Tragédia no clássico Sport/Santa Cruz: estava tudo na Internet
”Vamos invadir o chiqueirão”, bradou nas redes a “jovem” do Sport. A do Santa teve ônibus grátis e estava armada
Não poderia dar em outra coisa a arregimentação feita dias antes do jogo Sport X Santa Cruz pelas torcidas organizadas dos dois times. Pelas redes sociais (reproduções acima e abaixo) elas convocaram concentrações que acabariam, como acabaram, em atos de selvageria que deixaram gravemente ferido e vítima de violência sexual o presidente da Jovem do Sport, João Victor, organizador da concentração dos rubro negros na frente da sede do clube de onde os jovens partiram em passeata para o Arruda até o fatídico encontro com os adversários. A agressão que sofreu foi exposta pelas redes e TVs para todo o país.
Se os torcedores do Sport prometiam no instagran “invadir o chiqueirão” , nome que dão ao Estádio do Arruda, os torcedores do Santa Cruz foram mais afoitos e ousados. Também pelas redes não esconderam a que se propunham. Informaram “os torcedores” que os grupos vindos de vários municípios metropolitanos deveriam se concentrar no Detran para o roteiro Caxangá/Torre/Arruda. Falaram que havia ônibus fretados para fazer o percurso Jaboatão Centro/Santo Aleixo/Br 232. Não escreveram mas as imagens mostraram que, ao contrário dos torcedores do Sport, os do Santo Cruz portavam também toras de madeira suficientes para, sendo utilizadas, provocar a morte de algum adversário.
A “ Explosão Inferno Coral” recomendou em um dos seus postes que os tricolores evitassem o metrô “ que também é usado para transporte da torcida rival” e se dizia “ à disposição para colaborar com as autoridades “ como se fosse possível concentrar milhares de torcedores pelas ruas, amedrontando a população onde passavam e conseguir que os mesmos garantissem “ a segurança e tranquilidade durante todo o trajeto”.
O mais inquietante, porém, sobre o que aconteceu é que, embora tudo estivesse exposto nas redes sociais dias antes, a área de Inteligência das Polícias não preparou um esquema para desfazer as aglomerações nos locais propostos antes que uma grande multidão se formasse e ficasse difícil – talvez inviável – a PM conter os verdadeiros marginais dispostos, pelo visto, a matar ou morrer.
Além de proibir torcidas nos jogos dos dois times, a governadora vai precisar descobrir porque não se agiu antes que o movimento chegasse ao ponto que chegou. E a partir de agora, como prometeu, criar um protocolo a ser cumprido nos dias de jogos para evitar novos problemas lamentáveis nas ruas da capital. Isso incluirá, evidentemente, a PM que não poderá ser “ surpreendida” em tempos de redes sociais. Acabar com a violência em dias de clássico nenhum dos últimos governadores pernambucanos conseguiu. Mas é preciso avançar e não retroceder.
Redação Blogdellas Fotos; reprodução instagram
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5 Comentários
Rafael Ramos
A violência pública no Brasil não é apenas uma questão ideológica, mas financeira e social. Construir cadeias e contratar policiais é caro, a manutenção do sistema penal exige recursos elevados, e punir gera ressentimento individual e social. A população, no entanto, não quer arcar com esse custo. Prefere que o Estado invista em saúde, educação e empregos públicos, enquanto a criminalidade segue seu curso. O sentimento dominante não é a busca por justiça, mas a indiferença: “bandido que se mate sozinho”.
Mesmo que leis mais duras reduzam o crime, sua eficácia é limitada sem um endurecimento extremo, o que demandaria gastos bilionários. Segundo estimativas feitas para os Estados Unidos, reduzir a violência em 80% exigiria o encarceramento de 4% da população, ao custo de US$ 500 bilhões. Além disso, um aumento de 10% na punição resulta em apenas 6% de queda no crime, e um ano adicional de pena evita, em média, sete crimes — seis contra o patrimônio e um violento (fonte: Prison and Crime: Much More Than You Wanted to Know, publicado no Astral Codex Ten). No Brasil, ninguém quer pagar esse preço. O envelhecimento populacional já aponta para uma queda natural da violência, então governantes optam por esperar, sem investir em segurança pública.
A leniência penal não protege os pobres — pelo contrário, são eles as principais vítimas. Enquanto ricos vivem protegidos, os mais vulneráveis enfrentam a criminalidade diariamente. Ainda assim, o brasileiro médio não vê sentido em gastar dinheiro com prisões, reforçando um ciclo de impunidade e violência.
A solução existe: endurecer leis e punir todos que infringirem a lei, ricos ou pobres. Foi assim que os EUA reduziram sua criminalidade nos anos 1990, com forte pressão social por medidas mais rígidas e a aprovação de leis severas, como a Violent Crime Control and Law Enforcement Act, sancionada pelo presidente Bill Clinton em 1994. Mas para isso, é preciso enfrentar um dilema fundamental: a sociedade está disposta a pagar o preço da punição? Até lá, a escolha social segue clara — tolerar altos índices de criminalidade e deixar o tempo resolver.
Rinaldo Silva
A questão da violência pública no Brasil revela-se, fundamentalmente, um desafio financeiro e de escolhas sociais. O alto custo da segurança pública – que engloba salários, aposentadorias especiais de policiais e construção e manutenção de presídios – colide com as preferências da população por investimentos em outras áreas, como saúde, educação e transferências diretas de renda.
Segundo dados do Astral Codex Ten, as evidências empíricas demonstram que a punição, para ser verdadeiramente efetiva na redução da criminalidade, precisa ser substancial. Um aumento de 10% na punição resulta em apenas 6% de redução no crime, e cada ano adicional de prisão previne aproximadamente sete crimes. Para alcançar uma redução significativa da violência, seriam necessários investimentos massivos – nos Estados Unidos, por exemplo, estimou-se que reduzir a violência em 80% exigiria o encarceramento de 4% da população, a um custo de 500 bilhões de dólares.
A sociedade brasileira, contudo, demonstra pouca disposição para arcar com esses custos. Predomina uma mentalidade de “bandido que se mate”, refletindo não apenas posicionamentos ideológicos, mas uma escolha social por outras prioridades de gastos públicos. Esta postura, ironicamente, prejudica principalmente os mais pobres, que são as principais vítimas da violência e não dispõem dos mesmos recursos de proteção que os mais abastados.
A perspectiva para os próximos 20 anos sugere uma queda natural nos crimes violentos devido ao envelhecimento populacional. Até lá, porém, o país continuará registrando elevados índices de homicídios – cerca de 38 mil por ano – como resultado dessa escolha social. A solução existe e passa pela reforma das leis penais e maior investimento em segurança pública, como demonstrou a experiência americana dos anos 1990, mas requer uma mudança significativa nas prioridades de gastos da sociedade brasileira.
Para reduzir a violência no curto prazo, seria necessário não apenas endurecer as leis, mas também garantir sua efetiva aplicação, o que demanda investimentos substanciais em todo o sistema de justiça criminal. No entanto, enquanto a sociedade brasileira continuar priorizando outros gastos públicos, a violência persistirá como uma escolha social tácita, afetando desproporcionalmente os mais vulneráveis.
Romildo Gomes
É inegável que a segurança pública exige investimentos substanciais. A contratação e a manutenção de um efetivo policial adequado, a construção e a gestão de presídios, bem como a implementação de políticas públicas eficazes, acarretam custos elevados para os estados. No entanto, a crença de que o endurecimento de leis penais e o aumento do policiamento ostensivo, por si só, constituem a panaceia para a violência, tem se mostrado não apenas ineficaz, mas também dispendiosa.
A experiência demonstra que o recrudescimento de penas não produz o efeito desejado na redução da criminalidade. Para que a punição fosse realmente dissuasora, seria necessário aumentar a severidade das leis de forma drástica, o que esbarraria na resistência da população, que não está disposta a arcar com os custos dessa medida, tanto os financeiros quanto os sociais.
A sociedade brasileira, de modo geral, prioriza investimentos em áreas como saúde, educação, emprego público e transferência de renda, relegando a segurança pública a um segundo plano. A máxima “bandido que se exploda”, embora possa expressar a frustração e a descrença na capacidade do Estado de lidar com a violência, evidencia a relutância em destinar recursos para a construção de presídios e a contratação de policiais.
Essa escolha social, no entanto, tem um preço. Enquanto a violência não atingir níveis europeus, o Brasil continuará a contabilizar dezenas de milhares de homicídios por ano, com a população mais pobre sendo a principal vítima.
A questão da leniência penal, frequentemente atribuída à “esquerda”, é mais complexa do que parece. O brasileiro comum, independentemente de sua ideologia política, não almeja que seu dinheiro seja utilizado para a manutenção de presídios e a punição de criminosos.
A solução para a violência pública passa por uma mudança de paradigma. É preciso reconhecer que a punição, por si só, não resolve o problema. Estudos indicam que um ano a mais de prisão evita apenas sete crimes, sendo seis contra o patrimônio e um contra a vida [1].
Aumentos marginais na punição geram apenas mudanças marginais no crime. Um estudo aponta que um aumento de 10% na punição resulta em uma diminuição de apenas 6% na criminalidade [1]. Para alcançar resultados significativos, seria necessária uma mudança drástica na forma de punir, o que acarretaria custos exorbitantes. Uma estatística para os EUA estimou que, para diminuir a violência em 80%, seria necessário encarcerar 4% da população, com um custo de 500 bilhões de dólares [1].
A sociedade brasileira precisa decidir se está disposta a arcar com o custo de uma punição mais severa. Enquanto essa decisão não for tomada, a violência pública continuará a ser uma realidade no país, com a população mais pobre pagando o preço mais alto.
A polícia precisa prender e os criminosos devem ser processados, mas é preciso reconhecer que o sistema penal brasileiro é leniente. A solução a longo prazo passa pela mudança das leis e pela conscientização da sociedade sobre a importância da segurança pública.
A violência pública tem solução, mas ela é custosa. A construção de presídios, a contratação de policiais e a implementação de políticas públicas eficazes exigem investimentos significativos.
A sociedade brasileira precisa decidir quais são suas prioridades. Se a segurança pública for considerada essencial, será preciso estar disposta a arcar com os custos. Caso contrário, a violência continuará a ser uma realidade no país, com a população mais pobre sendo a principal vítima.
A realidade se impõe, e a escolha é nossa.
Referência:
[1] Prison and Crime: Much More Than You Probably Think
Clodoaldo Silva
A defesa da leniência penal por setores da esquerda brasileira revela-se contraditória ao seu próprio discurso de proteção aos mais vulneráveis. A realidade demonstra que as principais vítimas da violência são justamente os mais pobres, que não dispõem dos mesmos recursos de proteção que as classes mais abastadas – como carros blindados, segurança privada ou residências em condomínios fechados.
Enquanto os mais privilegiados podem se isolar da violência urbana, a população de baixa renda enfrenta cotidianamente a insegurança no transporte público, nas ruas e em suas próprias residências. As estatísticas são reveladoras: há mais de 15 anos, o Brasil registra aproximadamente 45 mil homicídios anuais, com vítimas e perpetradores majoritariamente oriundos das camadas mais vulneráveis da sociedade.
O argumento de que o endurecimento penal afetaria desproporcionalmente pessoas negras e pobres ignora uma realidade ainda mais cruel: na ausência do Estado, esses mesmos indivíduos acabam mortos em confrontos violentos. A verdadeira justiça social não reside na impunidade, mas na aplicação igualitária da lei, independentemente de classe social ou etnia. O objetivo deve ser garantir que todos os criminosos, sejam ricos ou pobres, respondam por seus atos perante a justiça.
Vale ressaltar que a maioria da população de baixa renda é composta por cidadãos honestos e cumpridores da lei. Portanto, defender a impunidade não protege os pobres – pelo contrário, os expõe ainda mais à violência da qual são as principais vítimas.
Rivaldo Carlos
É provável que, nos próximos 20 anos, os crimes violentos diminuam significativamente no Brasil, atingindo níveis semelhantes aos da Europa. Isso se deve, em grande parte, ao envelhecimento rápido da população brasileira, que apresenta uma taxa de natalidade de apenas 1,65 filho por mulher. Como o crime violento é frequentemente associado à juventude, essa mudança demográfica tenderá a reduzir a incidência de crimes violentos.
Os governantes estão cientes desse fenômeno demográfico e, portanto, é provável que não implementem medidas drásticas para combater o crime. No entanto, é fundamental adotar estratégias preventivas para reduzir a criminalidade antes mesmo de ela ocorrer. Medidas como a instalação de câmeras de segurança, iluminação pública eficaz e policiamento ostensivo e intensivo podem ser eficazes para prevenir crimes e garantir uma sociedade mais segura