Dissidente nesta eleição, João Paulo não descarta aliança do PT com Raquel
“O voto é secreto” fala, com sorriso maroto, uma das maiores lideranças do PT no Recife, o ex-prefeito João Paulo, quando indagado sobre em quem vai votar nesta eleição. Uma série de circunstâncias o levaram a esse ponto, como tem confessado às pessoas mais próximas, embora não se constranja ou reclame se algum jornalista acabe escrevendo o que gostaria que permanecesse “em off ”, como cita a imprensa sempre que algo que é dito mas não é, oficialmente, assumido. Se alguém volta a insistir sobre o que fará na urna do dia 6 de outubro, ele responde: “ o PT está apoiando a reeleição do atual prefeito”.
Em off ou em on, João Paulo é o mais expressivo e declarado dissidente petista nessa eleição. O mais cômodo seria ter, mesmo calado, aceitado a indicação do PT e apoiado a reeleição do prefeito João Campos, mas ele levou falta nessa decisão. Sinais não faltaram de sua parte. Tão logo o partido começou a se debruçar sobre o caminho a seguir, ele disse a quem pode dentro da legenda que as feridas abertas na eleição de 2000 não estavam cicatrizadas e profetizou como lembra agora, que João Campos não daria espaço e nem respeitaria os petistas.
PT menosprezado
– Eu sei que o PT precisa obedecer à correlação de forças nacionais com o objetivo de garantir a governabilidade e a reeleição de Lula mas falhamos ao aceitar participar da administração do prefeito, inclusive em áreas com pouca relevância, e sem uma discussão mais ampla. Isso inibiu a identificação de uma pré-candidatura e até o pleito pela vice. Sem nos credenciarmos a fazer uma aliança dentro de uma correlação de forças chegamos à subserviência e fomos menosprezados pelo PSB. Isso eu previ que ia acontecer tanto que não concordei com a movimentação para escolha de uma nome para vice e deu no que deu. O prefeito nos ignorou.
Embora não assuma formalmente que votará na candidata do PSOL, Dani Portela, só não vê quem não quer a sua preferência por ela, que abraçou uma das principais criações do seu Governo, quando prefeito, que é o Orçamento Participativo. Nas redes sociais os dois estão permanente juntos em eventos. “ Não vou negar que boa parte da militância do PT vai votar nela por não ter aceitado o tratamento dispensado ao nosso partido”. Em relação a João ele não compareceu sequer à carreata com o ministro Alexandre Padilha esta quinta-feira: “ tinha outros compromissos “- arrematou.
“Prefiro o ranço do PT”
João Paulo estaria preparando sua saída do PT, como fez logo após deixar a Prefeitura, filiando-se ao PCdoB? Ele diz que não e acrescenta:”minha mãe falava que tudo é como caju que, mesmo doce, sempre tem um ranço. Fui muito bem tratado no PCdoB mas prefiro o ranço do PT”. Passada a eleição, ele defende que o PT faça um exame de consciência e uma análise profunda do que aconteceu em 2024 e o que será feito em 2025 e 2026.
– “ É fundamental que os senadores Teresa e Humberto liderem este processo e eu vou estar ao lado deles e de companheiros como os deputados Carlos Veras, Doriel Barros e Rosa Amorim e dos movimentos sociais. Vamos ter em 2025 o Processo de Eleição Interna e precisamos chegar a ele, como fazem todos os partidos, deixando claro que nosso objetivo é chegar ao poder. Podemos até fazer alianças contanto que nos respeitem. Qualquer subordinação, como aconteceu agora não tem razão de ser”.
Aliança com Raquel
Aí ele demonstra onde quer chegar e deixa claro que, na sua opinião, o PT deve discutir inclusive uma aliança com a governadora Raquel Lyra. “ Já está claro que o prefeito vai se eleger e ele se preparou para ter 80% dos votos. Isso feito no dia seguinte começa sua jornada de candidato a governador. Mas Pernambuco tem uma governadora que se entende bem com o presidente Lula e o presidente vai dar atenção a ela como deu até agora. Quem sabe ela não se filie a um partido da base de Lula?. O caminho para 2026 está em aberto. Com todas as dificuldades, o presidente está conduzindo bem o país e será candidato à reeleição e pode ter o apoio de Raquel”.
Ele acha que a governadora “ tem projetos consistentes e de alto alcance popular como o Morar Bem, a urbanização do Rio Fragoso, entre Olinda e Paulista, a reurbanização de Peixinhos, a PE-15 e muitos outros”. Cita ainda que ela “vem trabalhando bem com os movimentos populares e abriu diálogo com os servidores públicos fechando um acordo salarial que não atendeu a 100% do que se desejava mas no qual tratou a todos por igual ao ponto de não ter tido uma greve sequer durante a negociação e a aprovação da matéria na Assembléia”.
João Paulo tem sido, na Comissão de Justiça, um defensor do Governo, chegando a se distanciar do PSB nas discussões. No plenário sempre votou a favor dos projetos de Raquel, junto com a bancada petista. Hoje na Alepe o PT é incluído na base do Governo e não só ele como Doriel Barros e Rosa Amorim, os outros deputados do partido, costumam levar os movimentos sociais da Região Metropolitana e do Interior ao Palácio, quando é necessário, para audiências com a governadora. Precisa dizer mais?
TEREZINHA NUNES do BlogDellas Especial para o JC
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