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Diocese de Itapeva afasta padre por abuso de menores

A Diocese de Itapeva, no interior de São Paulo, suspendeu de suas funções, neste último sábado, o padre Elias Francisco Guimarães, de 65 anos. O afastamento ocorreu após vir à tona a informação de que o sacerdote havia sido condenado, em 2003, a 4 anos e 3 meses de prisão por abuso de menores na Flórida, nos Estados Unidos.


O caso foi exposto no livro “Pedofilia na Igreja” (Máquina de Livros, 2023), lançado na semana passada, que relata crimes sexuais cometidos por mais de cem membros do clero do Brasil contra crianças e adolescentes. Segundo o comunicado da diocese, foi aberto um processo canônico contra o padre .

“Diante das notícias atribuídas ao Padre Elias Francisco Guimarães, Padre da Diocese de Itapeva, SP, vimos ao público esclarecer que medidas canônicas foram adotadas de imediato”, diz o comunicado publicado na página da diocese no Facebook. “A Diocese de Itapeva, através do Decreto de Abertura de Investigação Prévia, de Dom Eduardo Malaspina, Bispo Diocesano, com base no Cân. 1717 do Código de Direito Canônico, instaurou um processo canônico para averiguar possíveis fatos ocorridos, e exercerá as medidas canônicas necessárias para o referido caso”. O padre Elias é vigário paroquial da Paróquia de São Roque, na cidade de Itapeva.

O padre Elias Francisco Guimarães foi ordenado há quase 30 anos, em novembro de 1993. Como contado no livro “Pedofilia na Igreja”, em 2002 Elias era pároco na Missão Nossa Senhora Rainha da Paz, ligada à Diocese de Palm Beach. Antes, atuou em outra paróquia na Flórida, voltada a fiéis brasileiros.

A nota da Diocese de Itapeva sobre a suspensão do padre Elias

Em 10 de setembro daquele ano, o padre brasileiro foi preso por abuso sexual. Ele havia marcado, no dia anterior, um encontro com um menor de 14 anos numa sala de bate-papo da America Online (AOL). O adolescente, porém, era o disfarce de um policial do Departamento de Polícia de Delray Beach (DBPD). Durante dez dias, o sacerdote conversou com suposto adolescente, sem saber que estava sendo monitorado pela polícia. Numa das conversas, o padre — que não se apresentou assim — contou como teve contato sexual com um garoto de 16 anos na semana anterior. “Às 20h31 (do dia 10), o padre Elias, usando um short sem cueca, chegou ao local. Em lugar de um adolescente, o encontro às escuras foi com policiais do DBPD. O religioso não obedeceu às ordens dos agentes; precisou ser jogado ao chão, algemado e advertido de que seria usada contra ele uma arma de choque caso reagisse”, descreve o livro. A partir dali, o religioso ficou preso até seu julgamento, em abril de 2003.


‘Algo mais do que conversar’
Numa audiência do caso, em 15 de janeiro de 2003, o padre chegou a sustentar, diante do juiz, que só queria falar sobre sexo com o falso adolescente. Acabou admitindo, porém, “que desejava fazer algo mais do que conversar e confessou que seus planos com o ‘garoto’ envolviam toques e ‘talvez sexo oral'”, conta o livro.

Além da sentença de 4 anos e 3 meses pelo crime de “uso da internet para persuadir, induzir ou atrair um indivíduo menor de 18 anos a se envolver em atividade sexual”, proferida pelo juiz distrital William Zloch, Elias Francisco Guimarães foi proibido de ter contato não supervisionado com crianças, de comprar ou possuir fotos e vídeos de sexo e de trabalhar em organizações que atendessem crianças. Na audiência onde foi condenado, o padre, por meio de um intérprete português-inglês, disse: “Me arrependo muito. Eu queria dizer que sinto muito se ofendi alguém”.
Em 2006, conta o livro, o padre Elias deixou a cadeia e foi deportado para o Brasil. Pouco tempo depois, já estava atuando na Diocese de Itapeva. “Em resumo, um padre preso, réu confesso, que cumpriu pena por tentar contato sexual com um menor de idade foi mantido como sacerdote e aceito numa diocese do maior país católico do mundo, onde celebrava missas normalmente”, relata o texto do livro.

Um dossiê inédito

O livro “Pedofilia na Igreja — um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” reúne pela primeira vez os crimes sexuais cometidos por religiosos contra menores de idade no país. Após três anos de trabalho, foram reunidos casos de 108 sacerdotes acusados de abusar de pelo menos 148 crianças e adolescentes. Sessenta deles foram condenados.

Os abusos descritos no livro revelam a prática criminosa de sacerdotes de 80 dioceses e arquidioceses, em 23 estados e no Distrito Federal. Há padres, monsenhores (um título de honra concedido a padres), bispos e arcebispos, além de uma freira. Há abusos cometidos tanto por padres diocesanos — que não pertencem a uma ordem religiosa — quanto por frades franciscanos, salesianos, beneditinos e jesuítas, entre outros

Redação com O Globo / Foto: Divulgação

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