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Como estão as crianças que Lula encontrou em Toritama em 2005?

– Crianças viraram adultos semi-analfabetos, lamenta Cristovam Buarque revisitando a família –

Fevereiro de 2005 – Candidato a presidente para o que seria seu segundo mandato, o presidente Lula pousava no distrito de Canaã, entre Caruaru e Toritama. Enquanto o helicóptero aterrissava em um campo de futebol, alunos de uma pequena escola saíram correndo para ver quem chegava e fizeram fotos ao lado de Lula como registrado na imagem da Folha de São Paulo da época, aqui compartilhada.

31 de julho de 2023 – O ex-ministro da educação e ex-senador Cristovam Buarque volta ao distrito, após acompanhar por 18 anos as crianças que na época tinham entre seus seis e 10 anos e constata, desolado, que, apesar do Bolsa Família recebido pela mãe de todos, e da modernização das instalações da escola ao longo dos anos – tem até ar-condicionado nas salas – só quatro sobreviveram no local e estudaram até a 5a. série mas não sabem ler adequadamente. Dos demais, um foi assassinado, outro está em liberdade condicional e os outros dois migraram. Uma menina, que Lula viu aos seis anos, virou mãe aos 16 e hoje um dos filhos de nove anos estuda mas não sabe ler.

– Cristóvão com as quatro crianças que sobraram, hoje adultas e a mãe de uma delas –

Desolação

Cristovam, que visitou o distrito esta segunda-feira, 31, acompanhado do diretor do Centro Josué de Castro, o sociólogo José Arlindo Soares, disse a este blog que a situação vivida por aquelas crianças vistas pelo presidente há 18 anos e os caminhos trilhados o deixaram desolados: “como brasileiro, me sinto assustado com o que não vai ser o Brasil se continuarmos assim. Das oito crianças, hoje adultos, um foi assassinado e outro está em liberdade condicional. Como político me sinto incompetente por não ter conseguido que as ideias que sempre defendi para a educação não tenham sido incorporadas na política brasileira”.

A história dessas oito crianças pernambucanas viraram uma preocupação para Cristovam desde que viu a foto em 2005 estampada pela imprensa. Pernambucano, na época Senador, ele foi Ministro da Educação de Fernando Henrique entre 2003 e 2004. Foi na época a Toritama e escreveu uma carta a Lula, já presidente em primeiro mandato, dizendo que aquelas crianças que ele vira “têm nome, idade e escola” e apresentou um plano de 10 medidas que considerava necessária para uma revolução pela educação. Por fim, fez um desafio ao chefe da nação: “a situação é trágica e, se não agirmos, daqui a 10 anos seremos culpados”.

A principal meta, segundo ele, era “e ainda é, a federalização do ensino de primeiro grau, pelo menos nos municípios mais pobres. Hoje no Brasil se costuma dizer que a educação das crianças é coisa de prefeitos, como se fosse possível que todos os prefeitos pudessem promover um ensino de qualidade, enquanto o MEC cuida do ensino superior, o que é um verdadeiro absurdo”. O exemplo do distrito de Canaã para ele é uma mostra de que não adianta apenas fazer boas escolas e até climatizar as salas se o ensino não dá resultado e muitos jovens chegam à vida adulta sem saber ler”. E pontua: “as pessoas falam que as crianças estão matriculadas mas esquecem que elas se matriculam mas precisam também frequentar as aulas, permanecer na escola e aprender o necessário. Grande parte, porém, só fica na sala até a hora da merenda. A escola virou um restaurante mirim”.

Pelo menos uma coisa positiva Cristovam encontrou no meio de quatro dos oito jovens que Lula viu em 2005: eles trabalham fazendo confecções, mostrando que o Polo de Confecções do Agreste tem lhes garantido um meio de vida.

Redação – Blogdellas

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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