Raquel desafiada a lidar com o velho e o novo modelo de convivência política

 

Com metade do secretariado composto por mulheres e a decisão firme que tomou de afastar a política partidária do primeiro escalão, a governadora eleita Raquel Lyra enfrenta agora o seu maior desafio: criar um novo modelo de convivência com a classe política que foi alijada, neste primeiro momento, da influência que tinha no poder executivo, sobretudo nos últimos 16 anos, sem por em risco a necessária convivência com os deputados estaduais pelos quais vão passar todos os projetos que tiver que enviar para a Assembléia Legislativa.

E não vai ser fácil. Ontem, ao empossar seu secretariado ela falou duas vezes em mudanças exigidas pela população desde o momento em que escolheu duas mulheres para governar o estado, deixando a entender que mais novidades podem vir por aí. O secretário da casa civil, Túlio Vilaça, que discursou em nome de todos prometeu diálogo mas informou a este blog que não vai cuidar da política – como fizeram todos os secretários da pasta até hoje – deixando o assunto para os secretários executivos. Rebaixou-se, portanto, o padrão de relacionamento com os deputados, de secretário para executivo.

Os recados já começaram a ser dados pelos insatisfeitos. Ontem, à posse dos secretários só compareceram três dos 49 deputados estaduais que, no dia anterior, ao dar posse a Raquel, já tinha demonstrado, em conversas paralelas registradas por este blog, desconfiança sobre o relacionamento a ser adotado com o poder legislativo. Antes mesmo da posse e quando ainda não se conhecia a nova equipe, Raquel sofreu dois revezes na casa. O primeiro quando a vice Priscila Krause, que ainda era deputada, solicitou que a Alepe desistisse de aprovar aumento do duodécimo da casa para 2023. Mesmo sabendo que a vice agia em consonância com a titular ela não foi atendida. Os deputados não só aprovaram o projeto que aumentava o duodécimo como derrubaram por 39 a 3 o veto do governador Paulo Câmara a este mesmo ítem do orçamento. Na ocasião só votaram contra a derrubada do veto a própria Priscila e os deputados Aluísio Lessa e Clarissa Tércio.

Raquel demonstra saber o que quer

Assessores mais próximos da governadora fizeram chegar a ela a preocupação com a situação. A todos ela deu a mesma resposta: a de que saberá contornar tudo sem desistir das mudanças que está imprimindo ao novo Governo. No discurso aos subordinados ontem ela falou, e foi corroborada por Priscila e pelo secretário Túlio Vilaça, que não desistirá do processo de mudanças que vem imprimindo e de agir “de baixo para cima” de acordo com as necessidades da população mais pobre que são, sobretudo, de se alimentar e receber água nas torneiras. Não deu um pio sobre a política partidária.

Pedras no sapato

A verdade é que, independente até da escolha dos secretários, a governadora está deixando pedras pelo caminho. O ex-senador Armando Monteiro, seu aliado de primeira hora, preferiu viajar para passar o Ano Novo em Portugal do que prestigiar a posse de sua aliada. O ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, o primeiro a declarar-lhe apoio no segundo turno e garantir a vitória em seu município, foi à diplomação e à posse na Alepe mas não foi sequer citado pela governadora em seu pronunciamento. Um deputado estadual da confiança de Raquel tirou por menos tudo isso “há tempo suficiente para ela contornar todas as situações e não vai demorar”. Agora é esperar.

João perde um secretário

O prefeito João Campos anunciou ontem em suas redes sociais, após a posse do ministro da Fazenda Fernando Haddad, à qual esteve presente, que o atual secretário de desenvolvimento econômico do Recife, Rafael Dubeux, vai chefiar a Assessoria Especial do Ministério da Fazenda a convite do novo ministro. Dubeux, que é pernambucano, é funcionário de carreira da Advocacia Geral da União (AGU) e havia sido cedido à PCR, a pedido do prefeito.

Dudu não passa recibo

Embora não tenha conseguido que seu indicado, o deputado estadual do PP, Kaio Maniçoba, virasse secretário de Raquel, abrindo espaço na Alepe para a suplente Roberta Arraes, o deputado federal Eduardo da Fonte foi à posse de Raquel e à solenidade de transmissão do cargo, sem demonstrar insatisfação. Pelo contrário: deu declarações à imprensa dizendo que o PP está na base de Raquel na Alepe e vai continuar onde está.


Pergunta que não quer calar: Raquel vai atender aos políticos no segundo escalão, como se presume nos bastidores?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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