A tradição da desigualdade – Por Daniela Rorato*
Viral o assunto do casamento de um bilionário indiano cuja existência era desconhecida antes de Rihanna e Justin Bieber abrirem as festividades do seu enlace.
O casamento é uma instituição tradicional da Índia, muitas vezes uma triste demarcação de castas ostensivas, que neste caso, foi levado ao delírio deslumbrativo de gastar o equivalente a 3 bilhões de reais na festança.
Recentemente a Índia ultrapassou a população da China e hoje tem 1,4 bilhões de habitantes. Sendo que o território da Índia é três vezes menor que o da China, que tem 9,5 milhões de km, ou seja, a Índia tem uma extensão territorial de 3 milhões de km habitada de forma desigual e amontoada, onde 60% dela, cerca de 800 milhões de pessoas vive com menos de US$3 por dia (dados do Banco Mundial). A maioria da população vive em situação de miséria.
Quando de repente você vê em todos os telejornais e nas redes sociais que o bilionário Anant Ambani, tá desembolsando 3 bilhões de reais para custear sua festa de casamento.
O que pensar sobre? Como não se chocar diante da realidade da Índia?
Delirei aqui que seria muito bacana o rapaz transformar o seu enlace num programa social em prol de tantas pessoas em situação de miséria, afinal, ele já tem tudo. Mas ele preferiu fazer um mês de festa com desembarque de celebridades como Kim kardashian fazendo presença VIP.
Ao que parece, na Índia e também no mundo, algumas tradições são hipervalorizadas.
O tal “casamento indiano” é símbolo convencional de castas privilegiadas e ostensivas, que usam essa tradição como motivo para pretextar com naturalidade a desigualdade social. Ao que parece, no mundo todo, ainda perdura essa “tradição” perversa e usual, de banalizar a ostentação, a imodéstia e a fanfarrice. Talvez numa tentativa de naturalizar a desigualdade gritante. A gente vê isso diariamente nos “unboxing” e “arrume-se comigo” da vida, expressão egóica denominada “conteúdo”.
São comportamentos que continuam a desequilibrar a busca justa do que seria a equidade e dignidade humanas.
Daniela Rorato é jornalista*
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