Carta para Luísa Sonza – por Ruth de Aguino*

 

-Você vai viver um novo amor, guria. Com alguém que te mereça. Isso não é nada cafona-

Eu não conhecia a Luísa Sonza. Conheci há uns dez dias nos textos de meus colegas Nelson Motta e Leo Aversa. Dois homens que apostam no amor romântico. Eles elogiavam Luísa por ficar literalmente de quatro, no clipe e na vida, para o namorado Chico Moedas. Nelsinho e Aversa aconselhavam Chico: se jogue, é sorte ser digno de um amor tão apaixonado e desbragado. Nada de sexo serial, viu? O Chico, “influenciador de criptomoedas”, apelidado de @chicocoin, não escutou; segundo Luísa, ele a traiu Luísa no “banheiro sujo de um bar”.

Luísa, você tem só 25 anos, seu namoro tinha apenas quatro meses, mas não diminuo sua dor. Acato. Respeito.

“Só quem já foi traída sabe da dor que se sente, da autoestima destruída, da dúvida, da insegurança”, ela disse ao vivo na TV. “A traição faz você se invalidar, se sentir idiota, burra, palhaça, trouxa. É uma quebra da confiança no próximo. É o medo de acreditar nas pessoas. Nos colocam como loucas, dão risada na nossa intuição, falam que a realidade é um detalhe. Mentem olhando no olho. Eles acreditam que somos burras, frágeis, fáceis de convencer, de manipular, que o mundo é deles e eles podem tudo. Que nada é grave. Meu amor, infelizmente você mexeu com a mulher errada”.

O que eu posso te dizer, Luísa? Vai passar. Passa. Ela chorou no programa de Ana Maria Braga. Não me parece marketing. Ela não precisa disso. O amor e a traição mexem com a vida de todo mundo. Atravessam idades, graus de instrução e classes sociais. Luísa despertou uma onda de confissões solidárias, mas também críticas. E memes. Chico submergiu, envergonhado, apagando seu perfil nas redes. O pior para quem trai é o estrago na reputação.

Luísa tem 25 anos e um timbre muito interessante. A estreia de seu álbum “Escândalo íntimo” quebrou recordes no Spotify Brasil: 17 milhões de streams nas primeiras 24 horas. Não dá para desclassificar Luísa. Ela não vai desaparecer. A música “Chico”, composta para o agora ex-namorado, esse sim uma subcelebridade, virou hit imediato. Também por parodiar outro Chico, o Buarque, e a letra de “Folhetim”. “Chico, se tu quiseres/Sou dessas mulheres de se apaixonar”. Um refrão chiclete. A faixa alcançou o primeiro lugar nas plataformas brasileiras.

Ela começou a cantar aos três anos. Virou vocalista de uma banda aos sete. Rainha dos covers no youtube. Aos 19 assinou seu primeiro contrato com gravadora. Preencheu os lábios exageradamente, explorou seu corpo seminu em barras de pole dance, foi acusada de trair um namorado, foi cancelada. Reclamou que sua vida pública virou “um eterno tribunal” nas redes. Mais que nunca, isso é verdade, e ela não está mais nem aí.

Luísa, esta coluna é pra você, guria. Gostei de sua melodia sensual. Curti sua coragem de se expor. Como você diz, a gaúcha anda com faca na bota, o tal Moedas mexeu sim com a mulher errada. Não soube valorizar o capital em mãos. Isso acontece com homens que não sustentam uma poderosa como você. Mulheres, escapem dos narcísicos inseguros.

Tem muito macho por aí que se considera alfa, mas treme nas bases quando conquista um mulherão. Não tem estrutura para sustentar o sucesso dela a seu lado. Hoje, as mulheres não se calam mais. Como dizia Carmem Lúcia em contexto distinto, “cala a boca já morreu”. Com sua carta pública de adeus, Luísa ajuda, sim, a quebrar um ciclo desatualizado, datado. Se algum dia o homem desleal e tóxico foi aplaudido, hoje não mais. É um pegador que pega mal. É preciso desmascarar esses abusadores, nas palavras de Preta Gil em seu perfil.

Luísa, você é muita areia pra esse cara. Não vale nada perto de sua intensidade, esse gingado que mistura o pop à bossa nova e foi elogiado por Caetano.

Você vai viver um novo amor, só vai ser com alguém que te mereça. E isso não é nada cafona.

*Ruth de Aguino é colunista de O Globo. Texto compartilhado.

E-mail: redacao@blogdellas.com.br

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