De celebridade a lugar comum: quem escapa das surpresas da política

Estado onde a política e seu resultados sempre se deram em torno dos partidos e até grandes votações individuais para deputado foram conquistadas por políticos de relevância como Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, por exemplo, Pernambuco surpreendeu em 2018, em plena ascensão das redes sociais, quando dois outsiders – a delegada Gleide Ângelo e o jovem advogado Túlio Gadelha – foram eleitos deputados estadual e federal. Gleide teve 412 mil votos para estadual (um recorde na história do estado) e Túlio 75 mil, conseguindo conquistar uma vaga na Câmara Federal.

A votação de Túlio, sobretudo para federal, foi muito baixa em relação à de Gleide, mas ambos conquistaram os mandatos surfando nas redes. Ela, uma delegada atuante e conhecida por enfrentar homens acusados de bater ou assassinar mulheres virou coqueluche no eleitorado feminino, e ele, muito jovem, caiu no gosto do eleitorado das grandes cidades como namorado da apresentadora da Globo, Fátima Bernardes. Os posts dos dois no Instagram batiam recordes diários. Além dos jovens, Túlio teve muito voto das mulheres de meia idade por estar namorando uma mulher mais velha e recém separada de outra celebridade William Bonner.

Passados quatro anos, o resultado das urnas de 2022 para os dois teve comportamento diferente. Gleide só alcançou os 118 mil votos, pouco mais de um quarto do que conseguiu há quatro anos, e Túlio, mesmo não exibindo mais o charme de 2018 – Fátima apareceu bem menos por aqui, embora tenha vindo a alguns encontros – chegou aos 134 mil votos. Se há quatro anos precisou conquistar a vaga se beneficiando da votação do deputado do seu partido, PDT, Wolney Queiroz, desta vez, filiado à pequena Rede Sustentabilidade, que precisou se juntar ao PSOL para poder concorrer, ele teve 134 mil votos, bem mais do que no primeiro mandato.

Estilos diferentes

Ainda na campanha os deputados comentavam nos corredores da Assembléia que Gleide podia chegar aos 300 mil votos, uma vez que espalhou sua influência pelo interior. Foi uma surpresa para todos o resultado. Mas se supõe que as pessoas votaram na Delegada e podem ter imaginado que ela continuasse deputada e delegada, atuando, como antes, nas ruas, denunciando e dando ordem de prisão aos feminicidas. Como a distância é grande entre o legislativo e as funções executivas o esforço de Gleide não correspondeu ao esperado. Já Túlio se destacou na Câmara no enfrentamento ao presidente Bolsonaro e deu sempre retorno a seus leitores pelas redes.

Feminino e masculino

O fenômeno Gleide Ângelo em 2018 foi tão forte que sua votação fez seu partido, o PSB, conquistar mais quadro cadeiras na Assembléia, todas ocupadas por homens, os deputados menos votados entre os eleitos do partido. Foi inusitado e densamente comentado, o que pode ter tido também efeito sobretudo entre as mulheres, as mais expressivas eleitoras da delegada, que as mulheres votaram tanto em Gleide que acabaram elegendo homens.

Em 2022 a política se sobressaiu

Há outra possibilidade no exame da questão Gleide. Este ano, ao contrário do que aconteceu em 2018, a polarização levou a política a decidir mais o voto, mesmo proporcional, do que outras questões, incluindo o voto em celebridades. Em Pernambuco, por exemplo, mesmo tendo apenas 30% dos votos os bolsonaristas elegeram os dois mais votados para a Câmara Federal e para a Assembléia Legislativa, todos com muita expressão no Recife onde 30% da população é evangélica. Gleide, que é evangélica, mas não apoiou Bolsonaro, teve 157 mil votos na capital em 2018 e agora caiu para 39 mil, votação expressiva, mas muito aquém do primeiro mandato.

Pergunta que não quer calar: essa nova onda de Covid vai prejudicar o carnaval 2023?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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