ProUni ou pelo financiamento do Fies.
— A baixa no Enem está vinculada à defasagem nas políticas de ingresso. Em 2014, o Enem teve recorde de inscrições porque houve uma enorme expansão do Fies. A redução na adesão está diretamente atrelada a isso. O Fies não é mais atrativo e precisa de uma mudança para que tenhamos mais alunos ingressando por ele — diz Covac.

Um outro desafio será garantir que o número de inscrições se reflita na adesão à prova, que registrou um dos maiores índices de abstenção na última edição — 32,4%. Essa foi a mais alta taxa de abstenção dos últimos seis anos, desconsiderando 2020, durante o Covid-19, quando 55,3% dos inscritos não participaram. Só em 2021, quando 2,2 milhões fizeram o exame, houve menos candidatos do que em 2022.

Com tanto a provar, esta edição, no entanto, já teve de lidar com um tropeço. Poucas semanas antes da sua aplicação , um erro da banca organizadora, o Cebraspe, fez com que cerca de 50 mil candidatos fossem alocados em escolas com distâncias acima de 30 km de suas casas. O Inep, então, anunciou uma reaplicação em 12 e 13 de dezembro para as pessoas afetadas. Essa foi a solução para a insatisfação dos estudantes que foram às redes sociais para criticar a distância . Segundo o instituto, os casos estão concentrados, majoritariamente, em grandes cidades, como Rio , São Paulo e Brasília.


De acordo com os organizadores , “caso as informações tenham sido declaradas corretamente” pelo candidato, o local de prova deve ficar, no máximo, a 30km da residência, quando o município de prova do participante for o mesmo que seu município de residência. A preocupação agora é acompanhar como será feita a reanálise de cada caso de forma que sejam feitos os ajustes com agilidade e clareza.

Apesar dos obstáculos, o atual presidente do Inep, Manuel Palácios, afirma que o acesso ao exame foi democratizado nos últimos anos. Mesmo com participação ainda abaixo da média, Palácios vê de forma positiva a ampliação do número de inscritos na edição de 2023 após dois anos de decréscimo. O
presidente reforça que a prova este ano será aplicada em 1.750 municípios e não acredita que o contratempo da última semana irá influenciar na adesão ao exame.

Redação com veículos / O Globo / Fotos/ Divulgação

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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