Negacionismo e falta de planejamento levam vacinação no Brasil a índices alarmantes
Há 49 anos o Brasil criou o PNI – Programa Nacional de Vacinação – reconhecido no mundo inteiro. Com isso chegou a extinguir casos de poliomielite, sarampo e outras enfermidades vacinando até 95% da população alvo – no caso crianças – e virando exemplo a ser seguido. Há 10 anos, porém, o nível de vacinação vem caindo, segundo o Instituto Butantã, que produz oito das vacinas garantidas pelo SUS, mas a partir de 2015 o problema se agravou e hoje a situação é “alarmante” na definição da Fiocruz.
Na verdade, a pandemia da Covid 19 que, naturalmente, levou os pais a negligenciarem deixando de levar os filhos aos postos como faziam, e a onda de negacionismo surgida no Governo Bolsonaro, quando o próprio presidente não se vacinou e incentivou a pessoas a não adotarem a prática, levantando dúvidas infundadas sobre a eficácia dos imunizantes, provocou, segundo a maioria imunologistas, um descrédito geral a respeito da imunização que ao longo dos anos tem salvado milhões de vidas.
Esta semana, a área de saúde da equipe de transição do governo Lula denunciou que, além da queda geral nos índices de vacinação, a falta de planejamento levou a uma situação vexatória: estamos no final de 2022 e o Butantã ainda não recebeu sinal do Ministério da Saúde para a produção das vacinas em 2023, o que significa risco forte de colapso, já que o Instituto leva tempo, como qualquer fábrica, para produzir o que lhe é encomendado. Sobre as vacinas bivalentes contra a Covid 19, as únicas capazes de conter as novas variantes, a Anvisa só as aprovou recentemente, mas não é necessária nenhuma burocracia para a aquisição das mesmas. Pois bem, o MS não tomou qualquer providência.
Grave descaso
Não é preciso apelar para a polarização política, que tantos danos tem causado ao Brasil, para entender que a negligência com a imunização é um crime contra a população, sobretudo a mais vulnerável. Os números são inquestionáveis. Entre 1968 e 1989 27 mil brasileiros foram vítimas da Poliomielite. Depois deste ano nenhum caso foi registrado. Em 1994 a doença foi considerada eliminada nas Américas devido aos altos índices de imunização. Em 2021, porém, só 70% das crianças foram vacinadas quando em 2015 o percentual chegara a 98%. O próprio Ministério acha que a pólio pode voltar a fazer vítimas a qualquer momento.
Sarampo também ameaça
No caso do sarampo que fez 177 mil vítimas no Brasil de 1990 a 2000 foi considerado eliminado do país em 2016, mas, devido ao baixo índice de imunização, em 2019 o Brasil perdeu a certificação de nação livre da doença por não ter conseguido conter um surto na Região Norte. Hoje a doença está presente em vários estados. A vacina contra o sarampo é a tríplice viral pois combate também a caxumba e a rubéola. Em 2017 86,2% da população alvo foi imunizada, mas em 2021 o percentual caiu para 71,4%.
O retrato da incerteza
A Fiocruz citou em relatório recente que a vacinação geral da população brasileira atingiu apenas 59% da população em 2021. Em 2020 ela tinha chegado aos 67% e em 2019 a 73%. O ideal são os 95%. Em todas as doenças preveníveis por imunizantes conhecidos incluindo as gripes, meningite, etc., a cobertura vacinal deixa a desejar. Vai ser necessário um grande esforço para corrigir esta lacuna.
PSOL rebela-se
O PSOL não está aceitando a decisão do PT de apoiar a candidatura à reeleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira e a manutenção do orçamento secreto que o partido condenou no período eleitoral. Por isso os psolistas já fizeram chegar aos petistas que vão lançar candidato alternativo e continuar denunciando a prática do orçamento secreto.
Pergunta que não quer calar: os diversos ministros da saúde do governo Bolsonaro vão ser responsabilizados pelos baixos índices de vacinação?
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