Carla Madeira é a autora mais lida do país falando de violência e perdão
Ano passado, ela foi apontada como a autora brasileira mais lida no país, com mais de 40 mil cópias vendidas de “Tudo É Rio”. O livro já havia sido lançado em 2014, mas foi a nova edição da editora Record, de 2021, que o tornou um dos assuntos mais falados nos ambientes de literatura do Brasil.
“O livro fala do que nos ronda : sexualidade, religiosidade, violência, desigualdade de gênero. Eu entro nessas questões, sem rodeios, diz a mineira Carla , ressaltando que “expõe a hipocrisia do que é considerada uma família de respeito e do peso que as mulheres carregam nessas configurações. Quantas mulheres não conseguem se afastar de relações agressivas, entrando num ciclo de violência sem saída?”, questiona ela, que rechaça títulos de genial e original, mas defende sua capacidade de criar protagonistas que rompem com expectativas e padrões.
“Vivemos em uma sociedade em que o gozo é reservado aos homens e o sacrifício é o que cabe às mulheres. Porém, muitas vezes, as minhas personagens viram essa chave e assumem as rédeas de sua própria vida, não sem consequências de julgamentos externos, claro. “O perdão existe para perdoar o imperdoável. É preciso tempo, conversa, tolerância, mas as pessoas podem ser perdoadas, mesmo que seus atos não sejam. Sem o perdão, não teríamos chegado até aqui como sociedade. Nós confundimos perdão com vingança. Queremos que o outro sofra.”
O processo autoral visceral fez com que os primeiros esboços de “Tudo É Rio” fossem abandonados por 14 anos. Depois de escrever a cena mais violenta do livro, Carla ficou paralisada por tamanha brutalidade. “Talvez eu não tivesse muitos recursos para lidar com aquilo emocionalmente ainda. Travei e não sabia como encaminhar a história”, revela.
O livro: “Uma provocação sobre a condição humana”
Detalhes sórdidos não são poupados em “Tudo é Rio”. A narrativa sobre três personagens em uma pequena cidade é conduzida a sangue, suor, lágrimas e saliva. A começar por Lucy, a prostituta mais despudorada da região. Acostumada a ter a atenção de todos, ela entra em choque por não ser cobiçada por um dos frequentadores do prostíbulo, por quem logo se apaixona. Há um motivo para essa falta de interesse: o homem, carrancudo e reservado, guarda um grande remorso por ter cometido um crime brutal, que resultou em perda trágica.
Lançado originalmente em 2014, pela editora independente Quixote+Do, o livro de estreia da jornalista e publicitária Carla Madeira ganhou a nova edição pelo Grupo Editorial Record em fevereiro e caiu no gosto popular de leitores ávidos nas redes sociais. A obra chegou em março na nona colocação da Nielsen PublishNews, que apura as vendas nacionais nas livrarias do país, entre os livros de ficção. Após sete anos do lançamento, a obra permanece atemporal. “Tudo é Rio” é instigante. O BlogDellas indica.
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