Política

Co-deputada trans, Robeyoncé é candidata a federal

Robeyoncé Lima – Foto Yane Mendes

Estado que ocupa o quinto lugar no Brasil nos índices de assassinato de pessoas trans – só no ano passado foram nove casos – Pernambuco se prepara para debater o assunto de frente na eleição deste ano: pela primeira vez uma mulher trans, com chance de obter uma boa votação, é candidata a deputada federal disposta a colocar a nu o preconceito que é claro na sociedade em relação a trans e travestis.

 

Robeyoncé Lima, advogada 34 anos, não é nova na política. Em 2018 elegeu-se co-deputada estadual do coletivo Juntas, eleito pelo PSOL. Este ano, ela decidiu tentar se transformar na primeira negra trans a ter acento na Câmara Federal. O seu partido, o PSOL, decidiu, partindo de sua experiência em 2018, lançar outras candidatas trans a federal nos estados de São Paulo, Rio, Minas, Bahia e Sergipe.

 

O discurso das seis vai ser o mesmo com o objetivo de combater o preconceito e priorizar políticas públicas que protejam essas pessoas, “simples casas abrigo que não custam muito já podiam evitar que elas fossem morar na rua como Roberta Nascimento queimada viva no ano passado aqui no Cais de Santa Rita” diz Roby – como é chamada – e acrescenta “90% das pessoas trans se prostituem por falta de oportunidade e a grande maioria é expulsa de casa na adolescência”.

 

Como, em meio a toda essa realidade, Roby se formou em direito na UFPe? Ela, que sempre estudou em escola pública e foi acolhida e respeitada pela família que reside no Alto de Santa Terezinha, em Casa Amarela, diz que além do esforço que dedicou aos estudos, foi beneficiada, no ano do vestibular, por uma cota social da Universidade que acrescentava 10% na nota das pessoas mais pobres, provenientes do ensino público.

 

Na Universidade, na advocacia e na Assembleia Legislativa Roby diz que sempre enfrentou o preconceito velado. “Você sente que é olhada de forma diferente. Ninguém lhe agride com palavras mas os gestos são claros”. Ela acha, porém, que tem sido muito proveitosa a sua passagem por todos esses lugares no que se refere a pessoas trans: “ a convivência não deixa de ser motivo para uma aceitação maior e as portas vão sendo abertas.

 

Na Câmara Federal ela espera ir mais além. “Em uma casa que tem as bancadas BBB, do boi, da Bíblia e da bala, está mais do que na hora de defender e receber as minorias que não têm o apoio necessário na formulação das leis. Segundo ela, na Alepe as oportunidades de criação de políticas públicas para as minorias são menores pois em grande parte dependem de leis federais mas cita alguns avanços que seu grupo obteve ao aprovar legislação que garantiu o uso do nome social às pessoas trans nas empresas públicas e privadas e das cotas para essas pessoas na distribuição de moradias populares pelo estado.

 

Cita ainda o fato das Juntas terem a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Alepe o que permitiu o debate e a defesa dos excluídos. Lamenta, porém, de ainda não ter saído do papel a proposta de criar uma casa abrigo para trans e travestis no Recife: “o prefeito se comprometeu mas não resolveu até agora algo que entendemos ser muito fácil de fazer, desde que exista interesse e boa vontade”.

 

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