Saúde

Cigarros eletrônicos : ameaça crescente no combate ao tabagismo

As baixas taxas de tabagismo no Brasil são frutos do sucesso de políticas públicas e da conscientização sobre os perigos do cigarro: atualmente, o país tem menos de 10% da população tabagista, um dos índices mais baixos do mundo. O cigarro é o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Há alguns anos, as campanhas do Agosto Branco, mês de conscientização sobre câncer de pulmão, trazem um alerta para um novo perigo: os vapes, ou cigarros eletrônicos, proibidos no país, e que têm ficado cada vez mais populares, principalmente entre jovens. Em agosto, também ocorre o Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/08).

“Essa é a principal ameaça em relação ao tabagismo. Os vapes são produtos novos, temos pouco conhecimento sobre os seus efeitos a longo prazo e, o que estamos observando desde já, são casos devastadores no pulmão, como injúria pulmonar, queimaduras, piora da asma e da função pulmonar, entre outros. Precisamos recuperar a frente, fomos pioneiros em diversas delas e tivemos sucesso em relação ao tabaco. Temos que ir nessa linha, com campanhas de informação voltadas para o público alvo e pensar políticas para diminuir esse consumo, além de apoio ao tabagista”, explica a oncologista Mariana Laloni, diretora médica técnica da Oncoclínicas&Co.

No Brasil, um levantamento realizado pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC) aponta que 2,2 milhões de adultos (1,4%) afirmaram ter consumido os dispositivos eletrônicos para fumar até 30 dias antes da pesquisa. Em 2018, o índice era de 0,3% entre a população, menos de 500 mil consumidores. Nos Estados Unidos uma em cada cinco pessoas (20%) entre 18 e 29 anos usam produtos vape, segundo o National Youth Tobacco Survey (NYTS).

“Nós vemos um aumento gradual entre crianças, adolescentes e jovens, especialmente de usuários e dependentes em nicotina. Os vapes têm especial apelo para esse público, pois há um direcionamento, seja nas embalagens mais modernas, hi-tech, ou ainda com sabores para atrair essa faixa etária. Temos um temor de sentirmos os efeitos daqui a 10 anos, que é quando as doenças, como câncer de pulmão, aparecem. Precisamos combater, mantendo proibido o seu uso”, reforça William Nassib William Junior, líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclíncias&Co.

Ele afirma que a comunidade científica já aponta que há indícios de que podem ser tão ou mais maléficos que o cigarro tradicional, que comprovadamente causa câncer de pulmão, entre outros tipos de tumores e doenças. Isso significa que, assim como ocorreu no passado com as gerações que tinham o hábito de fumar um símbolo de charme e status, poderemos ter nas próximas décadas uma onda de neoplasias pulmonares desencadeada pelo consumo de vapes.

A preocupação é justificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que também vem alertando para os males do uso da nicotina em pessoas menores de 20 anos, e sinaliza que adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornarem fumantes na vida adulta. Globalmente, segundo relatório divulgado em 2021 pela entidade, 84 países não contam com quaisquer medidas contra a proliferação deste tipo de produto. Outros 32 países proíbem a venda desses vapes e 79 adotaram pelo menos uma medida para limitar seu uso, como a proibição da propaganda.

Os médicos reforçam ainda que os dispositivos eletrônicos estão proibidos no Brasil desde 2009, portanto, não são regulamentados tampouco controlados por órgãos competentes. E esse é um ponto que não deve ser negligenciado. “No entanto, o consumo está aumentando consideravelmente, particularmente entre adolescentes e jovens adultos. Já temos observado impactos adversos à saúde, incluindo casos fatais, sobretudo devido a inflamações pulmonares, conforme indicam relatórios clínicos internacionais”, alerta Mariana Laloni.

Cigarro eletrônico também vicia

 O consumo de dispositivos eletrônicos vai na direção oposta do que vinha ocorrendo com o cigarro: se em 2000, 30% dos brasileiros eram tabagistas, esse índice chegou a 9% este ano, um dos menores do mundo. Em contrapartida, com a adesão das novas gerações ao uso de cigarros eletrônicos, esses índices podem voltar a crescer drasticamente. O motivo é explicado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que realizou em 2021 um estudo que indica que eles também aumentam mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes as chances de evolução para o consumo de tabaco. Em sua análise, o levantamento reforça que esses gadgets acabaram se tornando uma nova porta de entrada para o uso do cigarro tradicional para não tabagistas.

E mais um fator preocupante e grave apontado pelo líder nacional da especialidade de tumores torácicos da Oncoclínicas é o poder viciante dos cigarros eletrônicos. Alguns podem conter nicotina, correspondente a 5 maços de cigarro comum. “A nicotina em si não é fator de risco para o câncer, mas é ela que vicia. Ou seja, uma pessoa que consome esse produto pode ficar viciada ainda mais rápido e, inclusive, migrar para o cigarro tradicional. O apelo desses dispositivos está muito ligado à forma moderna de gadgets. Mas é um perigo para a saúde e assusta o fato de que não sabemos o que pode acontecer a longo prazo”, enfatiza William William.

Ele explica que o cigarro eletrônico vaporiza um líquido, às vezes, saborizado, outro ponto de atração para os mais jovens. “Em teoria, há alguns estudos, em ambientes controlados e com as substâncias também bem dosadas, em que os e-cigarros são menos nocivos à saúde e ajudam quem quer parar de fumar. Mas essa não é a realidade que se vê. É importante ressaltar que não é verdade a ideia de que os vapes vendidos contêm uma quantidade de ‘ingredientes’ danosos muito inferior ao do cigarro tradicional. Mesmo sem contar com itens como o tabaco em sua composição, esses dispositivos eletrônicos possuem outros elementos que podem ser altamente prejudiciais”, diz.

 Comece uma nova vida hoje

De acordo com a OMS, o tabaco ainda mata mais de 8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, o consumo direto e a exposição passiva são responsáveis por 156 mil mortes por ano. A entidade indica ainda que os casos de câncer, de forma geral, devem aumentar progressivamente até 2050 – no país deve dar um salto de mais de 70%, chegando a uma marca próxima de 1 milhão de novos diagnósticos da doença – o que demanda um trabalho de conscientização cada vez maior sobre a importância de erradicar seus principais causadores, como é o caso do tabagismo.

Entenda os benefícios de deixar fumar:

  • Em 20 minutos: a pressão arterial e a frequência do pulso voltam ao normal.
  • Em 2 horas: não há mais nicotina circulante no sangue
  • Em 8 horas: os níveis de monóxido de carbono no sangue chegam aos valores normais e o nível de oxigênio aumenta.
  • Em 24 horas: os pulmões já funcionam melhor, e os brônquios começam a limpar os resíduos deixados pelo fumo.
  • Em 48 horas: o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida.
  • De 2 semanas a 3 meses: a circulação sanguínea melhora consideravelmente. Caminhar torna-se mais fácil e a função pulmonar melhora em até 30%.
  • Em 1 ano: o risco de doenças ligadas a males do coração, como infarto, cai pela metade.
  • Em 5 anos: menor risco de acidente vascular cerebral (AVC). O risco de infarto do miocárdio e morte por ataque cardíaco se aproxima daquele de quem nunca fumou.
  • Em 10 anos: o risco de sofrer um infarto será igual ao de quem nunca fumou. Redução dos riscos de câncer de boca, garganta, esôfago, bexiga, rim e pâncreas.
  • Em 15 anos: o risco de desenvolver câncer de pulmão pode igualar-se aos dos não fumantes.

Redação com assessoria Foto: divulgação

e-mail:redacao@blogdellas.com.br

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