A perda da audição aumenta o risco para a demência
Em 2020, a comissão da revista científica The Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidado da demência apontou que cerca de 8% dos casos no mundo podem estar associados à deficiência auditiva, enfatizando a importância do problema na epidemiologia da doença.
Mas utilizar aparelhos auditivos para reverter essa perda pode minimizar esse risco? Foi o que um time internacional de pesquisadores buscou responder a partir da análise de dados de quase 438 mil britânicos, disponíveis no banco de dados de saúde do Reino Unido, o UK Biobank. O novo estudo foi publicado nesta semana no periódico The Lancet Public Health. Segundo a conclusão do trabalho, idosos que têm perda da audição, mas utilizam aparelhos auditivos para corrigir o problema, passam a ter um risco para demência reduzido para o mesmo nível daqueles que não enfrentam a perda.
“Estão crescendo as evidências de que a perda auditiva pode ser o fator de risco modificável de maior impacto para demência na meia-idade, mas a eficácia do uso de aparelhos auditivos na redução do risco de demência no mundo real ainda não está clara. Nosso estudo fornece a melhor evidência até o momento para sugerir que os aparelhos auditivos podem ser um tratamento minimamente invasivo e econômico para mitigar o impacto potencial da perda auditiva na demência”, afirma Dongshan Zhu, professor da Universidade de Shandong, na China, e autor do estudo, em comunicado.Durante a análise das centenas de milhares de britânicos, os pesquisadores relacionaram as informações sobre casos de perda auditiva e de uso de aparelho, coletadas por meio de questionários, com os registros hospitalares e de óbitos que apontavam um diagnóstico de demência. Os indivíduos foram monitorados por um intervalo de 12 anos e tinham em média 56 anos no início.
Cerca de um quarto das pessoas (112 mil) tinham algum nível de perda da audição, mas apenas 11,7% delas usavam aparelho auditivo. Após corrigir outros fatores que poderiam influenciar no risco para demência, os pesquisadores observaram que aqueles com a deficiência que não utilizavam o dispositivo tinham uma chance 42% maior de desenvolver um quadro de demência. orém, entre os que tinham o problema na audição, mas utilizavam aparelho, foi observado um aumento de apenas 0,4% em comparação com a população saudável, mudança no risco considerada insignificante pelos pesquisadores. “A perda auditiva pode começar antes dos 40 anos, e há evidências de que o declínio cognitivo gradual antes de um diagnóstico de demência pode durar de 20 a 25 anos. Nossas descobertas destacam a necessidade urgente da introdução precoce de aparelhos auditivos quando alguém começa a ter deficiência auditiva”, enfatiza DongShan Zhu.
“É necessário um esforço conjunto de toda a sociedade, incluindo a conscientização sobre a perda auditiva e as possíveis ligações com a demência, aumentando a acessibilidade aos aparelhos auditivos reduzindo custos, e mais apoio para os profissionais de cuidados primários para rastrear deficiência auditiva, aumentar a conscientização e fornecer tratamento, como a adaptação de aparelhos”, acrescenta o professor.
Por que a perda auditiva aumenta o risco para demência?
Embora os mecanismos não sejam completamente compreendidos, os autores escrevem que existem algumas possíveis explicações para a relação entre audição e perda cognitiva. Entre elas, apontam a realocação de recursos cognitivos para processar o que está sendo ouvido e a deterioração da cognição devido à privação de entradas auditivas a longo prazo, ou seja, espaços maiores de tempo sem estímulos por meio da escuta. Além disso, apontam que o risco pode estar associado ao isolamento social causado pela deficiência na audição. Por fim, sugerem que pode ser também que um mesmo processo neurodegenerativo ocorra no cérebro durante o envelhecimento que leve tanto ao declínio cognitivo, como à perda auditiva, hipótese em que ambos aconteceriam de forma simultânea, e não causal. Porém, a evidência de que os aparelhos podem reverter esse risco é bem-vinda, afirmam os professores Gill Livingston e Sergi Costafreda, da University College of London, no Reino Unido, que não participaram do estudo. Em um comunicado conjunto, os especialistas dizem que “as evidências são convincentes de que o tratamento da perda auditiva é uma maneira promissora de reduzir o risco de demência”. “Esse é o momento para aumentarmos a conscientização e detecção de perda auditiva, bem como a aceitabilidade e usabilidade de aparelhos auditivos”, orientam.
Como reduzir o risco de demência?
Além de usar aparelhos em caso de perda da audição, há outros hábitos simples que podem auxiliar a reduzir o risco de desenvolver um quadro de demência – síndrome causada por um conjunto de diagnósticos que leva a um comprometimento cognitivo, entre eles a doença de Alzheimer. Em um estudo publicado na revista científica Neurology, pesquisadores do Centro Médico da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, avaliaram o impacto de sete hábitos, já preconizados pela Associação Americana do Coração para uma melhor saúde cardiovascular, nessa redução. Após uma análise de três décadas, eles observaram que os “7 simples da vida”, como as ações são conhecidas, conseguem reduzir em até 43% o risco de demência, a depender da adesão, até mesmo para aqueles com predisposição genética.
De forma resumida, as sete práticas para se incorporar ao cotidiano são:
*Permanecer ativo;
*Adotar uma alimentação saudável;
*Evitar o sobrepeso;
*Não fumar;
*Manter a pressão arterial adequada;
*Controlar o colesterol e controlar
a taxa de açúcar no sangue.
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