Lula ocupa espaço antes da hora e sofre mais cedo o desgaste de quem é governo

 

 

Aproveitando a ausência do presidente Jair Bolsonaro que anda recolhido desde que foi divulgado o resultado da eleição, o presidente eleito Lula da Silva tem agido com desenvoltura na ocupação dos espaços públicos, entre eles a ida à Cop 27, no Egito, onde se encontra desde ontem, e a resposta tem sido mais amarga do que imaginavam os assessores e até alguns jornalistas que o aconselharam a cair em campo logo, para recuperar o tempo perdido.

Nem mesmo a viagem internacional para discussões sobre as mudanças climáticas no mundo, organizada pela ONU, fugiu ao script. Lula cometeu o que está sendo batizado como maior erro para alguém que, como ele, enfrentou processos, envolvendo acusações de corrupção. Aceitou viajar em um jato possante do empresário José Seripieli Junior, dono da Qualicorp, a maior administradora de Planos de Saúde, preso em 2020, acusado de ter doado R$ 5 milhões de forma ilegal para José Serra.

Tradicionalmente todo político eleito para um cargo executivo é poupado pela própria oposição nos primeiros meses de administração quando, presumivelmente, está “arrumando a casa”, como se diz na linguagem corriqueira. Movimentando-se antes da posse, porém, Lula já está tendo que prestar contas do que faz como se estivesse no cargo. Mesmo que consiga progressos na Cop 27, por exemplo, não vai conseguir apagar tudo que se disse na imprensa tradicional e nas redes sociais sobre a “mancada “que deu e a lebre que levantou aceitando carona de Seripieli, quando poderia ter ido de avião de carreira.

Respostas piores ainda

Piores foram as tentativas de explicar o caso. Levantou-se inicialmente a possibilidade de o avião ter sido alugado pelo PT. Depois, como não haviam provas, o vice eleito, Geraldo Alckmin, veio a público esclarecer que tinha sido uma carona mesmo. Ainda esta segunda-feira um dos assessores do futuro presidente Wellington Dias, ex-governador do Piauí, surpreendeu os jornalistas no Roda Viva dizendo que Lula é uma pessoa física, não assumiu o cargo, e por isso tem direito de tomar decisões como essa, sem ser cobrado. Certamente Seripieli não convidou uma pessoa física, mas um presidente para com ele desembarcar na conferência na ONU.

Janja atingida

Da mesma forma que o futuro presidente, sua esposa Janja tem ocupado espaços e ouvido cobranças. Ela disse em entrevista que iria assumir funções estratégicas no Governo e foi criticada pela jornalista Eliane Cantanhede. Embora reconhecendo que Janja, como Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique, tem brilho próprio, Eliane alertou-a de que há incomodo – e isso nem petistas negam – pelo que chamou de “excesso de espaço” da futura primeira-dama. Janja também foi criticada nas redes sociais por ter usado na entrevista do Fantástico uma blusa que custa na loja R$ 2.580,00 e prometido combate à fome.

Reações exageradas

Tanto no caso do presidente como da primeira-dama a reação dos petistas às críticas feitas veio a galope. Eliane foi chamada de machista até por colegas de profissão favoráveis a Lula, sem contar com as pancadas que levou nas redes sociais. No caso de Lula a reação foi na direção da jornalista Mônica Bérgamo, do jornal o Estado de São Paulo. Por ter afirmado, no primeiro momento, que o PT não tinha alugado o avião que levou Lula ao Egito, desmentindo a primeira versão apresentada, foi chamada até mesmo de “bolsonarista”, coisa que ela jamais foi.

Pergunta que não quer calar: quem afinal é o responsável pelos navios à deriva mantidos na Baía de Guanabara há anos?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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