Cinemateca Brasileira: Mostra “Resistências Cinematográficas” chega ao Recife
O Que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto
Entre os dias 23 e 29 de janeiro de 2025, a Sala Derby, da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, receberá a segunda edição da mostra itinerante A Cinemateca é Brasileira, organizada pela Cinemateca Brasileira.
O projeto, iniciado em 2023, percorreu o país exibindo uma seleção de 19 filmes que representam diferentes momentos históricos e propostas estéticas ao longo de mais de 120 anos de cinema nacional. Com apresentações em 15 cidades de todas as regiões do Brasil, a mostra foi um sucesso e agora retorna à capital pernambucana para dar continuidade à iniciativa de promover o acesso ao cinema brasileiro e à valorização de sua diversidade cultural e artística.
Com o título A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas, a nova curadoria apresenta uma seleção de longas e curtas-metragens que exploram múltiplas perspectivas sobre a vocação democrática do Brasil e suas resistências aos retrocessos autoritários, com destaque para o regime militar instaurado há 60 anos.
O projeto já exibiu filmes em Campos dos Goytacazes (25 e 26 de setembro), Rio de Janeiro, dentro da programação do Festival do Rio (3 a 13 de outubro), Fortaleza (12 a 26 de outubro), e João Pessoa (13 a 22 de outubro). Para 2025 já estão confirmadas passagens por Curitiba, Belém, Porto Velho, Brasília, Manaus, Porto Alegre e Garanhuns (PE).
“O Instituto Cultural Vale está ao lado da Cinemateca por entender a importância da casa da produção audiovisual brasileira, uma das maiores instituições do gênero no mundo, que preserva, também, um retrato da nossa própria identidade. Por isso, atuamos, juntos, em iniciativas pela sustentabilidade e modernização do espaço e pela salvaguarda de seu acervo, em especial, a coleção de filmes em nitrato de celulose, de valor inestimável”, diz Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, que é patrocinador estratégico da Cinemateca Brasileira.
As ações de itinerância fazem parte do Projeto Viva Cinemateca, lançado em 2023, que reúne os grandes projetos da Cinemateca voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica.
“Apoiamos o Viva Cinemateca, pois acreditamos que a instituição tem um papel fundamental na construção, conservação e difusão da nossa herança cultural, com ações que promovem o desenvolvimento humano e geram valores para toda nossa sociedade. Juntos, preservamos o cinema nacional e as obras audiovisuais em geral, tão importantes para a preservação de nossa identidade”, comenta Glauco Paiva, gerente executivo de Comunicação e Responsabilidade Social da Shell Brasil, patrocinadora master do projeto Viva Cinemateca.
As ficções, documentários e animações selecionadas para RESISTÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS abordam direta e indiretamente os períodos de repressão tão recorrentes na história do país. Em O caso dos irmão Naves (1967), o cineasta Luiz Sergio Person se baseia em um caso real ocorrido em 1937, durante o Estado Novo, para retratar um dos piores erros jurídicos da história do Brasil.
Inspirados no sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, o nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, O que é isso, companheiro? (1997), de Bruno Barreto, expõe as consequências dessa ação para negociar a libertação de presos políticos.
As estratégias e as torturas praticadas pela ditadura são evidentes nos relatos presentes no curta Libertação de Inês Etienne Romeu (1979), de Norma Bengell. Já os horrores praticados contra os povos indígenas, ainda pouco conhecidos, são denunciados no filme Arara: Um filme sobre um filme sobrevivente (2017), de Lipe Canêdo.
A atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas nas entrelinhas do documentário de Arnaldo Jabor, A opinião pública (1966) e na ironia de Pra frente Brasil (1982), de Roberto Farias.
Eles não usam Black tie, de Leon Hirszman
Outro tema recorrente das obras selecionadas é a luta do movimento operário por melhores condições de trabalho e pela redemocratização do país. Registros essenciais desse movimento popular, que precedeu a anistia política, são encontrados no filme recentemente restaurado pela Cinemateca Brasileira, Greve (1979), de João Batista de Andrade, e ainda no documentário ABC da greve (1979-1990), de Leon Hirszman, que também ficcionalizou o conflito em Eles não usam black-tie (1981).
A mostra oferece também alegorias políticas que examinam a complexidade das estruturas de poder e a opressão. Na fictícia nação latino-americana de Eldorado, Glauber Rocha reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época em seu clássico Terra em transe (1967). Também ambientado em um país fictício na América Latina, o curta baseado no conto homônimo de Olney São Paulo, Manhã Cinzenta (1969), critica o autoritarismo com imagens impressionantes das manifestações de rua de 1968. Embora não seja uma metáfora direta contra a ditadura militar, Os fuzis (1964), de Ruy Guerra, trata de temas como opressão, desigualdade social e a relação entre o poder militar e as populações oprimidas.
Em homenagem aos 40 anos do filme e aos 10 anos de falecimento do cineasta Eduardo Coutinho, a curadoria inclui novamente Cabra marcado para morrer (1964-1984), cujas filmagens foram interrompidas pelo golpe militar de 1964 e retomadas dezessete anos depois para concluir a trajetória de seus personagens durante os longos anos do regime militar.
Serviço
Fundação Joaquim Nabuco
23 a 29 de janeiro de 2025
Cinema da Fundação – Derby
Rua Henrique Dias, 609 – Derby
Entrada gratuita-Retirada de ingresso para a sessões de cinema: uma hora antes do início de cada sessão
Redação com assessoria Fotos: divulgação
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