A tese dos dois palanques de Lula em Pernambuco e as chances que tem de vingar

A declaração do presidente Lula (PT) apontando para possibilidade de dois palanques em Pernambuco em 2026 virou o assunto da semana
“Lula não daria essa declaração sem ter ciência do seu impacto. Ele é sábio. Ele sabe porque disse, o que disse” – a análise é da senadora Teresa Leitão (PT) ao se referir a um assunto que, há uma semana, é o mais comentado nos meios políticos pernambucanos: a declaração dada pelo presidente Lula no último domingo no Congresso Nacional do PSB que elegeu o prefeito João Campos presidente nacional do partido e que deve enfrentar a governadora Raquel Lyra, candidata à reeleição, em 2026.
Diante de um João mais sério do que o habitual, Lula afirmou, de forma aparentemente natural, que na eleição de 2026 os partidos que o apoiarem devem ter em mente a possibilidade de trabalhar com dois palanques em alguns estados e citou, de pronto, a eleição pernambucana de 2006 em que ele teve o apoio dos candidatos a governador pelo PT, Humberto Costa, e pelo PSB, Eduardo Campos.
Na época, os dois faziam campanhas separadas mas nas vezes em que Lula veio ao estado subiram juntos com ele no mesmo palanque, uma prévia do que aconteceria no segundo turno em que Eduardo, o vencedor, foi apoiado por Humberto e pelo PT e acabou derrotando o candidato Mendonça Filho, apoiado pelo governador Jarbas Vasconcelos, do qual foi vice.
PSB reage
Além do semblante fechado de João Campos, ao ouvir as palavras de Lula, o PSB acusou o golpe e cuidou, nas palavras do presidente estadual Sileno Guedes, a tirar por menos afirmando que, na verdade, Lula estava se referindo ao bom relacionamento entre os dois partidos e não a uma possibilidade de dois palanques para 2026.
Outro líder estadual do partido, o deputado Waldemar Borges, foi mais explícito quando disse a este blog: “ não há possibilidade de João e Raquel subirem no mesmo palanque como fizeram Eduardo Campos e Humberto Costa em 2006. A realidade é outra e não existe, ao contrário do que acontecia lá atrás entre PT e PSB, nenhuma afinidade entre o PSB e o PSD da governadora”.
Na verdade, no caso de João e Humberto, houve ocasião em que o palanque virou um só e não dois, como propôs Lula. Mas, passados alguns dias da declaração que foi comemorada intramuros no entorno da governadora Raquel Lyra, a própria banda do PT que está declaradamente apoiando o prefeito João Campos já passa a manifestar dúvida sobre o que pode vir a acontecer.
O atual presidente do PT/Recife, Cirilo Mota declarou esta quinta-feira que não acredita que o partido reveja a posição de ser oposição à governadora mas adiantou “se é possível, ninguém teve coragem de colocar”.
Parte do PT já apoia Raquel
Cirilo esqueceu que hoje o PT está dividido ao meio no estado e uma banda expressiva dele já está apoiando a governadora como é o caso da bancada do partido na Assembleia, que faz parte da base governista com três deputados, de ex-prefeitos e dos atuais prefeitos petistas que caminham no mesmo sentido.
Na quinta-feira o prefeito petista de Tabira, Flávio Marques, não só declarou apoio à reeleição de Raquel como disse que vai trabalhar dentro do partido para que ele adote o mesmo caminho. Este blog apurou que mais dois estão a caminho do Palácio.
Da mesma forma não é segredo para ninguém que o senador Humberto Costa não morre de amores pelo PSB e não seria obstáculo a um entendimento mais firme com a governadora. Humberto queria ser candidato a governador em 2022 mas João não permitiu argumentando que o PSB não abriria mão da disputa pelo cargo.
Hoje no PT de Pernambuco o comprometimento com o prefeito João Campos é sentido, de forma mais nítida, na direção do Recife e no grupo mais ligado à senadora Teresa Leitão. Humberto sequer quis participar da partilha de cargos na Prefeitura do Recife embora, como presidente nacional interino do PT, tenha comparecido ao Congresso nacional do PSB que consagrou João Campos como presidente da legenda.
A interpretação do PT
Entre os petistas que não guardam paixão nem por um lado nem pelo outro a interpretação dada ao discurso feito por Lula falando em dois palanques e citando Pernambuco é a de que o presidente não só teria buscado preparar os socialistas para a possibilidade de terem que dividir com Raquel a força do seu nome no estado, mas deixado claro que o entendimento para 2026 não repetirá 2024 quando o PT engoliu seco a decisão de João Campos de não assegurar a vice ao partido mesmo diante da escolha feita pelo médico Mozart Sales, o que foi considerado nos bastidores “uma humilhação”.
Chegaram aos ouvidos de algumas lideranças petistas que João Campos teria sondado a prefeita petista de Serra Talhada, Márcia Conrado, para compor sua chapa como vice. Esse blog apurou que a prefeita agradeceu mas disse que a vez em 2026 é do senador Humberto Costa. O gesto, no entanto, fez o grupo de Humberto e a própria senadora Teresa Leitão colocarem as barbas de molho.
Lula não foi atendido pelo PSB em 2022
Foi lembrado em conversas desse grupo que em 2024 Lula fez um apelo claro a João Campos para assegurar a vice do Recife ao PT mas não foi ouvido e não quis criar problema, porém no o próximo ano não permitirá que isso aconteça, sobretudo porque encara a eleição para o Senado como mais importante do que a de governador. Pela forma como trata Humberto e é tratada por ele não há dúvida nos meios políticos estaduais que a governadora não teria problema em assegurar uma vaga no Senado ao senador do PT.
A cientista política Priscila Lapa acha que os dois palanques para Lula em Pernambuco “são não só possíveis como plausíveis. A relação do PT com o PSB no estado tem sido controversa através dos anos e a governadora Raquel Lyra conseguiu manter durante o processo eleitoral e no mandato uma posição de neutralidade ideológica no sentido administrativo, abrindo espaço para um entendimento com o PT”.
O que Raquel e João farão se a tese vingar
Segundo ela, “Raquel usou um viés correto de parceria com o Governo Lula citando o interesse do estado mas sem apelar para posições ideológicas, apesar de ter pessoas de direita em algumas funções em sua administração. Ela tem elementos suficientes para mostrar que não romper com Lula mas se entender com ele beneficiou Pernambuco”.
– “Não se pode negar – adianta – que existe um alinhamento forte entre Lula e João Campos mas isso não é impedimento para que o presidente também se entenda com Raquel na disputa do próximo ano. Se isso acontecer, não faz sentido João Campos romper com Lula. O mais provável é que ele aceite pois romper não é o melhor caminho. Já para ela é conveniente a aliança com Lula partindo do discurso administrativo que será, perfeitamente, entendido pela população”.
*Texto de Terezinha Nunes, editora do Blogdellas, Publicado em 08/06/2025 no Jornal do Commercio
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