40 anos disseminando a cultura do fazer o bem – Por Ana Flávia Bretas*
A Fundação Terra chega aos 40 anos mantendo os mesmos propósitos de quando surgiu, em 1984, sob o lema “Na Terra para Servir”.
Cravada na porta do sertão nordestino, lugar de um povo por demais sofrido, a Fundação Terra nasceu de um olhar singular. Invisíveis para muitos, relegados por tantos outros, os que viviam à margem de uma vida minimamente digna viram uma grande luz.
A instituição, que surgiu nos arredores de um depósito de resíduos sólidos da cidade pernambucana de Arcoverde, foi criada pelo padre Airton Freire de Lima. Naquela área, no entorno de um grande lixão, cerca de 200 famílias viviam ora quebrando pedras em pedaços para a indústria da construção, ora animais e crianças se misturavam à cata por comida, em busca de sobrevivência. Como resultado dessas condições precárias, registravam-se altos índices de mortalidade infantil, alcoolismo, consumo de drogas e violência.
Na contramão dessa dura realidade, na chamada ‘Rua do Lixo’, tudo começou a mudar com o surgimento de uma pequena escolinha chamada Ping Pong, início do que seria a Fundação Terra. Atualmente, mais de 3 mil famílias são atendidas, seja através de serviços médicos, de assistência social ou na área da educação.
Sempre disposta a fazer mais e melhor por quem precisa, a Fundação Terra tem colaborado muito para a superação da exclusão social, para a promoção de uma vida digna e para a transformação de realidades marcadas por grande injustiça social. Muitas histórias se somaram para chegarmos até aqui, com unanimidade quando a questão é a qualidade e a necessidade dos múltiplos trabalhos desenvolvidos por nossa entidade, com prioridades nas áreas da educação, saúde e no segmento social.
Se antes aquela localidade do lixão era um endereço cruel de uma desumana realidade, hoje é exemplo de como a sociedade pode superar o quase impossível. Importante é ressaltar que esse feito só se torna possível com a prática da solidariedade, com a força do voluntariado, das parcerias, do amor em doação, da união de propósitos de um mutirão de pessoas que partilham suas vidas em favor do bem comum e do cuidado com o próximo.
Podemos não ser ainda o suficiente para enfrentarmos as dificuldades que surgem, em temporadas difíceis como esta longa fase pós-pandemia, quando nos vimos ameaçados de continuar os trabalhos pela grande ausência dos apoiadores permanentes. Por outro lado, a fé e a esperança têm nos acompanhado como traços marcantes, gerando em nós a unidade e a certeza de que juntos podemos sempre mais. Além disso, a continuidade dos projetos espalhados no Recife e Arcoverde, em Pernambuco, e em Maracanaú, no Ceará, onde a Fundação tem sua base de maior empenho, indicam que estamos no caminho certo.
E o mês de setembro nos lembra que precisamos celebrar as inúmeras conquistas da instituição. Muito teríamos a falar dos avanços, que vão desde vitórias mínimas a ações maiores que nos elevam enquanto uma Fundação que tanto faz como entidade civil, católica, sem fins lucrativos e filantrópica, com certificado de utilidade pública. Mais prudente, porém, é nos atermos a glorificar o soberano e verdadeiro Criador desta obra, sem o qual nada existiria. Com os pés fincados na Terra, não podemos deixar de agradecer a ajuda de todos que de alguma forma contribuíram para que chegássemos até aqui. A história do importante trabalho realizado ao longo dos anos, de promoção da justiça social e melhoria da qualidade de vida de comunidades vulneráveis, não seria possível sem a ajuda de muitos, aos quais expressamos nossa profunda gratidão.
Na certeza de que vida e caminho se misturam, participando um da promoção do outro, na dinâmica do movimento, fazemos agora um convite para que muitos ainda se juntem a nós, num mutirão permanente de aliados pela Fundação Terra, servindo aos mais necessitados como ato de fé agradecida, refletindo os passos de quem primeiramente se entregou por amor a cada um de nós. Optar por uma trajetória de cuidado mútuo é ter encontrado, na verdade, o amor efetivo, um sentido para viver.
*Ana Flávia Bretas de Vasconcellos é médica (oftalmologista) e presidente da Fundação Terra.
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