Equipe de transição de Raquel tira o sono do PSB

 

Na campanha eleitoral deste ano ficou claro que o PSB fez tudo para ganhar a eleição, apesar de sua enorme rejeição. Ignorou Marília Arraes, conseguiu que Lula apoiasse o candidato a governador Danilo Cabral e aceitou, a contragosto, a candidatura da deputada estadual Teresa Leitão ao senado, não porque houvesse problema de relacionamento com ela, mas porque temia, como acabou acontecendo, que o PT, sem estar na vice, cristianizasse Danilo. A direção o apoiou, assim como Teresa, mas as bases votaram em Marília governadora e Teresa senadora, e o resultado foi o que se viu.

O partido ainda torceu para que o candidato de Bolsonaro, Anderson Ferreira, fosse para o segundo turno com Danilo – imaginava que Marília não chegaria tão longe – porque a radicalização entre bolsonaristas e lulistas levaria o partido a mais uma vitória. O que menos se desejava era que, entre os candidatos de oposição, fosse Raquel a escolhida para ir ao segundo turno pois derrotaria Danilo sem dificuldades. Mas quando Danilo não passou na primeira fase da disputa e restaram Marília e Raquel, o PSB declarou apoio a Marília, para atender a pedido de Lula, mas torceu por Raquel nos bastidores. Entre um adversário programático e outro familiar o primeiro seria menos perigoso, por não ter o ranço da briga em família.

A esta altura da transição de governo, no entanto, Raquel e sua vice Priscila Krause não têm dado sossego aos socialistas. Coordenando a transição, Priscila, em uma semana, despachou dois ofícios melindrosos de pedido de explicação. O primeiro para o governador pedindo explicação sobre a criação de um grupo de trabalho com cinco secretários, após o segundo turno, para tratar de projetos estruturantes da administração que vai sair das mãos do governador Paulo Câmara dia 31 de dezembro e outro para o TCE solicitando medida cautelar a respeito da contratação de obra no presídio do Curado autorizada dia 11 último com valor estimado de R$ 84 milhões e previsão de conclusão para 2023 sem que exista previsão orçamentária para tal.

Raquel também entra no jogo

Esta quarta-feira, a governadora eleita Raquel Lyra foi mais fundo na questão. Em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, da Globonews, ela disse está preocupada com “medidas de última hora” tomadas pelo atual governo e citou entre outras “transações judiciais e extrajudiciais e até chamamento de servidores para trabalhar em cima da hora ainda em dezembro sem que se saiba como estão as contas públicas e o orçamento de 2023”. E concluiu “vou estar governando no 1.o dia de meu mandato e preciso ter acesso a todas as informações para conhecer a verdade”.

Carne de pescoço

Na linguagem popular se chama de pessoa com “carne no pescoço” aquela exigente demais. Entre o primeiro e o segundo turno socialistas comentavam nos bastidores que tanto Raquel quanto Priscila estariam nessa categoria e temiam o que estava por vir. Não sem razão. Raquel, como ela mesmo lembrou a Roberto D’Ávila, foi autora da lei estadual que disciplina com rigor a questão da transição entre governos e preconiza a conclusão de obras deixadas pelo antecessor, daí a preocupação com orçamento. Já Priscila passou sua vida pública, nos últimos 16 anos, fazendo oposição ferrenha ao PSB e denunciando erros e omissões de Eduardo Campos, Paulo Câmara e Geraldo Júlio.

PT também temeu

Ainda na campanha, alguns petistas que acabaram votando em Raquel no segundo turno, por reprovarem o comportamento de Marília dentro do partido, comentavam intramuros a preocupação que tinham a respeito do relacionamento do novo governo com a esquerda. Embora achassem que Raquel, que até pouco tempo era do PSB, tivesse mais jogo de cintura, temiam que a vice fosse mais contundente e as relações com o PT azedassem. Até o momento, apesar de cobrarem do PSB, nem Raquel nem Priscila têm demonstrado ter problemas com o PT. A governadora até já se reuniu com os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão e quer audiência com o presidente Lula.

Cabral pai e Cabral filho

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, o político mais famoso que ainda está preso em decorrência da operação Lava Jato, sofreu um baque brutal esta quarta-feira ao saber, na prisão, que seu filho José Eduardo Cabral havia sido preso pela Operação Smoke Free da Polícia Federal que mira a venda ilegal de cigarros. O ex-governador desmaiou e precisou ser socorrido. Segundo a PF a investigação começou em 2020 e Eduardo e seu sócio Adilson Oliveira Filho teriam dado um prejuízo de cerca de R$ 2 bilhões ao erário. Eles são acusados dos crimes de sonegação fiscal, duplicata simulada, receptação qualificada, corrupção ativa e passiva e evasão de divisas.

Pergunta que não quer calar: depois da transição, como vai estar o relacionamento do governo Raquel com a bancada do PSB na Assembleia?

 

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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