Datafolha diz que esquerda cresce no
Brasil e é confrontado por cientistas
Como registrou esta coluna no mês de abril, revelando resultado de pesquisa do instituto PoderData, a direita vem crescendo no Brasil, tendo, entre agosto de 2021 e abril deste ano, passado de 24% para 33% o percentual de eleitores que se confessam direitistas. Enquanto isso, a esquerda se manteve estável. Tinha 24% dos eleitores e agora tem 23%. Esta semana o Datafolha surpreendeu sobre o tema, revelando que 49% dos brasileiros se identificam com a esquerda – um crescimento de 9% em relação a 2017 – e que 34% são de direita, 6% a menos que naquele mesmo ano, o que animou os partidários do ex-presidente Lula.
Este final de semana, porém, em artigo publicado pela própria Folha de S. Paulo, os cientistas políticos – um deles com grau de doutor – Vinicius Silva Alves e Pedro Paulo de Assis afirmaram que o Datafolha “usou métodos equivocados ao apontar o predomínio da esquerda no país”. Usando dados da própria pesquisa que questionaram eles indagam: “como entender que não temos uma sociedade conservadora quando 65% dos brasileiros são a favor da maioridade penal dos adolescentes, 79% entendem que acreditar em Deus os torna pessoas melhores, e 83% dizem que o uso de drogas deve ser proibido”?.
E prosseguem: “como esta sociedade seria marcadamente favorável à esquerda se metade dos entrevistados acredita que “os sindicatos servem mais para fazer politica do que para defender os trabalhadores”? Ao confrontar um dos mais fortes e tradicionais institutos de pesquisa brasileiros eles explicam que o Datafolha sequer perguntou aos entrevistados como se classificariam, se de direita, de centro ou de esquerda, preferindo defini-los mediante algumas frases que os próprios pesquisadores criaram, e concluem “trata-se de uma escolha metodológica de risco”.
Pesquisas na berlinda
A posição de Vinicius e Pedro Paulo demonstram como, diante da polarização vivida pelo país, as pesquisas vão estar em permanente questionamento, o que não ocorria em outras eleições. Bolsonaristas, por exemplo, estão pressionando empresas que divulgam pesquisas próprias como a XP pelo simples fato de apontarem Lula na frente de Bolsonaro.No caso do Datafolha, no entanto, a cobrança é feita pela própria academia, mostrando maturidade dos cientistas políticos brasileiros. Eles citam, em defesa da tese de que é a direta que cresce no país, “ o impeachment da ex-presidente Dilma e a eleição do atual presidente considerado de extrema direita.
Pesquisa diferente
Os dois ainda pontuam pesquisa própria que realizaram em coautoria com o professor Antonio Lavareda, analisando o crescimento dos partidos políticos conforme o espectro ideológico entre 1982 e 2020 “onde identificamos um aumento do campo ideológico de direita a partir das eleições subnacionais”. Em 2020, segundo o levantamento que fizeram, 54% dos prefeitos brasileiros e 59% dos vereadores foram eleitos por partidos identificados com a direita. “Ainda que o apoio a algumas pautas progressistas tenha avançado na sociedade brasileira nos últimos anos, recomenda-se cautela nas análises conjunturais das eleições deste ano”- concluem e apontam que o próprio Lula sentiu isso ao convidar Geraldo Alckmin para vice e não Guilherme Boulos, como defendiam petistas.
Pernambuco pode ser exemplo
Embora não se possa comparar pesquisas, a última sobre a eleição pernambucana divulgada esta semana pela Exame/Ideia apontou que o ex-presidente Lula tem 50% das intenções de voto em Pernambuco e Jair Bolsonaro tem 30%. Levantamentos anteriores mostraram Lula acima de 60% no estado. A pesquisa da Exame animou o candidato bolsonarista a governador, Anderson Ferreira, que chegou a declarar, de forma ousada, na Sabatina UOL, que “Lula é passado em Pernambuco”. Ele não se referia ao fato de o ex-presidente perder para Bolsonaro aqui – o que não está nem em suas próprias convicções -mas ao fato do atual presidente ter feito investimentos no estado. Um assessor próximo revelou que, na verdade, Anderson espera chegar aos 30% do presidente, garantindo a ida ao segundo turno.
Agreste na berlinda
Como as festas juninas que em Pernambuco são identificadas mais com o agreste, a campanha política mudou-se para lá neste período. Raquel Lyra, Miguel Coelho, Danilo Cabral, Marília Arraes e Anderson Ferreira estão focados na região comparecendo, sobretudo, aos festejos da época. Em Caruaru, o prefeito Rodrigo Pinheiro, embora apoiador de Raquel, tem se comportado como verdadeiro anfitrião recebendo a todos sem preconceito. Anderson chegou a ser celebrado pelo evangélicos na noite Gospel em Caruaru e Miguel não só foi ao município como também a Serra Negra, em Bezerros, desta vez acompanhado da prefeita LucieleLaurentino, que o apoia.
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