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Francisco, o papa dos excluídos- por Terezinha Nunes*

Quando anunciou o nome que adotaria como Pontífice, Jorge Mário Bergoglio, o argentino que tornou-se o primeiro papa latino-americano, não deixou dúvida do caminho que adotaria: quis chamar-se de  Francisco, o santo dos oprimidos. Contou depois que inspirou-se no que lhe dissera o cardeal brasileiro e seu amigo, Dom Cláudio Hummes, que o abraçou e soprou ao seu ouvido: “não esqueça dos pobres”, enquanto ele se dirigia aos católicos apresentando-se pela primeira vez como o novo papa na frente da Basílica de São Pedro, em Roma.

De hábitos simples, Francisco, ainda como arcebispo de Buenos Aires, costumava andar de ônibus ou de trem, carregando sua pasta com poucos pertences. E assim continuou bastante tempo em suas viagens internacionais. Descia do avião com sua pasta, apesar da dificuldade de locomoção, e só depois, na hora de cumprimentar as autoridades, a entregava a um dos seus auxiliares. Adotou em Roma o mesmo estilo. Quis residir não nos aposentos normalmente habitados pelos antecessores. Foi se abrigar na Casa Santa Marta, um pequeno edifício do Vaticano, onde fazia refeições ao lado de padres e leigos residentes ou abrigados, temporariamente, na Santa Sé.

O ví no estádio de Roma, em um encontro com a Renovação Carismática Católica, elogiar o pernambucano Gilberto Barbosa, fundador da Obra de Maria, que assumia na ocasião o comando mundial da Renovação, pelo desprendimento de escolher não manter apartamento no Vaticano e nem o salário normalmente pago às pessoas dedicadas a uma missão especial. A escolha de Gilberto, que passou por ele, foi inusitada. O posto era até então ocupado por pessoas poliglotas e Gilberto, como disse na ocasião, “só falo e muito mal, o português”.

Francisco sorriu da franqueza de Gilberto que se expressou em português, ao contrário dos demais oradores. O papa brincou quando indagado sobre como seria visto pelos brasileiros que tinham, no futebol, uma rixa com os argentinos: “sou argentino mas Deus é brasileiro”. Francisco morreu sem visitar seu pais de origem – prometia fazê-lo em breve – mas esteve duas vezes no Brasil.

De Roma, no entanto, levou para todo o mundo a mensagem de um homem que defendia os oprimidos e combatia toda forma de violência. Em sua última mensagem desejou paz ao mundo e ainda conversou com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, manifestando, mais uma vez, sua preocupação com o combate à imigração posta em prática pelo presidente Trump, e pediu, como sempre fazia, a paz em Gaza e na Ucrânia.

Foi o último gesto de coragem de quem não temia pregar o respeito aos diferentes e combatia toda forma de opressão. Por conta da abertura para receber a todos, viessem de onde viessem, ele ficou conhecido como “o papa pop”, ao receber roqueiros devidamente paramentados no Vaticano, e ao dizer que a Igreja precisava tratar com misericórdia os homossexuais “Se uma pessoa é gay e busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”- indagou em entrevista. Depois afirmou que os padres poderiam abençoar os homossexuais como abençoam outras pessoas. 

Posições desse tipo que buscavam não mais que a misericórdia divina fizeram Francisco enfrentar resistências dentro da própria Igreja. Nas ocasiões, o próprio Vaticano se encarregava de publicar notas oficiais explicando que o papa – ao contrário do que diziam os conservadores- não aprovava o casamento de homossexuais apenas dizia que eles precisavam de benção, um gesto comum na Igreja para todas as pessoas que a pedem a um padre ou um bispo.                 

Na Jornada Mundial da Juventude que aconteceu em Lisboa, ele, mais uma vez, expressou sua luta por uma Igreja mais simples e despojada. Falou claramente em uma Igreja que “caminha com as pessoas; uma Igreja que é mãe e que abrace os seus filhos, especialmente os que sofrem mais”. Este legado de Francisco ficará para sempre entre os  católicos e cristãos de outras denominações que o viam como uma ecumenista, interessado em aproximar cada vez mais as religiões.

O Papa dos Oprimidos deixou seu legado inclusive na defesa intransigente da natureza. Tudo que pregou ficará sempre presente em sua imagem como símbolo de um São Francisco do século XX que pregou e usou da misericórdia em todos os momentos de sua vida.

Não sai da memória a sua imagem caminhando sozinho na Praça de São Pedro, por ocasião da Páscoa, cujas celebrações públicas foram proibidas por conta de epidemia da Covid 19.    

 

A jornalista Terezinha Nunes é editora do Blogdellas Foto: arquivo

e-mail: redacao@blogdellas.com.br/terezinhanunescosta@gmail.com

            

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