Antonio Moraes diz que Raquel tem jeito próprio de governar, tem dificuldades com a Alepe mas aposta em um bom 2024
Um dos deputados mais fiéis à governadora Raquel Lyra na Assembléia Legislativa é Antonio Moraes que tem experiência vasta – está no sétimo mandato – é presidente da Comissão de Justiça, a mais importante da casa, e, ao lado do líder do Governo, Izaías Regis, é quem mais frequenta a tribuna para defender a governadora. No final de um ano de turbulências no relacionamento entre os poderes Executivo e Legislativo, em entrevista a este blog, ele debita grande dos problemas ao fato de Raquel ter um estilo próprio de governar, dando preferência aos técnicos – “é a primeira a ter composto um secretariado que não tem pelo menos dois deputados estaduais e federais em sua equipe “ – mas acha que os parlamentares começam a entender isso e em 2024 não só crê na possibilidade da governadora dar mais atenção à sua classe – ela vem de família política e já foi deputada estadual – como imagina que o grande volume de recursos de que ela dispõe vai atrair prefeitos e deputados que precisam de uma melhor atuação do Governo em suas bases e da eleição municipal.
“- No início do Governo ela realmente não estava bem nas pesquisas no interior mas as mais recentes mostram um cenário bem diferente”- afirma. Ele fala ainda no ineditismo de Pernambuco ter eleito duas mulheres, Raquel e Priscila, e explica: “ elas, as mulheres, têm o jeito delas, o tempo delas, e suas próprias maneiras de administrar”. Por fim, Antonio diz que “em 2023, Pernambuco teve o pior orçamento para investimentos de que se tem notícia e em 2024 terá o maior”.
Abaixo a entrevista na íntegra:
P- O ano está terminando, o primeiro da governadora Raquel Lyra, caracterizado por desentendimentos entre a Assembleia e o Palácio das Princesas. A que o senhor atribui esse estado de coisas?
R – Primeiro, a governadora tem uma forma de governar que temos que respeitar. É importante sim, que melhore essa relação com a Casa, mas os deputados precisam entender que é um governo novo, com uma nova forma de fazer gestão e política, e a gente tem que se adaptar a isso. Eu acredito que em 2024 essa relação deva melhorar substancialmente. Mas é preciso ressaltar também que todos os projetos encaminhados pela governadora à Assembleia foram aprovados. Tivemos alguns questionamentos sobre a LDO, mas no restante, tanto a reforma administrativa, no início do governo, como o pacote de projetos enviado agora em novembro, foram aprovados na íntegra.
P- Até agora a governadora não tem uma bancada confortável na Alepe, como tiveram todos os governadores anteriores e o presidente Lula luta dia e noite para conseguir com o objetivo de ter maior tranquilidade para trabalhar. O sr. acha que a governadora vai conseguir corrigir esta situação em 2024?
R – Acho que, passado o primeiro momento – e não é fácil, porque a governadora está fazendo uma gestão em que ela não aproveitou nenhum político com mandato no secretariado, fez um secretariado 100% técnico – isso traria consequências. Porque o normal era ter três ou quatro deputados estaduais e federais fazendo parte da equipe, como aconteceu com os governadores que a antecederam. E também, houve uma política de restrição muito grande à indicação de cargos no governo por parte dos deputados. Tudo isso contribuiu para as dificuldades na relação com a Assembleia Legislativa. Agora, passado um ano, a gente vê que alguns colegas já começaram a entender, e os resultados do governo também já começam a aparecer. Estamos com mais de 20 rodovias sendo recuperadas e mais uma série de outras obras em andamento no Estado. Então, eu acredito que a relação vai melhorar.
P- Apesar dos desacertos entre Executivo e Legislativo, os principais projetos do governo foram aprovados, mas houve vetos derrubados e demora na votação de matérias importantes, causando estresse. O sr. não acha que essas dificuldades acabam prejudicando o Estado e sua população?
R – Acredito que não. Até porque, é um governo que assumiu herdando o pior orçamento para investimentos que já tivemos em Pernambuco. E é bom dizer que o governo estadual passado pode ter culpa, mas houve fatores externos, como a medida do ex-presidente Jair Bolsonaro que tirou o ICMS de telecomunicações, combustíveis e energia, causando uma redução muito grande no orçamento estadual, que ficou totalmente defasado. Eu diria que nos 25 anos que estou na Assembleia, foi o pior orçamento para investimentos que já vi em Pernambuco. Por outro lado, em 2024 vamos ter o maior orçamento de investimentos aqui no Estado. Pernambuco infelizmente está com dificuldades porque descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal em 2022 e este ano foi rebaixado para o Capag 3, de onde havia saído no ano passado. Com isso, fica impedido de contrair empréstimos internacionais. Isso vai trazer algum prejuízo. Por outro lado, houve o aumento na alíquota do ICMS, que passa a valer a partir de janeiro, e a governadora fez um enxugamento grande na máquina pública, além de ter havido uma economia bem acentuada em 2022. Assim, o Estado chega a 2024 com uma capacidade de endividamento ainda muito alta, de cerca de 75%, o que vai salvar o ano. Espero que em 2024 Pernambuco se reenquadre no Capag para que, em 2025, volte a entrar no mercado de captação de recursos. De toda maneira, acho que as coisas estão caminhando bem. A governadora tem assinado, neste final de ano, muitas ordens de serviço para recuperação de estradas, hospitais, quadras esportivas, terrenos para construção de creches. Por isso acredito que 2024 será um ano muito promissor.
P- Como o sr. analisa como presidente da Comissão de Justiça o grande volume de projetos encaminhados ao colegiado pelos deputados em 2023. Isso seria provocado pelas medidas tomadas pelos próprios deputados como foi o direito de legislar em matéria financeira e tributária?
R- Este ano tivemos um grande número de projetos apresentados pelos deputados à Comissão de Justiça, foram cerca de 1.480, e eu diria que no máximo uns cem deles são sobre matéria financeira ou tributária. O restante trata de diversos outros assuntos. E diria mais: nós tivemos este ano uma renovação de quase 50% das cadeiras na Assembleia, e o maior número de projetos foi apresentado pelos novatos. É natural que quando um deputado chega ao Legislativo, no primeiro ano de mandato ele quer mostrar serviço, aí ele carrega na confecção de projetos. Isso sempre aconteceu, mas este ano aumentou bastante. Por isso, não acho que tenha nada a ver com essa questão de poder legislar sobre matéria financeira e tributária.
P – Fala-se que sua aproximação com a governadora é tanta que causa ciúmes entre os colegas. Muitos até o procuram para resolver pendências. Qual o segredo que o sr. utilizou para isso e que os demais deputados não têm conseguido enxergar?
R – Na verdade, é o seguinte: ou você faz parte da base do governo ou fica na oposição. Essa novidade que criaram aqui, de ‘bancada independente’, leva alguns deputados a votarem uma hora com o governo, depois em outra hora, contra o governo. Talvez seja isso. Mas eu não tenho nada mais que qualquer outro deputado tem aqui na Assembleia Legislativa. Agora, eu trabalho nas minhas áreas de atuação política, e inclusive tenho evitado ir a outras áreas onde a governadora está fazendo inaugurações ou assinando ordens de serviço para obras. Além disso, a minha relação com ela é de amizade antiga. Todos sabem que no primeiro turno eu votei em Danilo Cabral, mas onde eu tinha bases políticas que não queriam ou não podiam votar nele, por conta de questões locais, eu pedi para votarem em Raquel. Nós já tínhamos uma relação pessoal anterior, desde quando fomos deputados juntos na Assembleia. E temos hoje uma relação de confiança mútua. É exatamente por isso que acredito muito na oportunidade que o Estado está tendo de ser governado por duas grandes mulheres: Raquel Lyra e a vice-governadora Priscila Krause. Os pernambucanos devem confiar nisso, inclusive considerando que as mulheres têm o tempo delas, suas próprias maneiras de administrar. Por tudo isso, acredito que serão quatro anos muito promissores para Pernambuco.
P – Estamos no final de 2023, as eleições municipais se aproximam. Qual é a expectativa dos prefeitos do interior em relação a receber o apoio da governadora às suas candidaturas ou de aliados?
R – Para qualquer prefeito de cidade do interior é importante receber o apoio da governadora. Primeiro, porque as prefeituras passam por dificuldades muito grandes e há a necessidade de receber recursos do Estado para atender às demandas. A governadora prometeu fazer maternidades, construir novos hospitais, recuperar toda a malha viária do Estado. Tem ainda a proposta dela para as novas creches, que diz que quem apresentar um terreno, ela manda preparar o projeto para construir a creche no interior. E se não tiver o terreno, o governo se coloca à disposição para comprar um espaço. Pernambuco vai ter, em 2024, um orçamento muito gordo de recursos para ajudar os municípios do interior. Então, o apoio da governadora vai ser muito importante. Por outro lado, nas ruas ela tem demonstrado uma boa desenvoltura, fala com todo mundo, não tem dificuldades de caminhar no meio do povo, de responder se, porventura, for indagada sobre qualquer assunto de Pernambuco. Tem demonstrado muita coragem e sensibilidade política no corpo a corpo no interior, e isso tem agradado. No começo, ela estava mal nas pesquisas, mas hoje, nas várias pesquisas que têm sido feitas sobre as disputas municipais, já é possível perceber uma grande mudança nesse cenário.
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