Rejeição: entenda por que o ‘não’ a candidatos pode variar tanto entre pesquisas
Por Dimitrius Dantas —em 28/07/2022
Ninguém gosta de ser rejeitado, muito menos um candidato a presidente. Em época de eleições, o termo rejeição aparece bastante e é um sinal de alerta para campanhas: quanto maior a rejeição, obviamente, menor a chance de sucesso eleitoral. Segundo especialistas, é muito difícil que alguém rejeitado por mais de 45% do eleitorado consiga ser eleito. Mas, apesar de ser tão presente nos resultados de pesquisas eleitorais, empresas de pesquisa chegam a esse número de formas diferentes e, portanto, apresentam resultados divergentes.
Em linhas gerais, representantes das empresas apontam que existem duas formas de chegar ao que é chamado de rejeição: por meio de uma lista ou individualmente. Cada uma é apresentada ao eleitor de forma diferente e, portanto, não chegam aos mesmos números.
— Existem vantagens e desvantagens em cada um: são indicadores diferentes e que tentam mensurar um fenômeno importante, que é a rejeição — afirma Felipe Nunes, da Quaest.
Institutos como o Datafolha, por exemplo, costumam utilizar o primeiro modelo. Nesse caso, cada entrevistado é questionado em quem não votaria de jeito nenhum dentre uma lista de candidatos. O resultado final costuma chegar a um ranking de rejeição. É como uma pesquisa estimulada invertida: em vez de ser questionado em quem votaria, o eleitor é questionado em quem não votaria.
No último levantamento feito pelo instituto, por exemplo, Jair Bolsonaro tinha 55% de rejeição, Lula tinha 35% e Ciro Gomes, 24%. O número total supera 100% porque é comum que o mesmo entrevistado rejeite mais de um candidato e essa opção está sempre disponível.
Outros institutos, como a Quaest e o Ipespe, contudo, adotam uma estratégia diferente. Nesses questionários, o entrevistado precisa responder individualmente sobre cada candidato. No caso da Quaest, por exemplo, 59% dizem conhecer Bolsonaro e não votariam nele, enquanto 26% afirmam que conhecem e votariam, e 11% indicaram que conhecem e poderiam votar. Apenas 2% responderam que não conhecem o presidente. Esses números formam o que especialistas chamam de “patrimônio eleitoral” de cada candidato.
Segundo Márcia Cavallari, CEO do Ipec, instituto fundado por ex-executivos do Ibope e costuma apresentar os dois modelos ao eleitor, não existe certo ou errado, apenas objetivos diferentes.
— No primeiro caso, em lista, o que se levanta é o candidato mais rejeitado. É uma rejeição comparativa entre os que estão naquela lista. No segundo caso, o entrevistado está sendo perguntado individualmente, sendo levado a fazer uma avaliação individual e que reflete o capital político que aquela pessoa construiu durante sua carreira — explica.
A diferença pode ser observada historicamente. Em pesquisas Ibope, realizadas nas últimas eleições presidenciais, as duas questões eram feitas aos entrevistados. Em julho de 2006, quando questionados por lista, por exemplo, 19% diziam que rejeitavam o candidato o então tucano Geraldo Alckmin. Mas quando a pergunta era feita individualmente, 33% afirmavam que não votariam no então tucano de jeito nenhum.
Rejeição não é ódio, diz Lavareda
De acordo com o cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe, a análise individual é particularmente importante para candidatos ainda desconhecidos de grande parte dos eleitores.
— A rejeição que é medida não significa necessariamente que o eleitor tem ódio daquela pessoas. Pode existir uma rejeição por desconhecimento. Basta imaginar uma pesquisa de mercado e questionar as pessoas se elas beberiam uma marca de refrigerante ou cerveja que nunca ouviram falar. Algumas pessoas podem dizer que não conhecem, mas alguns podem rejeitar — afirma.
Esse fenômeno foi observado nas últimas pesquisas feitas pelo Ipespe. A rejeição ao pré-candidato do Avante, André Janones, aumentou à medida que o grau de conhecimento da população sobre ele também cresceu. O mesmo ocorreu com Luciano Bivar, do União Brasil.
— A rejeição não é uma coisa imutável. Pode ter um candidato que não é tão conhecido e tem pouca rejeição, mas que ela cresce durante a campanha. Ou um candidato que era rejeitado e consegue convencer as pessoas do contrário — explica Márcia Cavallari.
Ordem das perguntas também afeta resultados
Outro ponto levantado pelos especialistas é o momento em que a pergunta é feita aos entrevistados. Segundo Lavareda, as primeiras questões sempre afetam as questões seguintes. Datafolha e Ipec, por exemplo, colocam as questões sobre rejeição e potencial de voto no final da pesquisa. A Quaest, por sua vez, inclui a questão entre duas questões de intenção de voto, a espontânea, quando não é apresentada a lista de candidatos, e a estimulada.
Essa diferença provoca uma maior racionalização na resposta de intenção de voto no caso da pesquisa da Quaest. Ou seja: o entrevistado pensaria mais antes de responder a intenção de voto para não cair em contradição com a resposta que deu antes sobre se votaria ou não em cada candidato.
Felipe Nunes, do instituto, afirma que o objetivo é exatamente tentar replicar um pouco do que pode acontecer na campanha.
— Para nós, depois que eu fiz a pesquisa espontânea, que é a única que não tem estímulo nenhum, tudo o que a gente faz é para tentar levar o eleitor para o dia da eleição, que é quando já ouviu todos os nomes, pensar o que acha de cada um e escolheu qual prefere — afirma.
Redação com o Globo. Foto: Divulgação