Há uma grande discussão em Pernambuco sobre se devemos ou não receber a usina nuclear projetada para Itacuruba. Qual a sua opinião?
*Carlos Mariz
No sertão de Pernambuco, na região de Itacuruba, Floresta e Belém do São Francisco existe a possiblidade da construção de uma central nuclear para produção de eletricidade: a Central Nuclear de Itacuruba que é uma usina termelétrica a urânio.
E inegável os grandes benefícios para a região, para Pernambuco , para o Nordeste e para o Brasil , se ela for incluída no programa nacional de construção de novas usinas nucleares do Ministério de Minas e Energia.
Poderá atingir até seis unidades e poderia alcançar investimentos de cerca de 30 bilhões de dólares, produção de energia superior a toda produção da CHESF, 10.000 trabalhadores durante aa fase de construção e até 5.000 funcionários, com altos salários, trabalhando na operação na Central que teria uma receita anual de 5,5 bilhões de dólares para uma vida útil de mais de 60 anos, podendo chegar a 80 ou mais anos com reformas! Viria para transformar toda uma região e seria uma grande oportunidade para os seus moradores pelas inúmeras possibilidades na área educacional, habitacional, de infraestruturas e de empregos.
O que muitos ainda precisam saber é a grande segurança dessas usinas, como já demostrado pelas 444 em operação no mundo, a maioria delas situadas em rios, com mais de 40 anos em operação.
A segurança das usinas nucleares é extremamente elevada pelo seu baixíssimo risco de acidentes e é comprovadamente mais segura que todas as fontes de energia elétrica. A revista Forbes publicou em julho de 2012 estudo sobre o assunto, mostrando que o numero de mortes por TWH produzido por usina nuclear é a menor entre todas as fontes de produção: 90 para as nucleares, contra 1400 para hidroelétrica, 150 para eólica, 440 para fotovoltaica, 100.000 para carvão, 4.000 para gás natural, 36.000 para petróleo e 24.000 para biomassa.
Apesar de muito se falar dos acidentes de Fukushima e Chernobyl, o que muitos ainda desconhecem, são os resultados dos estudos científicos realizados. A UNESCAR – Comitê Científico da Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica, publicou relatórios mostrando os reais resultados desses acidentes: Chernobyl 64 óbitos confirmados e sem evidências de impacto na saúde pública atribuídos a exposição a radiação 20 anos após o acidente; Fukushima sem baixas confirmadas.
Aqui no Brasil seria praticamente impossível haver acidentes dessa natureza: a tecnologia PWR (reator a agua pressurizada) que utiliza água como moderador e não grafite (que é inflamável) e que foi o principal responsável pelo ampliação do acidente de Chernobyl.
Na verdade “Quando energia nuclear é usada ao invés de energia fóssil vidas são salvas”: 1,8 milhões de vidas foram salvas até hoje pela substituição de energia fóssil pela nuclear, conforme declaração do climatologista James Hansen.
O que falta a Pernambuco para dar seguimento a tão importante projeto de desenvolvimento e de crescimento?
Foto: Divulgação
Carlos Mariz é presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear- ABEN.
*Teresa Leitão
O Brasil tem duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, localizadas no Rio de Janeiro. Juntas, geram 3% da energia consumida no país – a hidrelétrica de Itaipu, sozinha, sustenta 15% do país com energia. Uma terceira usina, a Angra 3, começou a ser construída há mais de 30 anos e a obra está abandonada.
Essas usinas são seguras? Em geral, sim, pois há tecnologia para dar uma segurança razoável. Mas é bom lembrar que essa mesma tecnologia já falhou três vezes pelo mundo: Three Mile Island (Estados Unidos, 1979); Chernobyl (1986); e Fukushima (Japão, 2011). Se o risco é considerado “baixo”, o potencial de dano é inversamente proporcional.
A probabilidade de acidente de grandes proporções não se resume à operação da usina em si. Tem desdobramentos: a conservação e destinação final dos rejeitos nucleares, que precisam ser armazenados por 300 anos – ou até bem mais. Estima-se que o combustível utilizado permanece extremamente radioativo por até 200 mil anos.
O país tem que cuidar com extremo zelo desse material por séculos. Imagine o risco de um material desse tipo por tanto tempo à mercê de boas ou más administrações. Trago todo esse cenário trágico para embasar o meu claro posicionamento contra o projeto de instalação de uma usina nuclear no município de Itacuruba, no sertão do nosso estado. O “Jardim Sertanejo”, como é chamado o município, tem cerca de 5 mil habitantes, e na região vivem 11 povos indígenas e 9 comunidades quilombolas.
O projeto da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, não é novo. Mas voltou a ser defendido agora pelo governo federal como alternativa para a crise energética. A região foi escolhida como o melhor ponto na América do Sul para a implantação de uma usina, e além do mais tem poucos habitantes e fica perto do rio São Francisco. O projeto não leva em conta os prejuízos da população e nem do meio ambiente. Mas nós devemos nos importar.
A união do povo pernambucano e brasileiro em defesa de Itacuruba é necessária. A cidade é pequena, poucos moradores, tem pouca influência. Sem apoio, será alvo fácil de quem não consegue enxergar o valor da vida. Aliás, por falar nisso, por trás da aparência tranquila Itacuruba tem uma taxa de suicídio quase seis vezes maior que a média nacional.
A vida por lá não é fácil. O povo já vem de uma desocupação anterior – as terras em que viviam deram lugar à barragem da usina hidrelétrica de Itaparica. Os mais antigos não vivem onde se criaram e onde pensavam que viveriam até a morte. O lugar é novo, a terra é mais seca, e muitos ainda não identificam como lar. O passado está debaixo d´água. Além disso tudo, agora tem o medo.
Quem conseguiu reconstruir sua vida teme perdê-la, ter que começar tudo de novo em um outro lugar, ter que deixar tudo para trás, ou ter que enfrentar os riscos por algo que não é essencial. Para eles, esse projeto de usina é apenas uma grande ameaça. E nós precisamos entender assim também, porque eles têm razão. O Departamento de Energia americano propôs que se deixe escrito junto ao local de armazenamento de rejeito de usinas nucleares a seguinte mensagem: “Este lugar não é um lugar de honra. Nada extremamente estimado é comemorado aqui. Nada de valor está aqui. O que está aqui é perigoso e nos causa repulsa. Esta mensagem é um aviso sobre perigo”. É esse o legado de uma usina nuclear. A gente não precisa disso, nem hoje, nem no futuro.
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Tereza Leitão é deputada estadual, líder do PT na Alepe.