Radicalização ideológica que divide o país macula o futebol, símbolo da união nacional

Ouvida na semana passada sobre como via a Copa do Mundo ser disputada num momento de radicalização no país, a professora Karolinne Hélcias, coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Tiradentes (UNIT- Alagoas) lembrou que nas copas os brasileiros esquecem seus problemas para em coro torcer pelo país, e concluiu: “apesar de estarmos vivendo um momento de divisão… acredito que o mundial possa desviar o foco para que possamos dialogar, construir vínculos e consequentemente resgatar o espírito de torcida pelo país”.
As esperanças da professora podem ir por água abaixo a julgar pela reação dos radicais ao primeiro jogo disputado pelo Brasil. Com Neymar atravessado na garganta desde que apoiou e pediu votos para Bolsonaro, líderes e influencers da esquerda chegaram a comemorar quando, em prantos, ele deixou o campo mancando e chorando. Conforme registrou o jornalista Ricardo Noblat, a equipe de transição que estava assistindo ao jogo” aplaudiu a saída de Neymar” e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que enalteceu e comemorou os gols de Richarlison não deixando de lembrar que ele apoiou Lula, quando indagada sobre a performance de Neymar, deu de ombros “nem o vi”.
O influencer André Janones, que foi responsável pela performance de Lula nas redes sociais transmitiu aos risos o momento de dor de Neymar “machucou agorinha, tava andando e colocou a mão na perna. Agorinha….” registrou mostrando satisfação. Foi a senha para que centenas, talvez milhares de pessoas que são suas seguidoras, debochassem do jogador. O jornal Folha de São Paulo fez um resumo do que se disse de Neymar, um dos maiores ídolos de futebol brasileiro. Com o título “É daí? Não sou médico”, como afirmou um torcedor feliz com a contusão jogador, segundo o jornal, internautas irritados com Neymar o apelidaram de “Neymala ou Soneygador”.
Reação aos ataques veio de gente da esquerda
Mas não faltaram vozes prudentes como o rapper Marcelo D2, um dos maiores entusiastas da vitória de Lula. Ele foi ao twitter , onde tem mais de 1 milhão de seguidores, reclamar dos companheiros “não tô achando legal ficar zoando do Neymar, não sei o que me incomoda, mas me incomoda, não sei se já tô de saco cheio dessa divisão ou porque essa coisa de fazer meme com os outros é coisa de bolsominion…,mas não tô achando graça nisso”. Meme com Neymar foi o que não faltou, inclusive o próprio Noblat que publicou foto de Richarlison fazendo o segundo gol com o voleio transformado em “L” de Lula, mostrou uma foto do padre Kelson com as feições do jogador e a camisa do Brasil e pontuou “esse é o substituto de Neymar”.
Na direita também houve reação
O coordenador do Movimento Brasil Livre, Renato Battista falou da apologia feita a Richarlison e das críticas a Neymar sob o título “Por que a esquerda odeia Neymar”: “o maior pecado cometido por um pobre é não se contentar em ser vítima” – afirmou. “É decidir construir sua vida fora das gaiolas argumentativas da esquerda. Ney é esse desertor e mesmo sem ser perdoado pela legião de viciados ideológicos, ele segue sendo um caso de sucesso irremediável”. Fora da briga ideológica o jornalista Guga Chacra apelou para a racionalidade explicando a contusão do jogador: “é deplorável como os sérvios fizeram falta em Neymar. Ele fará falta à seleção até por ser um imã para atrair marcadores e deixar os outros jogadores mais livres”.
Bivar, o incorrigível
Acostumado a se declarar candidato a presidente sem nenhum apoio e ser obrigado a recuar, como aconteceu na eleição presidencial, o deputado federal Luciano Bivar, que esperava ter o apoio de Lula para ser presidente da Câmara Federal, derrubando Artur Lira, acaba de desistir. Não sem antes se declarar candidato a presidente do Sport. Será que vai vingar ou temos pela frente mais uma desistência?
Pergunta que não quer calar: ainda dá tempo e disposição para afastar a radicalização do entorno da Copa?
Foto: Twitter @blogdonoblat/Tolga Bozoglu/EFE/EPA
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