E o Oscar vai para… as pessoas com deficiência (finalmente!)

*Daniele Rorato

 

Assistir a um mundo em transformação e vê-lo refletido no debate social e através da arte é um fio de esperança em tempos tão sombrios. O Oscar 2022 reforça o movimento social de inclusão das pessoas com deficiências e sugere que saiamos das nossas “bolhas” para uma percepção menos rasa sobre o conceito de empatia.

 

A indústria do cinema sempre foi adepta da prática do “cripface”, termo que define uma situação onde uma pessoa que não tem deficiência interpreta uma pessoa com deficiência. Meu Pé Esquerdo, O Piano, Perfume de Mulher e inúmeros ganhadores da estatueta são exemplo de uma estética que ficará no passado.

 

O filme “CODA -No Ritmo do Coração” chega para estrear a fase mais inclusiva da indústria cinematográfica , que há tempos já vem dando holofotes às duas importantes lutas : a antiracista e em defesa das pessoas LGBTQIA+, mas que ainda mostrava-se extremamente tímida, para não dizer indiferente, à luta anticapacitista e em defesa da inclusão das PcDs. O emocionante drama musical que conta a história da família de surdos com uma filha adolescente que é a única ouvinte da família nos arrebata de inúmeras formas.

 

O filme foi o grande vencedor do Oscar 2022: levou as estatuetas de melhor filme, ator coadjuvante para Troy Kotsur e melhor roteiro adaptado. A categoria Melhor Filme foi apresentada por Lady Gaga e Lisa Minelli, que agora é usuária de cadeira de roda, fato que nos sugere uma reflexão sobre o que muitos parecem ignorar acerca da acessibilidade: qualquer um de nós precisa ou precisará dela algum dia.

 

Por isso temos todos que batalhar pela acessibilidade e inclusão pois seremos idosos, teremos filhos ou podemos em algum momento uma condição de mobilidade reduzida, ou estarmos sensorialmente afetados por questões de neurodiversidade. E isto é assunto para várias reflexões que ainda são ignoradas em uma sociedade pouco inclusiva como a nossa, onde nem os poderes públicos nem a sociedade civil debatem a acessibilidade mais profundamente, sem o viés assistencialista de “dar uma oportunidade” às PcDs.

 

Não é mais oportunidade. É DIREITO. O discurso na língua de sinais do ator Troy Kotsur, primeiro ator surdo a ganhar o Oscar resume tudo “Dedico este Oscar às PcDs. Chegou a nossa hora!” Ver uma boa parte da plateia aplaudindo em libras nos mostra ainda que acessibilidade atitudinal depende apenas de uma atitude, que simboliza e faz toda a diferença.

 

E que a inclusão, também inclui você.

 

*Daniela Rorato é jornalista, ativista que atua em Defesa dos Direitos das PcDs, empreendedora social e consultora em acessibilidade e colaboradora do Blog Dellas.

 

Foto: Divulgação

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