Câncer de mama em mulheres jovens: desafios do tratamento para a qualidade de vida e fertilidade
No Brasil, estima-se que 5% dos casos de câncer de mama são diagnosticados em mulheres com menos de 35 anos, enquanto 40% ocorrem em pacientes com menos de 50 anos
O mês de outubro dedicado à prevenção ao câncer de mama está terminando mas a mensagem deve prevalecer todos os dias. E outra estatistica tem chamado a atenção no caso da donça. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) faz um alerta importante sobre o aumento de casos de câncer de mama em mulheres com menos de 35 anos. Desde 2020, a incidência da doença nessa faixa etária subiu de 2% para 5%. No Brasil, estima-se que 5% dos diagnósticos ocorrem em mulheres abaixo dos 35 anos e 40% em pacientes com menos de 50 anos. Além disso, essa faixa etária corresponde a uma em cada sete mortes pela doença, segundo levantamento da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em Pernambuco, a previsão do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de 2.880 novos casos de câncer de mama para 2024. Embora a doença seja mais comum após a menopausa, o diagnóstico em mulheres jovens está crescendo, trazendo desafios adicionais, como a preservação da saúde reprodutiva e a qualidade de vida durante e após o tratamento. A mastologista da Oncoclínicas Recife, Maria Carolina Gouveia, ressalta a importância de abordagens personalizadas e multidisciplinares para essas pacientes.
“A fertilidade é um dos pontos mais importantes a serem discutidos durante o planejamento terapêutico de pacientes jovens com câncer de mama. A maioria dessas mulheres será submetida à quimioterapia, que pode induzir a amenorreia (interrupção da menstruação), um efeito que pode ser temporário ou permanente”, explica a médica.
Preservação da fertilidade
Para as mulheres diagnosticadas com câncer de mama que ainda não têm filhos ou desejam aumentar a família, o congelamento de óvulos e embriões é uma opção. “Sempre encorajo minhas pacientes a procurarem um especialista em fertilidade antes de iniciar o tratamento, para que possam avaliar as opções de preservação da fertilidade”, afirma Maria Carolina.
Ela reforça que, para mulheres que precisam passar pelo bloqueio hormonal — uma terapia comum para tumores com receptores hormonais positivos —, existe a possibilidade de interromper o tratamento após 2 a 3 anos para que a paciente possa engravidar. “Após a gestação, retomamos o bloqueio hormonal, sempre buscando minimizar os riscos e garantir a melhor qualidade de vida possível”, completa.
O bloqueio hormonal, que pode durar de 5 a 10 anos, simula a menopausa temporária e é crucial para evitar recidivas e metástases do câncer. Contudo, essa abordagem traz à tona outros desafios, como os sintomas típicos da menopausa induzida, que incluem a diminuição da libido, a redução da lubrificação vaginal e outros desconfortos que afetam diretamente a vida sexual das pacientes.
“Esses sintomas têm um impacto muito negativo, tanto físico quanto psicológico, e é essencial que o médico esteja atento para ajudar a paciente a contornar essas questões, oferecendo alternativas que melhorem sua qualidade de vida”, destaca a mastologista.
Impactos emocionais e relacionais
Além das mudanças físicas, o diagnóstico de câncer de mama pode afetar profundamente a vida emocional e os relacionamentos das pacientes. A mastologista Maria Carolina Gouveia explica que o impacto emocional muitas vezes resulta em desfechos variados nas relações pessoais. “Alguns relacionamentos se fortalecem durante o tratamento, enquanto outros, infelizmente, chegam ao fim”. Para lidar com esse cenário, ela enfatiza a importância do suporte psicológico e do acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
As alterações no corpo também representam um desafio emocional significativo. “A queda de cabelo é o efeito colateral mais temido por muitas mulheres. Felizmente, temos métodos como a touca gelada, que pode reduzir em até 70% a perda dos fios durante a quimioterapia”, aponta a mastologista. No entanto, a especialista lembra que a queda é temporária e que, em muitos casos, o cabelo volta a crescer de forma saudável após o tratamento.
Além dos efeitos físicos e emocionais, o câncer de mama afeta profundamente a rotina e a vida social das pacientes. Mulheres jovens, em plena fase produtiva, muitas vezes enfrentam o dilema entre se afastar ou continuar no trabalho durante o tratamento. “Algumas pacientes optam por seguir trabalhando, pois isso as ajuda emocionalmente a lidar com o câncer. Nesses casos, é importante que o ambiente de trabalho compreenda as limitações e variações no bem-estar da paciente ao longo do tratamento”, explica Maria Carolina.
A mastologista finaliza reforçando que o apoio da família e de uma equipe multidisciplinar é fundamental. “O câncer de mama é uma luta que envolve a paciente e todos ao seu redor. Oncologistas, mastologistas, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos trabalham juntos para entender o que aquela mulher está sentindo e quais são suas necessidades em cada fase do tratamento”, conclui. Essa abordagem colaborativa e centrada na paciente é o que garante que cada mulher receba o cuidado mais adequado para enfrentar não só a doença, mas os impactos emocionais, sociais e físicos que o câncer de mama traz consigo.
Redação com assessoria Foto: divulgação
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