A advocacia 5.0 e a representatividade nos ambientes de negócio – Por Ingrid Zanella *
O direito é uma ciência viva, que exige um aprimoramento constante, dedicação diária, muito estudo e adaptação a advocacia 5.0. Não podemos esquecer que a advocacia é a mola propulsora da evolução jurídica.
O célebre advogado abolicionista Luís Gama já advertia desde o período imperial que “a democracia é como o tempo: não pode existir sem as suas tempestades.” Hoje, em meio às intempéries do mundo moderno, cabe a(o) advogado(a) buscar a legitimidade jurídica, aprimorando o direito à realidade social, evitando interpretações ultrapassadas ou antidemocráticas.
Somos nós que inovamos, que aprimoramos o direito. Legitimamos sua aplicação, abrindo mão de uma teoria dogmática pura, de uma mera subsunção do fato a norma. Queremos mais.
Hoje, falamos de constitucionalização, interpretação conforme à constituição, princípios modernos do direito privado (constantemente exportados para o direito público), como: venire contra factum proprium – dever de mitigar o dano – do credor e do devedor – to quoque – surrectio – superssio – assédio processual entre outros. Ora, afinal, não é sobre a norma, é sobre a sociedade complexa. É sobre nós, nossa diversidade, direitos e bem-estar social.
Nesse estágio, podemos concluir ao menos que: nada substitui a advocacia e a tecnologia é um instrumento a nosso favor, que deve ser amplamente utilizada, mas nada substitui a criatividade, a coragem, a empatia assertiva do(a) advogado(a). Então, fala-se na advocacia 5.0, para tanto precisamos focar em alguns pontos, vamos lá:
1. Nossos problemas mudaram e nós temos que acompanhar, nos adaptar, para fornecer as necessárias resoluções.
2. O acesso à justiça não se resume mais ao ingresso no Poder Judiciário.
3. Universo 5.0 temos novos problemas, novos direitos, que demandam de novas soluções.
Não, ninguém nunca falou que advogar é fácil, na verdade fomos ensinados que “A advocacia não é profissão de covardes”, afirmação do advogado Sobral Pinto (1893-1991). No mesmo sentido, Myrthes Campos, a primeira mulher advogada do Brasil (1875-1965), nos recorda que “devemos ter, pelo menos, a consciência da nossa responsabilidade, devemos aplicar todos os meios, para salvar a causa que nos tiver sido confiada”.
Relembro parte da história do holandês Vicent Van Gogh, um pintor pós-impressionista. Apesar de ter sofrido de ansiedade e de algumas outras enfermidades, segundo relatos históricos, suas obras influenciaram variadas frentes da arte. Provou que as adversidades da vida não impedem a manifestação da arte, nem a realização profissional. Em uma de suas frases, afirmou: “Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco; se perdeu a honra, perdeu muito; se perdeu a coragem, perdeu tudo.”
Vivemos em um universo em nítida expansão de conceitos. O Direito é uma ciência de transformação social, fonte de sentido. Para tanto, é indispensável a dedicação para acompanhar a evolução social, buscar um ambiente representativo, com inteligência emocional, confiança e resiliência. A diversidade e a complexidade das relações exigem um sistema jurídico adaptável, legítimo.
Não há como defender bandeiras, sem servir de exemplo. Com este propósito, desenvolvemos o programa de diversidade e inclusão, em nosso escritório Queiroz Cavalcanti Advocacia. Promover um ambiente acolhedor, seguro e saudável, que respeite as diferenças e apoie a diversidade é um dos nossos deveres.
Não há dúvidas que isso repercute não só na imagem externa do escritório, demonstrando que entendemos a advocacia como um instrumento de transformação social e, assim, devemos ter o compromisso de promover igualdade entre as pessoas, independentemente de gênero, orientação sexual, raça ou algum tipo de deficiência. Internamente, conseguimos identificar os resultados positivos, de acordo com o nosso censo interno, as mulheres ocupam mais de 60% das posições de liderança; 43% dos nossos colaboradores se declaram pretos ou pardos; e a taxa de acolhimento ultrapassa a marca dos 90%.
Em entrevista à Revista ÉPOCA NEGÓCIOS (2022), Júlio Campos, CEO da Compra Agora, afirmou que “Num ambiente inovador, o mais importante é o senso de acolhimento”. Ainda, “Se você quer uma companhia que inova e que cresce, terá muito mais chances de sucesso se construí-la tendo por base a diversidade.” O nível de acolhimento possibilita a formação de líderes, estimula o bem-estar profissional, a criatividade e a inovação, além de retenção de talentos.
Hoje se exige do advogado/a aptidões que possam fazer a diferença, estudamos sobre gestão, compliance; buscamos desenvolver o crescimento horizontal, focar em metas e objetivos, encantar nossos clientes, através de uma empatia assertiva. Nós somos a mola propulsora da adaptação do direito, há um mundo de oportunidades, nós vamos solucionar os problemas complexos dos novos direitos, nós, advogados e advogadas.
Assim, será possível o fortalecimento da advocacia, não há como pensar no crescimento meramente vertical, dentro um ambiente complexo. É necessário fomentar o crescimento horizontal, ampliando a oportunidade e reconhecimento dos que estão ao seu redor; além de possibilitar um ambiente acolhedor e representativo. Afinal, constituem objetivos fundamentais do Brasil, entre outros, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Em um mundo plural, as diferenças são necessárias e devem ser representativas, assim, farão diferença positiva no desenvolvimento econômico e no fortalecimento da advocacia.
*Ingrid Zanella Andrade Campos.
Doutora em Direito pela UFPE Professora Adjunta da UFPE. Sócia do escritório Queiroz Cavalcanti Advocacia.
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