André confia na vitória e afirma

“quero ser o senador de Pernambuco”

 


É conhecida na política brasileira a história de pessoas que perdem oportunidade de concorrer a um cargo, quando tudo leva a crer que aquele é o seu momento. Chama-se a isso de “deixar de montar um cavalo selado”. O pré-candidato a senador, deputado federal André de Paula (PSD), fez diferente. Como na música de Geraldo Vandré – “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” –  André recebeu da Frente Popular a promessa de ser candidato a senador pelo grupo este ano mas acabou preterido. Apenas dois dias depois, declarou-se candidato na chapa da também deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) que está em primeiro lugar nas pesquisas, após romper – assim como André – com a mesma frente.

Só coragem e grande confiança no seu momento e na necessidade de montar o cavalo selado,  explicaria um gesto dessa magnitude. André não pensou duas vezes. Assim como lá atrás saiu do PFL, ajudou a fundar o PSD, e aliou-se ao ex-governador Eduardo Campos, tomou outra atitude inesperada. Mas ele se considera maduro para isso. Afinal, com muita experiência,  começou na vida pública como vereador em 1989, após participar do movimento estudantil na Faculdade de Direito da UFPE, onde se formou. Não teve tempo de fazer carreira como advogado. Discípulo de um dos políticos mais experientes e admirados de Pernambuco, Marco Maciel, foi eleito deputado estadual em 1991 e, reeleito, decidiu depois se candidatar a deputado federal em 1998. Está no sexto mandato. No momento é segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados.

Em entrevista ao Blogdellas André diz “buscar o conforto de mais um mandato proporcional relativamente tranquilo nessas eleições não eram minha opção”, daí ter decidido, apesar das dificuldades de percurso, tentar mesmo o senado. “Serei o senador de Pernambuco”, proclama. Afável, cordato, educado, André é apontado como capaz de conseguir desde votos à esquerda por acompanhar Marília mas também por ter deixado muitos amigos no PSB,  ao centro e à direita.

André se define como um “político de centro” , fala de como vai se comportar na campanha, defende Marília e diz que será fiel aos compromissos que ela assumir com o povo pernambucano. Aqui a conversa que ele teve com Terezinha Nunes;

                                

“Sou um político de centro”

 

Blogdellas: Pernambuco vai viver este ano uma das eleições mais disputadas para governador e senador. Para quem deixou um mandato certo de deputado federal a situação atual favorece ou dificulta mais a luta pelos votos?

André de Paula – A minha decisão de disputar uma vaga no Senado Federal é decorrência de uma longa trajetória na vida pública: vereador do Recife, deputado estadual por duas vezes, seis mandatos de deputado federal e secretário de Estado em duas oportunidades. Todas essas etapas me prepararam para viver este momento. Estou pronto e muito motivado para servir a Pernambuco e para lutar por Pernambuco – agora, no Senado. Os pernambucanos sempre foram muito generosos comigo e estou convicto de que a melhor forma de agradecer é enfrentar esse desafio: chegar ao Senado e defender, de forma intransigente, os interesses de Pernambuco e dos pernambucanos. Portanto, buscar o conforto de um mandato proporcional relativamente tranquilo nessas eleições não era uma opção.

Blogdellas: Está prevista uma polarização grande na eleição entre Lula e Bolsonaro e isso vai repercutir no pleito estadual. Que espaço o sr. vai ocupar nesta verdadeira conflagração ideológica entre o palanque mais à esquerda, onde estão PSB e PT , e o bolsonarismo que favorece um palanque de direita? Estaria mais para uma terceira via?

André de Paula: Vou estar onde sempre estive. Sou um político de centro. A minha ideologia é servir às pessoas, lutar contra as injustiças sociais, priorizar os excluídos, aqueles que não são percebidos e alcançados pela ação do Estado. Convivemos, hoje, com a volta da inflação, que corrói o poder aquisitivo das pessoas; com o desemprego, com o subemprego e, o que é mais grave, com a fome, que recoloca o nosso País, de forma vergonhosa, no mapa da fome do mundo – um grande retrocesso social. São enormes os desafios, e só vamos vencê-los se tivermos a capacidade política de transpor as divergências ideológicas e somarmos todos os brasileiros, sejam eles de esquerda, direita ou de centro, que se dispõem a enfrentar esses problemas com a prioridade que eles merecem. Isso é um pouco do que enxergo nessa eleição e na aliança política construída entre dois adversários históricos: o presidente Lula e o seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin. O Brasil real e a dura realidade dos brasileiros devem vir sempre em primeiro lugar.

 

 

Blogdellas – Até hoje, nem mesmo saindo da Frente Popular por ter sido preterido, o sr. fez uma crítica sequer ao governador Paulo Câmara, ao candidato Danilo Cabral ou qualquer outro membro do grupo. Em Pernambuco tradicionalmente valoriza-se muito o político que “não leva desaforo para casa”. Os tempos mudaram?

André de Paula: Sou dos que preferem ressaltar as virtudes do meu candidato (que, no caso de Marília Arraes, são muitas) a desqualificar os adversários. As críticas, seguramente, vão ocorrer, mas vão se dar no campo administrativo e político, sem resvalar para as questões de ordem pessoal.

“Quero ser julgado  pela longa trajetória que venho cumprindo na vida publica” 

 

Blogdellas:  Fala-se muito na possibilidade de que o Sr, mesmo estando em um palanque que apoia Lula, venha a obter votos dos eleitores de centro-direita no estado. Acha que isso vai ser possível? Esse eleitor que certamente não gosta de Lula, vai entendê-lo?

André de Paula:  Quero ser o senador de Pernambuco, o senador de todos os pernambucanos, votem eles igual a mim, no ex-presidente Lula, ou não. No entanto, ser o senador de todos os pernambucanos não implica em não ter lado ou não defender com clareza um caminho. Significa que tenho a exata dimensão do cargo que busco ocupar e que terei compromisso de ouvir, defender e respeitar também os pernambucanos que não fizerem a opção pelo meu nome.

Blogdellas:   Que argumentos o Sr. vai utilizar para convencer o eleitor a elegê-lo senador? Falando para o estado de Pernambuco, de que forma uma vitória sua vai contribuir para resolver nossos problemas?

André de Paula: Quero ser julgado pela longa trajetória que venho cumprindo na vida pública e pela forma como tenho exercido os mandatos que os pernambucanos, generosamente, têm me conferido. Quero colocar a experiência, o conceito, o trânsito que construí em Brasília à disposição do meu Estado. O senador cumpre um papel fundamental na defesa do Estado. Serei o senador da governadora Marília Arraes. Os compromissos que ela vai assumir com os pernambucanos serão os meus também. Vou lutar, de forma incansável, para assegurar os recursos e o apoio que ela vai precisar para fazer um governo que vai transformar para melhor a vida dos pernambucanos de todas as regiões.

Blogdellas – Causou espanto para algumas pessoas sua presença na visita do presidente a Pernambuco durante a enxurrada que matou mais de 100 pessoas e quando nem sua candidata a governadora estava lá nem o governador Paulo Câmara. O que aconteceu?

André de Paula – Causa espanto perceber que aquilo que deveria ser regra, acaba sendo exceção. Pernambuco vive a maior calamidade de sua história. Até aqui, sabe-se que 128 pernambucanos morreram e que milhares de famílias perderam tudo que construíram ao longo de suas vidas. Quatro ministros de Estado vieram aqui, conhecer de perto toda essa catástrofe e anunciar medidas que mitiguem os sofrimentos dos nossos irmãos. Sou deputado federal e, também, o segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados. Desde o momento inicial da tragédia, procurei fazer contato com ministros e órgãos da Defesa Civil, e considero natural o meu interesse pelas medidas anunciadas. O momento, agora, é de cobrar do Governo Federal a imediata implantação de tudo que foi anunciado para Pernambuco.

 


Blogdellas: O Sr.  sempre foi considerado um macielista de forma que causou espanto o seu apoio ao então governador Eduardo Campos, palanque que até hoje não agrada o macielismo. Como explica esse gesto que surpreendeu muita gente?
 

André de Paula: O ex-senador Marco Maciel é fonte permanente de inspiração para mim. Um exemplo de homem público íntegro e honrado. Um político com ‘P’ maiúsculo. Foi ele quem me incentivou a entrar na vida pública. Marco Maciel era um homem de diálogo, um democrata. Inclusive, é de autoria dele uma frase que, para mim, é dogma de fé: “Devemos buscar sempre, entre o que nos separa, aquilo que pode nos unir, porque, se queremos viver juntos na divergência, princípio vital da democracia, estamos fadados a nos entender”. Eu era presidente estadual do PFL, partido que tinha em Marco Maciel o seu maior líder, quando ele comandou a construção de uma das mais importantes alianças políticas que Pernambuco já viu: a aliança com o seu maior adversário político até então, Jarbas Vasconcelos, naquilo que se denominou “União por Pernambuco” e que foi fundamental para viabilizar importantes avanços para o nosso Estado. Aprendi com Marco Maciel que política que se faz somando, juntando, unindo, construindo pontes entre as pessoas e, sobretudo, colocando o bem comum à frente das divergências pessoais e políticas.

Redação Blogdellas – Entrevista Por Terezinha Nunes – Fotos: Divulgação

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