Pernambuco sob comando feminino pela primeira vez na história
Após anos a fio de um poder executivo exclusivamente masculino, Pernambuco amanheceu esta segunda-feira com o Palácio do Campo das Princesas ocupado não apenas por uma mas por duas mulheres: a governadora Raquel Lyra ( a primeira líder feminina eleita governadora) e a vice Priscila Krause ( a segunda vice, pois a primeira foi Luciana Santos que venceu a eleição há quatro anos junto com Paulo Câmara). Deputados federais e estaduais que foram à posse das duas ontem ainda comentavam a surpresa saída das urnas em 2022 com três mulheres conquistando as vagas majoritárias. A terceira foi o senadora Teresa Leitão, do PT.
De uma só vez o eleitor pernambucano tentou corrigir o erro histórico de não prestigiar as mulheres. E surpreendeu o próprio país: foi a primeira vez no Brasil que duas mulheres se elegeram governadora e vice e também que duas mulheres foram ao segundo turno (a outra foi Marília Arraes). Outras mulheres que foram eleitas governadoras tiveram ou têm vices homens. Raquel chegou a falar em chapa “100% feminina” quando patinava nas pesquisas e poucos acreditavam que ela chegaria onde chegou. A união delas foi tal, expressa durante a campanha na TV e nas redes, que ontem nas duas solenidades na Alepe e no Palácio os aplausos foram os mesmos, sempre que se citava uma ou outra.
Mas o protagonismo feminino não ficou só nas duas eleitas. O secretariado de Raquel vai ter em torno de 50% de mulheres, escolhidas a dedo, um ineditismo sem tamanho, sem contar que a segurança pública estará nas mãos de uma mulher e a polícia civil também. Dos governadores pernambucanos só Jarbas Vasconcelos teve seis mulheres secretárias. Paulo Câmara teve só três. Raquel também inovou ao não escolher políticos secretários – a exceção foi Daniel Coelho. Isso, de não colocar políticos só aconteceu em Pernambuco na primeira gestão de Jarbas, iniciada em 1 de janeiro de 1999. Nas gestões do PSB nos últimos 16 anos a prática de prestigiar a classe política no primeiro escalão foi corriqueira.
Raquel e Priscila juntas no Palácio?
Não há definição ainda mas se estuda no entorno de Raquel a possibilidade da governadora e da vice terem gabinetes no Palácio do Campo das Princesas. Até hoje os vices sempre ficaram em prédios próprios da vice-governadoria. O que pode impedir a concretização desse desejo é o pouco espaço disponível no Palácio, que já não consegue abrigar o que lá funciona, e menos ainda para instalar um novo gabinete.
Reação dos políticos
O fato de Raquel ter excluído os políticos do secretariado foi muito comentado ontem entre os deputados presentes à posse. Sob condição de manter o anonimato quase todos os ouvidos por este blog mostraram desconfiança – “há muito tempo que isso não acontecia e é preciso aguardar para ver se vai funcionar”, disse um deles. Outro foi mais pragmático e afirmou: “se ela abrir espaço nos órgãos e empresas tudo bem”. Um outro foi mais além: “pode ser que ela tenha escolhido os técnicos porque, se não der certo, é mais fácil de mudar sem criar crise”. Alguns, porém, agiram com parcimônia: “vamos torcer para que dê certo”.
Copergás
O comentário ontem na Assembléia é que o novo presidente da Copergás – uma das principais estatais de Pernambuco – será o engenheiro e administrador de empresas Olavo de Andrade Lima. Muito amigo do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, Olavo chegou a comandar o Porto do Recife na primeira gestão de Paulo Câmara, indicado por Bruno. Na época o PSDB participou do Governo por um tempo, após a morte do senador Sérgio Guerra. Bruno teve papel importante na campanha de Raquel.
Pergunta que não quer calar: qual vai ser a estratégia de Raquel para lidar com os partidos políticos?
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