Seria cômico se não fosse trágico: políticos exibem Trump e Maduro na eleição municipal
A tradição política ensina que durante uma campanha eleitoral não é de bom tom atrair para o palanque personagens polêmicos que, apesar de terem um público cativo, carregam com eles uma alta rejeição. Mas neste tempo de polarização está valendo tudo para chamar atenção dos nichos ideológicos que, se não garantem uma vitória eleitoral, podem atrair votos suficientes para, quem sabe, eleições proporcionais futuras.
Desta forma, seria cômica se não fosse trágica, a idéia do ex-ministro Gilson Machado (PL) candidato a prefeito do Recife e da deputada estadual Rosa Amorim(PT), interessada em garantir votos para seus candidatos a vereadores na capital, de exibir como troféus em suas redes sociais imagens ao lado de Donald Trump (candidato a presidente dos Estados Unidos) e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, acusado, internacionalmente, de fraudar a eleição em seu país para se manter no poder.
Tanto Trump quanto Maduro mobilizam, no momento, os países democráticos de todo o mundo interessados em deter o avanço dos dois pelo atraso que representam nos campos da direita e da esquerda. Apesar de não ser ditador como Maduro, Trump é considerado uma ameaça e uma grande incerteza na condução de um dos países mais importantes do mundo. Mas, como se fossem amigos desde criancinha, Gilson exibiu no instagran uma foto com Trump tirada, segundo ele, na casa do ex-presidente onde esteve acompanhando o ex-presidente Jair Bolsonaro. Não seria nada demais, afinal políticos tiram fotos com eleitores que nem conhecem, mas o candidato do PL afirma que Trump lhe disse na ocasião: “vou ajudá-lo como puder nas sua gestão como prefeito do Recife porque vou ser o próximo presidente dos Estados Unidos”.
Já a deputada Rosa Amorim, eleita pelo MST e que esteve neste final de semana na Venezuela a convite de Maduro, segundo afirmou, para conhecer o processo de consulta popular do país, exibiu fotos e vídeos ao lado do presidente venezuelano ao qual afirmou que estava ali levando “o carinho do povo brasileiro”. Rosa adiantou na sua postagem que Maduro conduz “um processo revolucionário pautado na soberania e participação popular”. Em um vídeo ela pergunta ao presidente venezuelano se ele conhece Pernambuco e, sem entender bem o que fora perguntado, ele responde: “Viva Brasil”,” Viva levante popular”.
Sem retorno
Mesmo que Gilson venha a vencer a eleição no Recife, o que neste momento é improvável, e Trump também, o que isto poderia significar para o povo recifense? Praticamente nada. Um presidente norte-americano mantém relações diplomáticas e comerciais com países e não com estados ou municípios. Ainda bem que Gilson não perguntou a Trump se ele conhecia Pernambuco, como fez Rosa com Maduro e ficou sem resposta. Maduro e Trump sabem o nome do Brasil mas não identificam estados, se muito ouviram falar do Rio de Janeiro e São Paulo.
Nichos e votos futuros
Se as fotos dos dois ao lado dos seus ídolos vão ter influência perto do zero nas eleições municipais, onde as pessoas estão mais interessadas em discutir seus problemas do dia-a-dia, certamente que em 2026, quando Gilson (se não se eleger prefeito) e Rosa pensam em concorrer a mandatos de deputados federais, os nichos ideológicos que os sustentam, o bolsonarismo e o MST, podem, quem sabe, garantir alguns preciosos votos aos dois. Afinal, por mais que uma eleição para deputado federal requeira muitos votos para se eleger, não chega perto de uma eleição majoritária onde há muito mais em jogo do que uma foto ao lado de ídolos políticos, sobretudo distantes e carregados de contradições.
Saindo pela tangente
Em Sabatina no G1 esta terça-feira o prefeito João Campos saiu literalmente pela tangente ao ser indignado sobre a possibilidade de concorrer à eleição de 2026: “a política é uma arte dinâmica, muda muito rápido. Não vou tratar aqui de duas eleições. Meu compromisso é cuidar do Recife e vou cuidar para que possa se materializar na eleição o reconhecimento que sinto hoje na cidade”.
Nessa época de redes sociais, que audiência vai ter o horário de propaganda eleitoral gratuita que começa esta sexta, dia 30?
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