Uma conversa sobre mulheres e envelhecimento – Por Marília Viana Berzins*

 

– O caminho ainda é longo para que as mulheres idosas vivam com dignidade –

Idosos são um grupo populacional que cresce significativamente no Brasil e no mundo. E em gerontologia muito se fala sobre a mulher e seu processo de envelhecimento. Escuta-se frequentemente que há mais mulheres que homens neste segmento populacional.

Segundo o Censo 2022, idosos são 15,8% da população brasileira. Em números absolutos, 32.113.490 de pessoas —17.887.737 (55,7%) mulheres e 14.225.753 (44,3%) homens. Recentemente, após uma palestra sobre o envelhecimento no Brasil, fuiabordada por um idoso que me disse estar preocupado com os dados que apresentei. “Quer dizer que as mulheres vivem mais que os homens?”. “Isso mesmo”, afirmei. Mulheres vivem em média sete anos mais. E vários fatores contribuem para isso. Mas o fato de viverem mais não significa que vivam melhor.

As Nações Unidas defendem a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres não apenas como um direito humano inalienável, mas como um princípio central de desenvolvimento cultural, social e econômico. E é no envelhecimento que as iniquidades de gênero se manifestam com mais intensidade.

Não há dúvida de que mulheres idosas representam um grupo da população com maior vulnerabilidade física, maior probabilidade de enfrentar situações de violência e maior dependência em meio a um contexto de carência de serviços sociossanitários. Por exemplo: cerca de 15% das mulheres idosas moram sozinhas. São as mulheres que predominam em instituições de longa permanência. São as mulheres que exercem o papel de cuidadoras familiares—muitas vezes cuidando dos companheiros.

Quando falamos sobre igualdade de gênero, falamos sobre a necessidade de termos políticas públicas para que as mulheres possam alcançar o mesmo lugar e patamar dos homens. É inegável que nas últimas décadas vários avanços foram alcançados na defesa dos direitos das mulheres. Entretanto o caminho ainda é longo para que as mulheres idosas vivam com dignidade e que seus direitos e conquistas sejam respeitados nos espaços da família e na sociedade.

Cabe ao Estado oferecer condições para que esses direitos sejam respeitados.Para isso é preciso haver políticas públicas norteadas pelas ações e princípios de proteção e equidade para empoderar aquelas que socialmente estão à margem das decisões. Só assim serão minimizadas essas desigualdades.

Uma sociedade para todas as idades é o que a ONU preconiza. Mas uma sociedade só será boa para todas as idades quando não permitir que diferenças se transformem em desigualdade.

*Marília Viana Berzins é Doutora em saúde pública pela USP, presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe) – São Paulo, e coordenadora da área de gênero e envelhecimento do Centro Internacional da Longevidade (ILC) no Brasil. Texto compartilhado pelo Blogdellas  da Folha de São Paulo.

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