Ataques de Tubarões – De quem é a culpa? Por Sérgio Murilo Filho*
Sabemos de quem é: A culpa é de todos nós! Cada um com sua parcela de contribuição.
Esgoto, lixo, ocupação irregular do litoral, derramamento de óleo, pesca de arrasto de camarão, pesca artesanal, matadouros públicos, Corpo de Bombeiros com baixo efetivo, com Postos de Observação sucateados e falta de equipamentos, banhistas irresponsáveis, surfistas idem, interrupções e paralisações dos projetos de pesquisa e monitoramento, burocracias, educação ambiental incipiente e ineficaz, falta de fiscalização, punição e tantos outros. Deixei por último a questão da recuperação ambiental, que foi totalmente esquecida durante décadas. Enfim, a junção de todos estes fatores acima nos levaram a uma situação de caos e terror.
Temos verificado que estas questões contribuem com as condições que propiciam uma probabilidade maior para que um ataque de tubarão aconteça. Verificamos claramente que o aumento na incidência dos ataques coincide com os desequilíbrios causados pelos fatores acima citados. A literatura é clara quando indica que a construção do Porto de Suape foi a principal causadora de tanto desequilíbrio, e provavelmente forçando os tubarões, animais que se encontram no topo da pirâmide, a procurar o estuário do Rio Jaboatão para reprodução. Lá chegando, tiveram acesso as tripas e ao sangue jogado irresponsavelmente pelo Matadouro localizado em sua proximidade e fechado graças à nossa denúncia perante a imprensa e autoridades.
Medidas urgentes e duradouras precisam ser desenvolvidas pelo novo governo recentemente empossado. Quatros linhas de ação precisam ser desenvolvidas (pesquisa, monitoramento, educação ambiental e principalmente recuperação ambiental). Paralelamente as linhas de ação surgiu a iniciativa da implantação das Telas de Exclusão. O modelo proposto preenche os requisitos de segurança, necessários neste momento. As Telas, segundo o fabricante, suportam até 1 tonelada de impacto por metro quadrado. As Telas poderão ser instaladas para que cada uma forme uma barreira que cubra aproximadamente 200 metros lineares de praia e 100 metros mar adentro, criando uma espécie de piscina protegida até a beira mar, impedindo completamente a entrada de tubarões.
A Tela de Exclusão multifilamento é o modelo proposto para Recife, nos moldes da utilizada em Hong Kong, que não aprisiona animais marinhos e onde há vinte anos não é registrado um ataque sequer dentro da área protegida. Já as “Redes” são malhas monofilamentos utilizadas na Austrália, EUA e na África do Sul que tem por objetivo capturar os tubarões, reduzindo assim a sua população na área pretendida, modelo que condenamos. As Telas do Instituto Praia Segura receberam licenciamento para experimento científico, expedido pelo ICMBio, UFRPE e CEMIT. Dois testes de inocuidade ambiental foram realizados pela UFRPE, sob a coordenação do professor Fábio Hazin, tendo sido o equipamento aprovado. Este modelo é o único no Brasil que já foi testado e aprovado por uma instituição pública, a UFRPE. O equipamento não tem por objetivo matar os tubarões, e sim, mantê-los afastados dos frequentadores da praia através de uma pequena área de segurança. Pode inclusive passar a ser um atrativo turístico para nosso estado, juntamente com a construção de um Oceanário.
O custo para a implantação das Telas é totalmente viável, mais barato do que a cura das feridas físicas e emocionais das vítimas dos ataques, bem como ao custo da recuperação da imagem do nosso estado. Deste modo, caso seja do interesse do governo, ofereceremos gratuitamente todo o nosso know-how, tecnologias, estudos e licenciamentos das Telas, que poderão ser utilizadas para proteger os banhistas; viabilizar a prática de esportes náuticos e mostrar que é possível a convivência pacífica entre homem e tubarão.
No momento, o que temos a dizer é que se não agirmos, perderemos nosso litoral, perderemos nosso meio ambiente. Todos nós perderemos, inclusive os responsáveis, ou “irresponsáveis” por este desastre. A culpa também é sua. A culpa é toda nossa!
*Sérgio Murilo Filho é advogado, Ativista Social, Presidente do Instituto Praia Segura. Texto colaboração /Blogdellas. @sergio_murilo_filho
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