Por que a Bahia comemora e Pernambuco não?

Revolução Pernambucana de 1817 – Foto: Fundaj

Terezinha Nunes

Este sábado quatro presidenciáveis – Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet – estavam nas ruas de Salvador participando da maior festa cívica da Bahia: a comemoração do 2 de julho de 1823, quando os baianos, como bem define a desembargadora Margarida Cantarelli, ex-presidente do Instituto Histórico estadual, aderiram à Independência brasileira proclamada por Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822. Neste dia, desfiles variados, shows e festas nas residências lembram todos os anos o que os baianos chamam da sua “independência”.

O 2 de julho é a chamada “data magna” da Bahia. Pernambuco tem sua data magna comemorada em 6 de março, quando faz aniversário a Revolução Pernambucana de 1817, que nos tornou uma república independente de Portugal, onde centenas de pernambucanos foram mortos, a mando da Coroa Portuguesa, grande parte assassinados em território baiano, onde os portugueses casavam de batizavam. Aqui quase não há celebração. Não fora o feriado criado pela Assembléia Legislativa, nem sequer a bandeira estadual – a mesma dos revolucionários – estaria sendo erguida na Frente do Palácio das Princesas, como aconteceu este ano, para pouco mais que 100 pessoas.

O que levaria os nossos vizinhos baianos a comemorar uma data menos expressiva que a nossa e Pernambuco não fazer o mesmo com o 6 de março ?. Em primeiro lugar, os baianos, especialistas em marketing – e vemos que isso não é de hoje – criaram um dia da Independência para si. Pernambuco não só deixou no esquecimento da população em geral “a maior revolução brasileira “como definiu ohistoriador Oliveira Lima, o movimento de 1817, como tem um 2 de julho muito mais importante que o baiano e igualmente dele quase não se fala. Nesta data, em 1824, um ano depois da rendição baiana, os pernambucanos estavam unidos à Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, sob a liderança de Frei Caneca, proclamando a Confederação do Equador que, em resposta ao autoritarismo do I Reinado,exigia que D. Pedro convocasse uma Assembléia Constituinte, essencial para que o Brasil virasse uma República.

Se em 1817 a resposta dos portugueses aos pernambucanos foi a matança generalizada, em 1824, da mesma forma, D. Pedro enviou tropas a Pernambuco, prendeu os revolucionários, inclusive Frei Caneca, que, como líder do movimento, foi executado em 13 de janeiro de 1825. O imperador mandou ainda retirar do nosso estado 60% do seu território, a chamada Comarca do São Francisco, anexada à Bahia.

Neste momento em que os ideais democráticos dos pernambucanos, nunca relaxados, deveriam ser exaltados em um Brasil onde a democracia corre riscos, o poder constituído, ao qual caberia comandar nossas celebrações, não tem sequer um plano para recuperar o tempo perdido. Não se pode deixar de exaltar que o governador Paulo Câmara teve a iniciativa de comemorar os 200 anos da Revolução de 1817 e agora criou um grupo para planejar os 200 anos da Confederação do Equador, mas isso é muito pouco. Onde estará o povo nessas festividades? Bem distante, se não é chamado.

O povo só foi convocado para celebrar 1817 no ano de 2007 quando, por projeto de nossa autoria subscrito por todos os deputados estaduais, a Assembléia proclamou o 6 de março como Data Magna (o feriado só viria a ser criado em 2017 por nossa iniciativa junto com o deputado Isaltino Nascimento). Em 6 de março de 2007, a Alepe financiou as comemorações no Recife Antigo com ampla participação popular onde foi encenada a peça de José Pimentel sobre a Revolução e, em seguida um grande show e apresentações culturais populares. Tudo isso foi resumido nos anos seguintes ao hasteamento da bandeira.

 

Terezinha Nunes é jornalista e editora do Blogdellas.

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