Marília: “Deve ir para o banco dos réus quem deixa o povo morrer na lama, desvia dinheiro público e deixa jovens a mercê da violência”

Recifense, mãe de Maria Isabel e Maria Bárbara, Marília Arraes é a primeira colocada nas pesquisas de intenção de voto para governador este ano. Vereadora do Recife por três mandatos é a única mulher deputada federal de Pernambuco na atual legislatura. Foi a segunda mulher da história a ocupar o cargo de segunda secretária da mesa diretora da Câmara dos Deputados e em 2020 foi também a primeira mulher a disputar o segundo turno da eleição para prefeita do Recife.

Rompida com o PSB desde 2016, como faz questão de afirmar – “meu problema não é de agora” – e neta do ex-governador Miguel Arraes, ela teve, neste ano de protagonismo feminino, a coragem de sair do PT, se filiar ao pequeno partido Solidariedade e se lançar candidata, disputando com o PSB e seu candidato, o deputado federal Danilo Cabral, o apoio do ex-presidente Lula que tem em torno de 60% das intenções de voto no estado.

Iniciando a série de entrevistas deste blog com os pré-candidatos a governador, Marília diz que “Pernambuco está bem próximo de virar a chave”, deixando para trás os 16 anos de poder do PSB, confessa que foi “sabotada por dirigentes petistas” mas continua “aliada à militância que é a base do partido” e dispara sobre os que reclamam de seu apoio a Lula quando oficialmente o PT está com Danilo Cabral: “eu tenho uma aliança com Lula que não precisa ser revista nem validada”.

Ela acha que as eleições deste ano “podem ser um divisor de águas no que se refere à participação feminina no centro das decisões”. Vejamos a entrevista de Marília ao Blogdellas:

“A aliança do meu partido, a minha aliança é com o presidente Lula, com quem sempre estive alinhada”.

Blogdellas: Embora você se coloque como oposição ao PSB nesta eleição, o seu partido Solidariedade e a Frente Popular vão estar atrelados ao projeto de Lula já que ambos disputam o apoio do ex-presidente. De que modo você pensa em resolver esta equação de ser oposição ao PSB na estadual e pedir votos para o mesmo candidato a presidente?

Marília Arraes: A aliança de meu partido, a minha aliança é com o presidente Lula, com quem sempre estive alinhada. Caminho junto a Lula não é de hoje e não há nenhuma equação a ser resolvida. Nessa eleição o PSB tem uma aliança com o PT. Na última não tinha… Eu tenho uma aliança com Lula que não precisa ser revista nem validada, a cada eleição. Eu e Lula somos e sempre estivemos do mesmo lado. O lado da democracia, o lado do povo.

Blogdellas: Sabe-se pouco até agora sobre seus planos para um futuro governo. São conhecidas as dificuldades para administrar estados nordestinos onde o povo é muito pobre e os recursos escassos. De que forma você pensa em vencer estes obstáculos e fazer a população crer nos seus propósitos e ter esperança?

Marília Arraes: Tenho falado bastante sobre nosso projeto para resgatar Pernambuco. O foco central de nossa futura gestão, assim como é o do presidente Lula, será o combate radical à miséria. Para isso vamos resgatar e modernizar programas a ações que dialogam com as necessidades das pessoas e sejam exequíveis e não promessas soltas ao vento. Nosso programa de governo está sendo construído a partir de um diagnóstico amplo do estado e em conjunto com especialistas e diversos setores da sociedade. Os estados nordestinos, de forma geral, enfrentam sim muitos problemas, mas Pernambuco está bem próximo de virar essa chave e ao lado do presidente Lula – que sempre tratou nosso estado com muito carinho – tudo vai caminhar mais rápido.

Blogdellas: Além da multiplicidade de candidaturas este ano o que, tudo leva a crer, ensejará um segundo turno, há duas fortes candidatas mulheres a governadoras – você e Raquel Lyra – já tem uma pré-candidata a senadora, a deputada Teresa Leitão e todos os candidatos homem anunciaram que pelo menos um candidato da chapa será mulher. O que houve para as coisas mudarem tão repentinamente em um estado que nunca teve uma mulher como prefeita da capital e muito menos governadora e senadora?

Marília Arraes: A ampliação dos espaços ocupados por nós, mulheres, em todas as esferas de nossa sociedade estão crescendo. Eu, particularmente, luto há muitos anos para que a participação feminina na política seja ampliada e qualificada. Então, vejo esse crescimento da representatividade feminina com naturalidade e alegria.

Blogdellas: Uma das críticas que os adversários lhe fazem é o fato de estar no terceiro partido, o que demonstraria, segundo eles, dificuldade de relacionamento. Como você responde a essa questão?

Marília Arraes: Muito me admira que ainda tenha gente que faça esse tipo de afirmação. Eu estou onde sempre estive , fiel aos meus princípios, a minha escola política, ao lado do povo e de Pernambuco. Eu gosto muito de uma frase de Dom Helder que diz “é preciso mudar muito para continuar sendo sempre o mesmo”. Não há nenhuma dificuldade de relacionamento, muito pelo contrário. Dialogo com todos e a maior prova disso é exatamente o que estamos vendo acontecer neste momento em que lideranças de várias correntes se unem ao nosso projeto para resgatar Pernambuco. Aqui não tem briga e confusão. Acho que quem diz o contrário está falando é de outro palanque.

Blogdellas: No PT existe uma corrente que prega o voto em você para governadora e Teresa Leitão para senadora, mas a cúpula do partido é contra essa associação. Como vai lidar com isso? Lideranças petistas comentam que seu problema no partido sempre foi com o senador Humberto Costa e o seu grupo, o que inclui a turma da Fetape que sempre esteve com Arraes. Os trabalhadores rurais vão entender uma campanha em que você fala em Arraes e a Fetape apoia Danilo?

Marília Arraes: – O PT tem um papel essencial na luta pela democracia e justiça social. Mas aqui em Pernambuco, o PT vem fazendo opções que não podia mais continuar acatando. Inclusive, fui sabotada por muitos dirigentes da Executiva Estadual PT de Pernambuco, como muitos sabem. Porém, continuo com uma excelente relação com inúmeros integrantes do partido, com a militância, que é a alma, a base do PT. É tanto que tenho recebido dezenas de apoios de pessoas que são filiadas, inclusive lideranças partidárias. Fico muito tranquila porque as pessoas sabem que sempre estive do mesmo lado. Não se trata de antagonismo, trata-se de coerência.

Blogdellas: Quando era vivo o ex-governador Eduardo Campos lançou sua candidatura a vereadora. Nessa época os Campos e Arraes estavam juntos. O que motivou a separação em 2020 e agora em 2022? Problema de relacionamento pessoal ou de conceitos políticos e sociais?

Marília Arraes: Eu não trato política como algo pessoal. Nunca fiz e nunca farei. Meu rompimento com o PSB foi muito anterior a 2020. É tanto que me filiei ao PT no começo de 2016. A política é feita de diálogo, palavra e coerência. Eu sigo do mesmo lado onde sempre estive. Em 2020 o que vimos foi uma das mais violentas e baixas campanhas eleitorais de que se tem notícia em Pernambuco.

Blogdellas: Ao formar uma chapa com três deputados federais sua campanha ganhou outro alento. Se conquistar mais um – Eduardo da Fonte – você vai também garantir o terceiro maior tempo na TV. Do contrário vai ter pouco espaço na telinha para mostrar seus projetos. Como pensa em resolver o problema? Até que ponto as redes sociais vão suprir essas dificuldades?

“Não estamos fazendo conta de comercial de TV, estamos construindo um projeto para resgatar Pernambuco”

Marília Arraes: Nossa chapa foi a primeira a ser anunciada de forma completa. Somos um conjunto que agrega forças de todo o Estado, trajetórias de luta e de muitas conquistas já garantidas para Pernambuco e nosso povo. Com relação ao PP e ao deputado Eduardo da Fonte, como tenho dito em outras ocasiões, continuamos dialogando. Não estamos fazendo conta de comercial de TV, estamos construindo um projeto para resgatar o estado. Temos estratégia, temos propostas e temos time.

Blogdellas: O que você mais gosta de fazer no campo do lazer, entretenimento, no tempo de sobra, além da política?

Marília Arraes: Sem dúvida alguma aproveitar minha família, minhas filhas. Isa tem sete anos e Bárbara tem cinco meses. Adoro passar o maior tempo possível com elas. Além disso, gosto de ler, de ver filmes e de aproveitar a companhia de meu marido e amigos.

Blogdellas: Que leitura indicaria aos demais concorrentes neste ano eleitoral?

Marília Arraes: O Brasil, o Povo e o Poder, escrito por Miguel Arraes durante seu exílio na Argélia e publicado em 1968. É uma obra que eu já li e reli dezenas de vezes e que a cada nova leitura me surpreende pela capacidade de se manter tão atual. Nela Arraes resgata o passado histórico do Brasil e aponta os caminhos para um futuro mais justo e promissor.

Blogdellas: Uma série para maratonar e por quê?

Marília Arraes: The Handmaid’s Tale, baseada no livro O Conto da Aia de Margaret Atwood.

Blogdellas: Com quem você não faria aliança em Pernambuco?

Marília Arraes: Com quem não se preocupa e respeita nossa povo

Blogdellas: Hoje no Brasil o que valeria uma CPI?

Marília Arraes: O retorno do Brasil ao mapa da fome

Blogdellas: Quem merece um habeas corpus na política atual?

Marília Arraes: Acho que política não é lugar de habeas corpus.

Blogdellas: Um fato que não tem defesa?

Marília Arraes: Violência e Fake News
Blogdellas: O que faz Marília perder o rumo?

Marília Arares: Não sou de perder rumo e nem a cabeça. Mas posso dizer que me entristece muito ver crianças passando fome, mulheres sendo vítimas de todo tipo de violência e nosso povo na miséria.

Blogdellas: Em Pernambuco atualmente quem o que deveria ir para o banco dos réus?

Marília Arraes: Quem deixa nossa população morrer embaixo de lama e terra, quem desvia dinheiro da Saúde, da Educação… quem deixa a juventude periférica sem emprego, à mercê da violência.

Blogdellas: As mulheres decidirão a eleição de 2022?

Marília Arraes: Elas têm esse poder e cada dia mais isso é uma realidade. Acho que nestas eleições poderá ser um divisor de águas em relação a participação feminina no centro das decisões.

Entrevista por Terezinha Nunes – Fotos-Divulgação  

Foto do acervo familiar: PH Reinaux.