Andrea Gomes: da infância nos mangues do Recife aos palcos internacionais da beleza

Cabelereira pernambucana é a única brasileira finalista do Talent Green House 2024, que será realizado em Berlim

Inspirada nos manguezais de sua infância no Recife, a pernambucana Andrea Gomes de Oliveira, de 47 anos, conquistou uma vaga entre os 10 finalistas do Talent Green House, como única representante do Brasil e da América Latina na disputa.O evento acontece entre 3 e 8 de outubro, em Berlim, na Alemanha, sendo promovido pela marca italiana Davines, reconhecida mundialmente pela defesa da sustentabilidade.

Para chegar à final do concurso, Andrea passou por quatro fases, que incluíram desde a criação de conceitos escritos até campanhas de mídia social. Cabelereira há 14 anos, é atualmente  parceira do Salão Espaço Depp, localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife.O cabelo que a destacou no Top 100 do Talent Green House foi inspirado nas belezas das praias, com tons dourados que evocam o brilho do sol e a textura dos fios ao vento do mar.

Crescendo no bairro dos Coelhos, em uma área cercada por palafitas e vegetação densa dos mangues, Andrea aprendeu desde cedo a lidar com adversidades. Como as raízes entrelaçadas das árvores do mangue, que se fortalecem mutuamente, ela encontrou apoio em sua família e em sua fé, que sempre a mantiveram firme em tempos difíceis.O encontro com a igreja evangélica, aos 7 anos, foi um marco em sua vida, trazendo a força e os valores que ela carrega até hoje. “A igreja me ensinou sobre valorizar a família, viver em equipe e formar o caráter”, relembra Andrea, destacando como esses ensinamentos influenciam tanto sua vida pessoal quanto sua carreira.

Uma jornada profissional de resiliência

Sua carreira começou cedo, quando, ainda adolescente, ajudava nas faxinas das vizinhas e vendia produtos porta a porta para ajudar a família. Com o tempo, decidiu que queria uma profissão que lhe permitisse ser criativa e autônoma. Foi então que encontrou a vocação de cabeleireira, ingressando em cursos de especialização e se dedicando ao aprendizado contínuo.

Andrea passou por diversos desafios, incluindo a maternidade solo, que enfrentou com a mesma resiliência das árvores dos manguezais. “Voltei a trabalhar e fiz muitos cursos na área para me especializar”, diz ela, revelando o quanto se esforçou para crescer na profissão.

A virada no Talent Green House e a inspiração nas cores do caranguejo

A grande virada na carreira de Andrea veio quando ela se inscreveu no Talent Green House, um dos concursos internacionais mais prestigiados do mundo no setor de beleza. Ao longo do concurso, Andrea teve que criar conceitos criativos e técnicos, sempre conectando suas criações às suas raízes nordestinas e ao meio ambiente.

Foi no desafio final, que exigia um conceito original que refletisse sua cultura e identidade, que Andrea encontrou a inspiração no mangue de sua infância.Inspirada pela cultura pernambucana e pela obra de Chico Science, Andrea desenvolveu um conceito que une beleza e sustentabilidade, temas centrais do concurso.

Sua proposta, baseada nas cores vibrantes e nos elementos dos manguezais, foi um sucesso e a colocou entre os 10 melhores cabeleireiros emergentes do mundo. Foi das cores de um elemento comum ao ecossistema do mangue que surgiu a sua grande ideia: o caranguejo.As tonalidades laranja, dourado e marrom – predominantes no caranguejo – foram traduzidas por Andrea em uma coloração capilar inovadora.

“Usei o laranja como cor principal, com dourado nos pontos de luz e um esfumado marrom na raiz, para dar profundidade. A ideia era refletir a beleza vibrante e natural do caranguejo, algo que é simples e, ao mesmo tempo, cheio de vida”, explica.

A criação foi um sucesso e impressionou os jurados, garantindo sua vaga no top 10 do concurso. “Minha ligação com o mangue do Recife existe desde a infância. A escolha das cores reflete a vitalidade desse ecossistema, assim como a simplicidade e beleza do ambiente”, afirma.

Um legado de transformação
Para Andrea, seu trabalho como cabeleireira vai muito além da estética. Ela enxerga a profissão como uma forma de transformação pessoal e elevação da autoestima. “Quando você vem fazer o cabelo, não é só por fora. A gente vai elevar a sua autoestima. É um processo interno, é da alma”, ressalta.

“Eu quero ser a pessoa que vai mudar a história da minha família. Quero inspirar meu filho, meus sobrinhos, a buscarem a educação, a colocarem Deus e a família em primeiro lugar. Esse é o meu legado”, declarou Andrea, com o mesmo espírito resiliente que a fez florescer em meio às adversidades.

Concorrentes- Os outros nove finalistas vêm de países como Alemanha, Reino Unido, África do Sul, França, Turquia, Estados Unidos, Austrália, Luxemburgo e Malásia. Agora, a pernambucana enfrentará uma última prova: em quatro horas, precisará criar ao vivo um conceito completo de corte, coloração e estilo, mostrando toda a sua técnica e visão.

A final será realizada no dia 8 de outubro, e o vencedor ganhará, além do troféu, a oportunidade de se apresentar em um show internacional no próximo World Wide Hair Tour, um evento da Davines que reúne profissionais de cabelo de todo o mundo.

Redação com assessoria Foto: reprodução/divulgação

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