A luz dos dias – Por José Carlos Poroca*

 

Para quem tem dúvidas se existem gênios de lâmpadas como Aladim, informo que sim. Ainda criança, encontrei uma “coisa” num terreno baldio perto da minha casa. Peguei o objeto, sujo, enferrujado, dei uma esfregada e surgiu um gênio que estava preso na lamparina. A aparência era bem diferente dos gênios que aparecem nos filmes e desenhos. O “meu” tinha feições, roupa e trejeitos de Cantinflas (²).

Num primeiro momento, assustado, quis correr, mas as pernas não obedeciam. Foi quando escutei a voz meio rouca do gênio dizendo que podia escolher ser “hermoso y sabroso” ou “rico y poderoso”. Pensei que, se optasse pela primeira oferta, conseguiria atingir a segunda. Dei a minha resposta e … zupt!… gênio e lâmpada sumiram. Hoje, arrependido, vi que a opção correta seria a dois. O gênio deixou por minha conta e risco obter a que ficou relegada.

Tenho outros arrependimentos e vou confessar mais um: não ter anotado as histórias contadas pelo avô materno e pelo primeiro sogro, que era libanês e comeu o pão que o diabo amassou quando o Líbano estava sob o domínio turco. Veio para o Brasil – junto com a mãe e irmãos – quando o seu país já vivia uma administração compartilhada com a França.

Por falar em guerra, li, há pouco, o excepcional, surpreendente, emocionante e doloroso livro-documento “A Luz dos Dias”, de Judy Batalion, canadense de origem judaica, que não caiu no conto do gênio. Narra a participação de mais de 400 jovens mulheres, judias polonesas, algumas adolescentes, que resolveram “partir para a luta”, em grupos de resistência contra os nazistas. Só a bibliografia ocupa 12 páginas, das 614 do livro, que consumiu 14 anos de trabalho da autora.

A obra apresenta a aptidão das mulheres em combater os nazis, se camuflando, mudando o corte do cabelo e o figurino e a esperteza em esconder armas e munição em certas partes do corpo. Muitas não sobreviveram, evidenciando o que se sabe: não existe guerra boa. Toda ela é cruel e é o que mais se aproxima daquilo que chamamos de horror. Aliás, a guerra é o que nos assemelha aos primatas que brigam, ferem e matam para marcar território.

Minha homenagem à professora Judy Batalion, à Ala, Anna, Bela, Chajka, Chayele, Faye, Framka, Gusta, Hela, Lonka, Minka, Niuta, Pnina, Renia, Ruzka, Sarah, Shoshana, Vitka, Vladka, Zelda, Ziviae e a todas as “arautas” daquele batalhão sem uniforme, que pintou e bordou contra as forças inimigas, usando sagacidade e astúcia para combater os horrores do conflito que matou milhões de pessoas e que, pelo visto, não serviu de exemplo: outros vieram e, agora, mais um (Rússia x Ucrânia), que não traz nenhum benefício para o mundo; nem para eles.

* José Carlos Poroca é executivo do segmento shopping centers, escritor e colaborador do BlogDellas.

– (²) Mário Moreno, ator e humorista mexicano, sucesso no cinema (décadas de 40/50), considerado por Charles Chaplin como “o maior comediante do mundo”.

Foto: Divulgação

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