Marília, entre a euforia com o apoio de Lula, e a apreensão com a presença de Câmara

 

A candidata a governadora Marília Arraes passou todo primeiro turno da campanha fazendo oposição ao PSB e ao governador Paulo Câmara. Dividiu-se nesse discurso com mais três candidatos oposicionistas – Raquel Lyra, Miguel Coelho e Anderson Ferreira. O final, já se sabe como foi : ela terminou no empate técnico com todos, apesar de numericamente superior, incluindo o candidato do PSB, Danilo Cabral. No frigir dos ovos, como ensina a linguagem popular, os socialistas tiveram menos de 20% dos votos e a oposição, incluindo Marília, os outros 80%.

Além da oposição ao governo, a candidata do Solidariedade contou com o suporte do apoio indireto de Lula, já que o tempo inteiro falou no seu nome na TV, sem se contaminar pelo desgaste socialista. O melhor dos mundos. Agora no segundo turno e às vésperas de estar ao lado de Lula esta sexta no Recife, Marília teve que aprender cedo que, em política, tem prós e contras. E os contras também estarão com ela no palanque de Lula no centro da capital: Paulo, o prefeito João Campos, Danilo e a direção estadual do PT, que engoliu seco sua rebeldia da pré-campanha.

Na euforia do primeiro momento, a candidata chegou a desdenhar dos socialistas dizendo “sou oposição ao PSB e o PSB e o PT sabem disso”. Ontem, porém, em suas redes sociais, tentou consertar o deslize para responder à fala do governador em Gravatá, anunciando que vai sim subir em seu palanque no segundo turno, em nome da eleição de Lula. Em um post ela escreveu “qualquer divergência política é menor que as ameaças do governo Bolsonaro”, remetendo o fardo para a eleição nacional. De pronto, porém, começou a divulgar apoios do PSB em todo o estado, integrando-se ao ninho de onde saiu para ser candidata.

Comportamento nos debates

Como a candidata vai se comportar nos debates e no programa de TV diante das cobranças de Raquel Lyra, que já voltou a bater no governo de Câmara em seu horário? Danilo, hoje elogiado pelo que aguentou sem perder o fair-play, sabe bem o que passou. Agora a oposição é Raquel, sem qualquer concorrência. “Não vai ser fácil para ela mas acredito que, pela desenvoltura que tem, dará a volta por cima” – comentou, ontem, um deputado estadual socialista. Só o tempo dirá.

Chico Buarque pede por Marília

O cantor Chico Buarque está nas redes sociais da candidata Marília Arraes pedindo votos para ela. Ele fala na gravação das origens pernambucanas , da amizade com Miguel Arraes e agora com Lula, e pede aos pernambucanos que votem em Marília.

Raquel e a neutralidade

Não foi surpresa para ninguém a neutralidade da candidata Raquel Lyra no segundo turno para presidente como também não está sendo o crescimento do movimento Luquel que une os nomes de Lula e Raquel na Internet. Ontem a prefeita do PT de Serra Talhada, e coordenadora da campanha de Lula no sertão, Márcia Conrado criou, ao lado da ex-prefeita que apoiou, a imagem do movimento: uma foto, em que ela fez o “L” de Lula e Raquel o “45” do seu partido, o PSDB.

Outros estados neutralizados

A neutralidade neste segundo turno não aconteceu só em Pernambuco. Mais quatro candidatos a governador, além de Raquel, adotaram essa estratégia. São eles: Pedro Cunha Lima, do PSDB da Paraíba; ACM Neto, do União Brasil, na Bahia; Rodrigo Cunha, do União Brasil, de Alagoas e Eduardo Leite, do PSDB, do Rio Grande do Sul. O objetivo de todos é evitar a nacionalização do pleito nos estados onde Lula é muito forte. Só no Rio Grande do Sul o motivo é o inverso: o bolsonarismo é que é forte e Leite pretende ter votos dos dois lados.

Baixaria cansa

Eleitores de Lula e Bolsonaro estão na Internet reclamando da baixaria da campanha na TV. A queixa é a mesma – a falta de propostas – e o discurso raivoso, que confunde ao invés de ajudar na captação de votos. Na Internet tem sido a mesma coisa. Depois que o ex-presidenciável André Janones assumiu o comando das redes sociais da campanha do PT o nível baixou e se igualou ao da campanha do presidente, tão criticado pela esquerda em outros carnavais.

Pergunta que não quer calar: No primeiro turno Danilo e Marília tiveram juntos 42% dos votos estaduais. Lula teve 65%. Para quem foram os 23% restantes e onde ficam agora?

E-mail: terezinhanunescosta@gmail.com

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