Opinião

O Voto fala!

O Voto fala!


Adriana Vilela Toledo*

Todas as mulheres estão cansadas de ouvir os números e as estatísticas da pífia participação das mulheres na política. Apenas apresentar esses dados não tem me parecido eficaz no convencimento às mulheres de que precisamos reagir.

Semana passada aconteceu no Senado Federal mais um evento que tratou do tema: Mais Mulheres na Política. Evento necessário foi bastante prestigiado, mas uma vez os dados foram amplamente repetidos tais como: somos a maioria da população (53%), somos a maioria do eleitorado, somos a pior participação da América Latina, estamos abaixo de países onde as mulheres usam burca. Outro dado repetido foi o estudo da ONU Mulheres que enfatiza, “se continuarmos assim levaremos 120 anos para conseguirmos a sonhada paridade”, no entanto algumas vozes tocaram profundamente e trouxeram vigor a discussão.

A deputada federal Tereza Nelma provocou as mulheres dizendo: “o voto fala”, podemos fazer isso em 3 de outubro, não precisamos esperar”. Então o que falta para essa virada de chave das mulheres? O que precisamos fazer para unidas, transformarmos essa realidade?

A organização Mulheres do Brasil está propondo um movimento Pula pra 50, fazendo um chamamento para que a legislação garanta 50% de cadeiras nos parlamentos brasileiros para mulheres. Sabemos que com a composição atual do Congresso Nacional isso nunca passará, então nossa alternativa é mesmo dar voz ao nosso poder de voto.

Outra fala marcante no evento do Senado foi da Ministra Carmem Lúcia, ela lembrou que nossa Constituição preconiza que somos uma democracia representativa, e nos fez refletir o que significa representatividade, e se de fato estamos garantindo a representatividade nas nossas casas legislativas, vide nosso 53% de população versos 12% de representação de mulheres nos parlamentos.

Ou seja, estamos longe! Outro ponto interessante abordado por ela foi o fato de que todo o arcabouço legal existente foi elaborado por homens, portanto não tem o olhar das necessidades femininas. Precisamos então estar no centro das decisões para darmos nossa contribuição e transformamos nossa sociedade garantindo direitos e buscando o enfrentamento e eliminação das desigualdades sociais.

A presença da mulher é tão questionável que há alguns anos, perguntaram a Ministra da Suprema Corte Americana, Ruth Ginsburg, grande figura da história norte-americana contemporânea, (lá são nove juízes), quantas mulheres seriam necessárias para que se tivesse atingido a maturidade da igualdade de homens e mulheres na sociedade norte-americana? E ela respondeu: “No dia em que forem nove”.

Será que aqui no Brasil nós poderíamos dizer isso? Logo um juiz de um tribunal superior disse: “Mas vocês querem igualdade ou hegemonia?” a Ministra Carmem Lúcia respondeu: “Engraçado, quando eram 11 homens no Supremo, que só foi rompido em 2000, com a chegada da Ministra Ellen Gracie, ninguém achava que era hegemonia, todo mundo achava que era igualdade”.

A atriz e escritora Maria Ribeiro também trouxe contribuições importantes ao debate. Tomo a liberdade de citar parte de seu discurso inspirador:

“a política, até aqui, não foi feita para nós. Nós não fomos convidadas. Na gênese de como as coisas acontecem, não nos perguntaram sobre o sistema eleitoral, sobre a forma como partidos foram construídos, sobre os pleitos ou sobre a cultura partidária em si. Isso tudo foi construído por homens…

Nós não recebemos o convite para a tal festa da democracia, pelo menos não até aqui. Mas não se enganem: apenas a nossa presença pode revolucionar a forma como a política é feita no Brasil e no mundo. E não é nem a gente quem está falando, países onde mais mulheres estão no governo têm menos corrupção. Repito: corrupção é menor onde mais mulheres participam do governo. Dá para dizer, então, que a cura para a corrupção, um tópico tão recorrente quanto epidêmico nos debates eleitorais, é feminina.

Mesmo que regras tenham sido criadas para garantir nossa presença, como a dos 30%, em 97, nós continuamos em menor número nos pleitos, e mais que isso: não recebendo votos.

Em 2016, as mulheres representaram 86% dos 18,5 mil candidatos que não receberam votos. Em alguns círculos sociais, inclusive, não somos sequer estimuladas a votar. Não votamos, não nos candidatamos, não nos elegem, e, quando eleitas, ou não nos ouvem, ou nos matam. Fica claro para a gente que a nossa ausência e invisibilidade na política não é um acaso; é um projeto.

A pergunta que se repete na cabeça de cada candidata: se o voto é igualmente direto, de homens e mulheres, por que não temos uma chance justa de sermos eleitas?

Quantas candidatas desistiram quando se viram sem o dinheiro da passagem para a próxima agenda? Quantas se sentiram humilhadas, disputando espaços em palanques alheios? Quantas levam seus filhos para esses espaços não por opção, mas por falta de opção? Se essas perguntas parecem distantes, experimentem o contrário.

Quantas vezes vocês se perguntaram: quem está cuidando dos filhos dos homens presentes nesta Casa?… Todas nós temos respostas para a pergunta que deixo aqui para ressoar: de 1927 até agora, o que realmente mudou para as mulheres na política?…

Aos que nos ignoram um último aviso: a gente pode até não ser convidada, mas somos muito boas de protesto. Como bem disse minha ilustre vizinha Carmen Lúcia: “Cala boca já morreu”.
Saímos todas do evento revigoradas. Falas desbravadoras e corajosas nos dão animo e delimitam a rota para avançarmos, na certeza de que estamos no caminho certo, o caminho da justiça social e da equidade. Como diz a deputada Tereza Nelma: Um mundo onde caiba todos nós!
Nós podemos e o Brasil precisa.

Mulheres, vamos às urnas, o voto fala!

*Pedagoga, especialista em Administração Pública e Integrante da Secretaria Nacional do PSDB Mulher.

Artigo compartilhado pelo blogdellas /CadaMinuto.

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