O Debate na TV Jornal e a cara ideológica do Recife
Desde a época na famosa Frente do Recife de Pelópidas Silveira, Miguel Arraes, o debate ideológico sempre caracterizou a capital pernambucana como terra da esquerda, chamada também de comunista pela boca dos tradicionais senhores de engenho da zona canavieira. Duramente combatida na época do regime militar, a esquerda se enfraqueceu mas não desapareceu e acabou se expressando pelo grupo dos autênticos do MDB de Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra e Marcos Freire que dominava os votos urbanos mas perdia no estado para as diversas Arenas 1, 2, 3 criadas pelo pacote de abril para que a direita se mantivesse no poder.
Com a redemocratização, o Recife se manteve mais para a esquerda que para a direita até chegar ao seu auge quando o PT conseguiu, através de João Paulo, assumir o poder durante 12 anos na capital. O PSB substituiu o PT na Prefeitura e a vertente esquerdista foi se enfraquecendo ao ponto de em 2020 João Campos ter escondido por completo esse espectro ideológico para conseguir derrotar sua prima Marília, sua adversária e filiada ao PT.
O debate promovido pela TV Jornal esta terça-feira, o primeiro da atual campanha mostrou, com todas as letras, a nova cara ideológica do Recife expressa por uma candidata declaradamente de esquerda, Dani Portela (PSOL), dois representes da direita – Gilson Machado (PL) e Técio Telles (Novo) – e dois candidatos de centro, apesar de adversários, João Campos (PSB) e Daniel Coelho (PSD).
Campos escolhidos, os cinco candidatos convidados a participar do debate, passaram a maior parte do tempo, como era de esperar, a atacar o prefeito João Campos que, do alto dos seus mais de 70% dos votos, se manteve equidistante dos embates. Por maiores que tenham sido as acusações à sua gestão, sobretudo em relação às creches, ele não revidou, se limitando a falar do que fez e ressaltando que os ataques recebidos eram coisa de quem não tinha proposta a fazer e nem trabalho a mostrar. Ganhou o debate? Certamente até porque, a menos de cinco dias da eleição, não há crítica que consiga destruir o favorito, mas saiu arranhado. Para quem nem Lula está mostrando em sua campanha – muito menos o PT – João ouviu calado Daniel lembrar que ele foi chefe de gabinete de Paulo Câmara e que, como membro do PSB, como lembrou Dani Portela, é responsável pelos últimos 12 anos de gestão socialista no Recife e não apenas pelos quatro que está concluindo.
A estratégias de cada um
A ressaltar, entre os candidatos oposicionistas, a figura de Dani Portela, fluente, olhando para a câmara como se estivesse no sofá da sala do telespectador e colocando-se como única lulista da bancada, ela, certamente, teve alcançado seu objetivo de tirar votos de João Campos na famosa militância petista. Gilson Machado, apesar da dicção sofrível, com seu jeito e linguajar próprios, pode também ter tirado alguns votos de João entre os bolsonaristas mais entusiasmados. Daniel, como ele próprio ressaltou na véspera, tinha um objetivo principal na sabatina que era dar argumentos ao eleitor para se afastar do prefeito, ligando-o a Paulo Câmara – ele chegou a lembrar que João foi chefe de gabinete do então governador.
A pressa que aniquila o verso
Um pecado, porém, dominou a oposição e não poderia ser diferente. Queriam todos falar ao mesmo tempo e despejar de uma só vez o que tinham que dizer sobre o prefeito. Mas um primeiro debate já na véspera da eleição não poderia ser diferente. Gilson Machado falou tão rápido que até as frases irônicas que costuma construir e acabam cativando pelo riso se perderam no meio do caminho. Sobre o abandono no centro do Recife, disse ao prefeito: “João a maior cadeia de lojas do centro da cidade é a de “aluga-se” e a segunda de “vende-se”. No final, já sem microfone fez uma observação que provocou uma gargalhada em João Campos: “olha, João, eu ainda vou te ensinar a pescar”.
Júlio Lossio e Fernando Bezerra
Candidato a prefeito de Petrolina, o médico Júlio Lóssio(PSDB) não perdeu a piada ao comentar esta terça-feira uma gravação do ex-senador Fernando Bezerra Coelho, exibida no programa eleitoral do prefeito e candidato à reeleição Simão Durando (União Brasil). Fernando pediu ao povo de Petrolina que ajudasse Simão a se eleger no 1.o turno para que seu filho, Miguel Coelho, pudesse ser Senador representando o município. Lóssio emendou: “Fernando é assim. Pede sempre pelos filhos ao povo de Petrolina e eu pergunto: quando ele vai pedir pelos filhos de nossa população e não pelos seus?”.
Até que ponto o Debate da TV Jornal vai influir no resultado das urnas no próximo domingo?
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